Novidade da grade do canal Viva, Cobras & Lagartos (2006) foi uma das maiores audiências do horário das 19h da Globo na década de 2000. Um sucesso merecido, já que a história criada por João Emanuel Carneiro e estrelada por nomes como Carolina Dieckmann tem inúmeras qualidades.
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O autor mandou bem ao criar uma galeria de personagens movidos por ambição, contrapondo-os aos heróis bem-intencionados. No meio do caminho estava o protagonista Foguinho (Lázaro Ramos), um anti-herói cheio de contradições que conquistou o público.
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Crise na faixa das sete
A Globo vive uma crise em suas novelas das sete. E não se trata apenas de uma crise de audiência. Mas, principalmente, uma crise criativa. Há tempos, as tramas do horário abriram mão da inteligência para apostar em histórias de fácil digestão.
Com exceção de Vai na Fé (2023), que trouxe boas reflexões ao horário e agradou o público, as demais apostas da faixa derraparam na tentativa de entreter a audiência. Tramas como Cara e Coragem (2022) e Fuzuê (2023) revelaram-se grandes bobagens.
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O êxito de Cobras & Lagartos
Em 2006, Cobras & Lagartos estreou com a ingrata missão de elevar a audiência das 19h, derrubada pelo fiasco de Bang Bang. A missão foi cumprida com louvor, já que a trama fechou com 38 de média, segunda maior audiência do horário na década de 2000.
A novela trazia um inspirado João Emanuel Carneiro em sua segunda novela como autor titular. Cobras & Lagartos era um folhetim clássico, baseado na disputa por uma herança – tal qual Família é Tudo -, mas construída sob bases muito sólidas.
O contraponto do “simples” e do “luxo” era mostrado na abertura da novela, e também na divisão entre os personagens do Saara e da loja Luxus. Em meio a vilões carregados nas tintas, como Leona (Carolina Dieckmann), e heróis açucarados, como Bel (Mariana Ximenes), havia personagens que caminhavam no limiar, caso de Foguinho e Ellen (Taís Araújo).
A trama ainda contava com Milu (Marília Pêra), a divertida interesseira que se revelou um dos melhores personagens da novela. Cobras & Lagartos, aliás, apostava forte no nonsense – Ellen, por exemplo, criava uma lhama em casa -, e tinha tiradas engenhosas. Parte delas creditadas ao colaborador Vincent Villari, que foi o criador do vício de Foguinho em profiteroles.
Em falta
Em suma, Cobras & Lagartos é uma novela bem construída, com uma trama elaborada, recheada de personagens divertidos e marcantes e com um senso de humor irônico, nonsense, crítico, por vezes corrosivo. Algo que faz falta às novelas de hoje.
Depois do êxito da trama, João Emanuel Carneiro foi alçado ao horário nobre, merecidamente, e nunca mais voltou ao horário das 19h. De repente, um retorno à faixa poderia ser interessante para tirar as novelas das sete do marasmo atual.
A faixa das sete já acumulou clássicos do humor mais sofisticado, com textos de Silvio de Abreu, Cassiano Gabus Mendes, Carlos Lombardi e o próprio Carneiro. Isso foi substituído por tramas mais simplórias, de humor quase infantil. Falta criatividade e ousadia à nova geração.