O Carnegie Hall, em Nova York, é uma das casas de show mais famosas do mundo. Nela se apresentaram nomes como Judy Garland, Frank Sinatra, The Beatles, Charles Aznavou, Edith Piaf, entre outros artistas consagrados.

Brasileiros também se apresentam por lá, como o maestro Antônio Carlos Jobim e João Gilberto. Mas um em especial lotou o Carnegie Hall: um cearense, vindo de Maranguape, trouxe aos Estados Unidos seu humor genial e inteligente.

Estou falando de Chico Anysio.

Em 1981, Chico já era um humorista consagrado e naquele ano ele fazia um programa mensal, o Chico Total, dentro do Sexta Super, na Globo.

Depois de muitos anos fazendo um programa semanal, o humorista sentiu as dificuldades de criar um programa uma vez por mês. Parece fácil, mas não é.

Um de seus filhos, Lug de Paula, estava estudando na universidade de Long Island, em Nova York, e Chico buscava visitá-lo pelo menos quatro vezes ao ano. Em uma dessas visitas, um amigo lhe trouxe uma ideia: uma apresentação no famoso Carnegie Hall. Chico topou e o trabalho em busca de espaço no teatro e público começou.

Ter público não seria difícil, pois, naquela época, muitos brasileiros já moravam nos Estados Unidos. O problema seria a divulgação do espetáculo: anúncios em jornal eram caríssimos e na televisão, bem pior.

A divulgação, portanto, foi no boca a boca, com distribuição de panfletos nos bairros onde os brasileiros moravam.

O espetáculo ocorreria, então, em 3 de novembro de 1981 e a Globo decidiu que seria o último da temporada do Chico Total, em dezembro. Naquela ocasião, Chico fez dois shows: um para a televisão e outro apenas para o público no teatro, pois a censura ainda respirava e palavras de baixo calão não eram permitidas em rede nacional.

A Globo ajudou bastante na realização do espetáculo, bancando o cenário espelhado e as passagens para a equipe. Porém, infelizmente, os técnicos do Chico não puderam ir, pois o consulado negou o visto para eles. A solução para o problema, então, foi contar com a ajuda dos filhos Lug e Nizo Neto.

A emissora também contratou uma produtora para cuidar da gravação do espetáculo. Os diretores globais Zelito Viana, Eduardo Sidney e Walter Lacet foram enviados para cuidar do “corte”, mas não podiam tocar nas teclas do equipamento – todo o trabalho seria feito por um funcionário americano.

O espetáculo, considerado um genial stand-up, foi um sucesso. Em seu livro, Sou Francisco (Editora Rocco, 1992), Chico afirmou que “Apesar de toda a organização, a gravação ficou ótima, e achei muito engraçado o câmera americano que morria de rir sem entender coisa alguma”.

O programa foi ao ar em dezembro de 1981 e Chico fez uma paródia e apresentou Nova York como sua cidade natal, Maranguape. Na apresentação, o World Trade Center virou dois sobrados: Cosme e Damião, a Estátua da Liberdade se tornou a “Estátua do Que me Dera”, vinda da Paraíba, e o Carnegie Hall virou o Carnegão. Tudo isso ao embalo de “Maranguape, Maranguape”, uma versão de New York, New York, pela voz de Cauby Peixoto.

O amigo João Antônio Franz disponibilizou em seu canal o espetáculo na íntegra. Ele, que ajudou nesta coluna, faz um trabalho fantástico na recuperação da memória deste grande gênio do nosso humor.

Com vocês, Chico Anysio, ao vivo no “Carnegão”:


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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor