Muitas coisas podem acontecer na televisão, principalmente quando um programa ou evento é transmitido ao vivo: tudo é possível, mesmo que haja um roteiro a ser seguido. Muitos momentos transmitidos pela televisão, sejam alegres, tristes ou tensos, fizeram o mundo parar e acompanhar de olhos atentos em frente à TV.

Um fato curioso, que foi notícia no mundo inteiro, fez muitos telespectadores de Santa Catarina viverem momentos de medo e expectativa durante um programa esportivo em 12 de maio de 1986.

O apresentador, Roberto Alves, apresentava mais uma edição do programa esportivo Terceiro Tempo, da TV Cultura de Florianópolis, quando o soldado Silvio Roberto Vieira invadiu o estúdio armado.

Antes da invasão, ele abordou dois postos policiais que ficavam perto do estúdio, tomando as armas de outros soldados. Ao todo, ele tinha cinco armas nas mãos.

O debate esportivo tomaria outro rumo naquela noite de 1986.

O soldado estava em tratamento e se dizia desesperado, esperando a promessa do então governador, Espiridião Amin, de um aumento salarial e melhorias para a corporação. Ele não conseguia sustentar seus seis filhos e não aguentava mais a pressão da carreira.

Com apenas uma bala no tambor, ele chegou a fazer uma roleta-russa ao vivo e chamou várias vezes o governador de “vagabundo”. O programa não saiu do ar e os participantes da atração tentavam demover Silvio da ideia de se matar ao vivo. Atordoados, eles tentavam acalmar o soldado a largar as cincos armas que ele tinha e pegar o microfone do programa para contar sua história.

Em prantos, Silvio aceita largar as armas e falar do seu drama, juntando-se aos apresentadores e convidados daquela noite. Enquanto o fato se desenrolava, o governo de Santa Catarina acompanhava o programa e a polícia já se preparava para invadir o estúdio.

Por quase 30 minutos, o debate, antes esportivo, virou uma entrevista sobre a dramática vida de Silvio Roberto Vieira. O soldado tentava se explicar, dizendo que não era ouvido ou reconhecido e se desculpava por sua atitude desesperada, mas ali, para ele, era o único modo de expor todos os seus problemas.

Para surpresa de Silvio, o coronel da Polícia Militar entrou no estúdio. O soldado tentou esboçar algum tipo de reação, mas o coronel sacou a arma e apontou para o rosto dele, dizendo “Tira a mão!! Tira a mão!!”

Os participantes do programa pediram que a polícia não usasse de violência, mas Silvio foi levado para fora do estúdio a força após ser dominado. A imagem do soldado assustado com a arma apontada para o seu rosto rodou o mundo.

Em 2015, quase 30 anos depois do fato, o Jornal do Meio-Dia, da RICTV, afiliada da Record em Florianópolis, localizou o soldado Silvio, que contou detalhes daquela noite. Ele afirma que foi torturado, trancafiado na solitária e foi expulso sumariamente. O ex-soldado teve que procurar outros meios para sustentar sua família, virando jardineiro.

Silvio voltou a estudar e estava pensando em processar o Estado por tudo que passou depois daquele fato transmitido ao vivo.

Veja algumas cenas do programa e a entrevista do soldado ao Jornal do Meio-Dia:


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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor