Adolescente na década de 1980, a música chegava até mim principalmente pela televisão, de Roberto e Erasmo a Caetano, Chico, Ney, Gretchen, Trio Los Angeles, Roupa Nova, Legião, Barão, Titãs e tantos outros. Do sofisticado ao brega, o leque de opções era imenso. Eu não vivi a Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicália e Beatles quando aconteceram, ou porque não era nascido, ou porque usava fraldas.

Nara Leão chegou aos meus ouvidos nos anos 80, da mesma forma que Rita, Clara Nunes, Gal, Elis, Bethânia, Alcione e outras, por programas musicais e de auditório ou pelas novelas. A música de Nara chamava a atenção pela beleza das letras e pela doçura do timbre da cantora. Mas nunca comprei um disco e sequer pensei em shows. Hoje sei que sabia muito pouco de Nara.

Novos fãs

O documentário O Canto Livre de Nara Leão (Globoplay) não apenas resgata a sua carreira como tem o poder de conquistar fãs novos e tardios. Não se trata de uma biografia enciclopédica. Não é objetivo o registro de quando e onde Nara nasceu, nem o mês e ano de sua morte. Dividido em 5 episódios, cada um dedicado a uma faceta da cantora, o doc resgata o seu temperamento controverso: doce e tímido e, ao mesmo tempo, afrontoso e determinado.

A musa da Bossa Nova, como ficou conhecida, a renegou em seguida, peitou a ditadura militar, ajudou a lançar novos talentos, foi da MPB ao samba e música nordestina, enfrentou críticas de amigos (ao gravar um disco com sucessos de Roberto Carlos e Erasmo Carlos), atuou em peças e filmes, desistiu de cantar e voltou a cantar algumas vezes, amou outras tantas, casou e teve filhos.

Inquietude e ousadia

A trajetória de Nara é o tempo todo pontuada e enriquecida com uma edição vibrante de entrevistas, fotos, imagens e áudios de arquivo e depoimentos de amigos e artistas que fizeram parte de sua vida. Quando as imagens são musicadas com a voz da cantora, a atração ganha a amplitude de sua força. As entrevistas de arquivo revelam a inquietude e a ousadia que a doçura de seu timbre, seu tamanho, olhar profundo e sorriso largo escondiam.

O Canto Livre de Nara Leão é um documentário ímpar, carregado de emoção e beleza, capaz de despertar nostalgia inclusive em quem não viveu no tempo de Nara – apesar de terem sido tempos difíceis. Também faz refletir o quanto a música brasileira perdeu com a morte da cantora e derrapou desde então (1989, só para você se situar).

O Canto Livre de Nara Leão: Globoplay, produção musical de Dé Palmeira, edição final de Jordana Berg, fotografia de Dudu Levy, produção de Anelise Franco, colaboração de José Bial, supervisão artística de Pedro Bial e Mônica Almeida, direção de Renato Terra, produção executiva de Erick Bretas e Mariano Boni.

Produção executiva de Erick Bretas e Mariano Boni, pesquisa de texto/personagem de Ricardo Calazans, pesquisa de imagem de Julia Schnoor, Priscila Serejo e Ferdinando Dantas.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor