O lado N da Netflix: The Following e a irresistível atração do mal

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?”
E o corvo disse: “Nunca mais”.

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(Trecho extraído da tradução de Machado de Assis do poema “O Corvo”, de Edgar Allan Poe)

A história de psicopatas carismáticos pode não ser nada nova: de Jack, o Estripador a Charles Manson, o fascínio exercido por esse tipo de indivíduo violento e perturbado é avassalador. Aplicado à ficção, adquire contornos expressivos.

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“The Following”, produzida pela Warner e exibida na TV americana pela Fox de 2013 a 2015, é uma das séries mais interessantes no catálogo da Netflix nos últimos anos.Como poucas do gênero policial, soube explorar esse magnetismo exercido por assassinos em série, personificado em seu enredo por Joe Carroll (James Purefoy), um professor de Literatura inglesa e profundo admirador da obra de Edgar Allan Poe.

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Adorado pelos alunos, ele se sentiu motivado a tentar a carreira de escritor. Porém, ao ser alvo de inúmeras resenhas desfavoráveis por parte da crítica especializada quando publicou o seu primeiro livro, canaliza a sua raiva de uma forma surpreendente, transformando-a em um vício perverso: assassinar estudantes com requintes de crueldade, sempre inspirado por seu ídolo Poe.

As investigações dos crimes ficaram centralizadas em um agente do FBI: Ryan Hardy (Kevin Bacon). Determinado a solucionar o mistério, se aproxima de Carroll e acompanha a vida dele de perto,entendendo assim o poder de sua oratória, que o tornava acima de qualquer suspeita para muitos. Somente a percepção aguçada permitiu ao policial enxergá-lo como um suspeito.

Ao solucionar o caso e prender Carroll, Hardy acreditava ter cumprido a sua missão. No entanto, o nível de envolvimento com a investigação extrapolou as fronteiras profissionais, tendo resultado em um envolvimento amoroso com a esposa do assassino, Claire Matthews (Natalie Zea). Soma-se a isso o fato de ter alcançado fama considerável, o que gerou um livro sobre toda a experiência que viveu.

Stress, problemas cardíacos e o alcoolismo dificultaram a continuidade de Ryan no FBI. Aposentado, não tinha força mental para buscar o tratamento adequado. Parecia que a sua vida tinha chegado a um esvaziamento de sentido. Mas a cinematográfica fuga do condenado à morte Joe Carroll da prisão (provocada pela surpreendente formação, em pleno cárcere, de um séquito fiel de seguidores) alterou o curso de sua vida, reacendendo em Hardy a chama do investigador que precisava evitar o pior a todo custo.

O FBI o chama para ser um “consultor”, visando ter um apoio no estudo das pistas deixadas após novos assassinatos, mas Ryan é obrigado a assumir a linha de frente de uma guerra sem limites contra aquele que se tornaria o seu inimigo mortal, disposto a satisfazer o desejo de vingança a qualquer preço. Na árdua missão, que incluiu enfrentar hostilidades dentro do próprio FBI, conta com as parcerias fundamentais dos agentes Mike Weston (Shawn Ashmore) e Maxine Hardy (Jessica Stroup), sua sobrinha.

“The Following” teve um movimento de montanha-russa em sua trajetória: começou em alta na primeira temporada, caiu de qualidade na segunda e recuperou-se na terceira, muito embora alguns defendam que não o suficiente para terminar de forma a cumprir as grandes expectativas que gerou em seu início. Contudo, tal avaliação nem de longe inviabiliza a atração que fatalmente exerce sobre os aficionados por histórias que mesclam investigação policial, ação e drama.

JONAS GONÇALVES é um caçador de opções alternativas no catálogo da Netflix. Contatos podem ser feitos pelo Twitter: @JonasGoncalves. Ocupa este espaço quinzenalmente às quartas


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