Um dos maiores sucessos já mostrados na Globo, a novela O Clone, de Glória Perez, foi originalmente exibida de 1º de outubro de 2001 a 14 de junho de 2002.
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A trama substituiu Porto dos Milagres no horário nobre da emissora carioca e contava a história de um amor impossível entre a muçulmana Jade, vivida por Giovanna Antonelli, e o brasileiro Lucas, interpretado por Murilo Benício, que se conheceram no Marrocos.
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Após ter seu irmão gêmeo morto, Lucas teve seus genes congelados, originando a primeira clonagem humana.
Além do tema inovador para a época, a novela foi parcialmente gravada no Marrocos e no Egito e, teoricamente, mostrou um pouco da cultura e da religião muçulmana.
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No entanto, a trama muitas vezes foi acusada de confundir do que esclarecer sobre esse tema, mostrando falsos estereótipos.
Confira exemplos:
Casamento
No período em que se passava a história, embora ainda existisse o casamento arranjado, a mulher tinha o direito de recusar o noivo se este não lhe agradasse.
Além disso, nas cidades grandes, já nessa época, não era possível controlar as “escapadas” dos casais para um convívio mais íntimo.
E ninguém recebia “80 chibatadas” por isso. Casamento com estrangeiros era mais difícil mesmo, mas não impossível. Era necessário que o noivo se convertesse ao Islã.
O sheik Jihad Hassan Hammadeh, do Centro de Divulgação do Islã para a América Latina, reclamou do casamento arranjado da protagonista.
De acordo com ele, após ser declarada divorciada pela terceira vez, a muçulmana pode se casar com quem quiser, e, mais tarde, voltar para o primeiro marido, se vier a se separar novamente e assim o desejar.
“O sheik Jihad disse que essa situação sugere que a mulher seja muito subordinada ao homem, e que o Islã prega a igualdade. Mas eu tirei esta norma (da necessidade de se casar de novo antes de voltar para o primeiro marido) do Alcorão”, disse Glória Perez na época.
Representação das mulheres
As mulheres podem escolher entre usar o véu e a túnica tradicional (djelaba) ou o jeans e a minissaia. Algumas delas não abrem mão das roupas tradicionais em todas as ocasiões, enquanto outras fazem uso das peças ocidentais, usando jeans no dia a dia, por exemplo, e podem vestir um tradicional kaftan numa festa.
Além disso, as mulheres não têm a vida controlada pelos maridos; pelo contrário, quem exerce o poder dentro de casa é a mulher. E é a mãe quem educa as filhas.
Portanto, um homem não checaria a virgindade da noiva pela mancha de sangue no lençol, como mostrado na novela. Até porque, qualquer cirurgião plástico de Casablanca poderia refazer o hímen hoje em dia.
Mustafa Elyemli, conselheiro da embaixada do Marrocos no Brasil, disse que a mulher era representada na trama de Gloria Perez ”como personagem das Mil e uma Noites”.
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”Atualmente temos quatro mulheres ministras e uma dezena de embaixadoras. A mãe está no centro do núcleo familiar marroquino. Lá, o homem é que tem que reclamar seus direitos. Depois da novela já vieram várias vezes me perguntar porque as mulheres são maltratadas no Marrocos”, contou o marroquino.
”No Marrocos, a mulher usa minissaia e escolhe o marido que ela quer. Se bobear, a família da moça é a última a conhecer o pretendente. Poligamia é exceção, uma raridade. Dança do ventre, então, nem se fala. Para começar, é um costume egípcio e turco. Não é como o samba aqui no Brasil”, esclareceu Mustafa, para quem a novela se resumia a mostrar um país exótico.
Para completar, Abdelmalek Cherkaoui Ghazouani, embaixador do Reino de Marrocos no Brasil na época, afirmou, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, que “a novela O Clone foi uma falsificação grosseira, transmitindo imagens medíocres e um simulacro da realidade e da cultura árabe-muçulmana”.
Apesar de todos os protestos dos muçulmanos, a trama de Gloria Perez obteve grande êxito de audiência do início ao fim e atualmente está de volta na telinha da Globo, no Vale a Pena Ver de Novo.