Economia é um assunto complexo e falar sobre ela na televisão parece algo difícil e complicado. Porém, havia um comentarista que tirava de letra esse assunto, e explicava de um modo simples e popular para que todos os telespectadores pudessem entender e até se divertir: estou falando de Joelmir Beting.

Nascido em Tambaú, interior de São Paulo, ele se formou em Sociologia ao lado de Ruth Cardoso, que, futuramente, viria a ser primeira dama. E foi naquela época que Joelmir descobriu o seu talento para o jornalismo, não na área de economia, mas no campo esportivo. Beting escreveu para os jornais Diário Popular e O Esporte, mas sua carreira no esporte foi por pouco tempo. Palmeirense fanático, viu que seria melhor mudar de área após quase se meter em uma confusão com a torcida alvinegra durante um jogo entre Palmeiras X Corinthians.

A expressão “Gol de Placa”, que até hoje muitos locutores e comentaristas usam nas transmissões, é atribuída a Joelmir, que teve a ideia de homenagear um dos belos gols de Pelé com uma placa comemorativa. Essa seria apenas uma das frases marcantes em sua carreira no jornalismo.

Em 1966, foi convidado para trabalhar na Folha de São Paulo, lançando a editoria de Automóveis e também o caderno de Economia. Ficou famoso pela coluna na qual tirava todas as dúvidas do setor econômico, além de criar frases que caíram no gosto popular: “Quem não deve não tem” e “Na prática, a teoria é outra!”.

Inevitavelmente, o rádio seria o próximo caminho do jornalista, que começou a participar de programas da Jovem Pan. Alguns anos depois, migrou para a Rádio Bandeirantes, onde, ao lado do radialista Vicente Leporace, apresentava O Trabuco. Após a morte de Leporace, comandava o Jornal Gente com os locutores Salomão Esper e José Paulo de Andrade.

O sucesso de Joelmir foi crescendo e da Rádio Bandeirantes ele foi para a TV Bandeirantes, local onde apresentou por anos – ao lado do locutor Ferreira Martins – o Jornal Bandeirantes.

Foi ali que Joelmir comentou os rumos da economia e da nossa política, explicando a volta dos exilados e mostrando as Diretas Já. Ele mediou um dos primeiros e mais célebres debates já realizados na TV: candidatos como Jânio Quadros e Franco Montoro disputavam o governo de São Paulo. Além disso, foi um dos apresentadores do Canal Livre.

Em 1985, o jornalista migrou para a Rede Globo e virou o comentarista oficial de economia da emissora. Logo no início de 1986, ele enfrentou seu primeiro grande desafio: explicar ao público como funcionava o Plano Cruzado. Entre tablitas, congelamentos e gatilho salarial, Joelmir fez uma longa maratona mostrando ao expectador os desafios daquele novo pacote econômico. Alguns meses depois, o comentarista teve que explicar o porquê de o novo plano fracassar.

Um dos momentos marcantes na carreira de Joelmir foi a cobertura do Plano Collor. Um dia após a sua posse, Collor fez um pronunciamento e deixava no ar o que de fato seria feito na economia. Após esse pronunciamento, Joelmir e Lillian Witte Fibe tentavam explicar o novo plano com as poucas informações em mãos.

Durante o programa, as informações chegavam e deixavam tanto Joelmir quanto Lillian boquiabertos e sem reação. À tarde, a ministra Zélia Cardoso explicou que haveria um confisco das poupanças, deixando milhões de brasileiros à deriva. Joelmir, ao tentar falar sobre esse assunto, arregalou os olhos e ficou literalmente de boca aberta. Essa imagem foi a síntese da reação do povo brasileiro.

Mesmo com o trabalho árduo, ele separava um tempo para as férias ao lado de sua esposa Lucila e seus dois filhos, Gianfranco e Mauro Beting. Mas o trabalho de um jornalista vive das incertezas e das urgências do momento, principalmente na área econômica. Ao embarcar para Roma, em 1991, veio o anuncio do Plano Collor 2 e seus filhos combinaram em não contar ao pai, que certamente desistiria da viagem. A Globo estava atrás do seu principal comentarista que já estava voando rumo a Itália. Após dois dias de estadia, um brasileiro perguntou para Joelmir a sua opinião sobre o novo plano. Em choque, ele não pensou duas vezes e voltou para o Brasil.

Uma polêmica marcou a sua trajetória: em 2003, ele aceitou fazer um comercial para o Bradesco e os jornais para os quais escrevia – O Globo e O Estado de S. Paulo – criticaram e afirmaram que tal atitude feria os conceitos dos jornais. Em sua última coluna, defendeu-se destacando que o produto, anunciado de forma isenta, tinha boa qualidade e que o jornalismo não deveria ter vergonha da publicidade.

Em 2004, seguiu os passos do colega Carlos Nascimento e, junto com ele, ocupou novamente a bancada do Jornal da Band. Mesmo com a saída de Nascimento, Joelmir continuou na emissora ao lado de Ricardo Boeacht, Mariana Ferrão e Ticiana Vilas-Boas.

Não era apenas no jornal que Joelmir atuava: coapresentava o Canal Livre, gravava comentários para o Band News, era um dos apresentadores do Jornal Gente, participava do Jornal em Três Tempos na Rádio Bandeirantes e, com seu filho Mauro, comandava o Beting & Beting, do Band Sports.

Todo esse intenso trabalho chegou ao fim com sua morte, em 29 de novembro de 2012. Quem fez o anúncio foi o seu filho, Mauro Beting, brilhante jornalista da área esportiva. O momento ficou marcado como um dos mais emocionantes da história da rádio.

Por que era chamado de “Chacrinha da economia”? Beting explicava, de forma didática, sempre pensando no pequeno investidor, falando para a dona de casa e para os trabalhadores. São eles que sofrem com qualquer tipo de pacote econômico, com aumentos no pão, na gasolina e com impostos absurdos. Em momentos difíceis que vivemos, Joelmir Beting e os seus comentários fazem muita falta.


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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor