O Canto da Sereia: uma instigante e deliciosa série que vale a pena rever

17/02/2018 às 10h00

Por: Thallys Bruno
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O Carnaval já acabou, porém, é preciso mencionar que o canal GNT preparou uma programação especial para o mês da folia. A sessão GNT.Doc exibiu os documentários Sambódromo, que retrata os bastidores da construção da Marquês de Sapucaí, palco dos desfiles das escolas de samba cariocas; e Axé – Canto do Povo de Um Lugar, que reúne protagonistas e coadjuvantes do carnaval de Salvador e do axé music em todos os seus momentos (origens, auge e crise). Mas a principal atração desta programação especial é a reprise da primorosa série O Canto da Sereia (2013), exibida durante as quartas-feiras de fevereiro, desde o último dia 7, às 23h.

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Adaptada do romance homônimo de Nelson Motta e escrita por George Moura, Patrícia Andrade e Sérgio Goldenberg, a microssérie dirigida por José Luiz Villamarim (geral) e Ricardo Waddington (núcleo) fez um grande e merecido sucesso em sua primeira exibição, entre os dias 8 e 11 de janeiro de 2013, e garantindo uma reprise em formato de telefilme no especial Luz, Câmera, 50 Anos (2015), em homenagem às cinco décadas de existência da Rede Globo. E tanto êxito se deu pelo seu roteiro denso, instigante e arrebatador, que ganhou vida através de uma direção ágil e um elenco especialmente inspirado.

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O contexto da série envolve a morte de Sereia (Isis Valverde), uma grande estrela do axé music que é assassinada em pleno carnaval. O desfecho trágico de sua vida desperta uma rede de intrigas entre as pessoas que a cercam: a empresária Mara (Camila Morgado), o segurança Augustão (Marcos Palmeira), o ex-namorado e produtor Paulinho de Jesus (Gabriel Braga Nunes), a mãe-de-santo Mãe Marina de Oxum (Fabíula Nascimento), o fanático Só Love (João Miguel), o governador Jotabê (Marcos Caruso) e o marqueteiro Tuta Tavares (Marcelo Médici).

Longe dos palcos, Sereia era uma mulher altamente sedutora, que se entregava aos seus desejos com uma intensidade muito maior do que o normal. A forte energia sexual com que vivia sua vida fazia muitos caírem a seus pés, como Paulinho, com quem viveu uma avassaladora paixão, e que a ajudou a iniciar sua carreira de cantora. Ainda assim, a cantora carregava em seu íntimo uma forte tristeza. Poucos sabiam o que ela realmente sentia. Até mesmo ela mesma se confundia com sua vida.

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O enredo logo chamou atenção pela multiplicidade de possibilidades envolvendo o assassinato da musa do axé, em um perigoso jogo de empurra que se confundia com as investigações policiais. Cada detalhe foi construído de forma inteligente pelos autores, que contaram com a supervisão da veterana Glória Perez (que, na época, escrevia sua pior novela, Salve Jorge) no árduo trabalho. A complexidade de todos os perfis e suas possíveis motivações, sentimentos e dúvidas enriqueceu ainda mais o contexto.

Um detalhe curioso sobre o elenco é que parte dos principais atores haviam acabado de sair de novelas que terminaram apenas poucos dias/meses antes das gravações, ocorridas no fim de 2012. É o caso de Isis Valverde, Marcos Caruso, Camila Morgado e Fabíula Nascimento, vindos do arrasa-quarteirão das nove Avenida Brasil; Marcos Palmeira, egresso do fenômeno das sete Cheias de Charme; e Gabriel Braga Nunes, protagonista de Amor Eterno Amor. E todos conseguiram convencer em papeis bem diferentes dos que haviam acabado de interpretar, resultado de uma excelente preparação de elenco.

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Isis, que havia vivido a divertida piriguete Suelen na novela de João Emanuel Carneiro, embarcou naquele que seria um dos melhores e mais densos papeis de sua carreira, que a alçou a um novo patamar entre as atrizes de sua geração. Se aventurando também no canto, a atriz explorou todas as possibilidades e fez um trabalho inesquecível, marcado pela sensualidade exacerbada de Sereia (diferente do estilo mais escrachado de seu papel anterior) e pelo seu sofrimento interior. Não à toa, repetiu a parceria com os autores e o diretor em Amores Roubados, exibida em janeiro de 2014, na qual também se destacou.

Deve-se ainda elogiar Camila Morgado, outro grande destaque da série, que brilhou como a empresária Mara; Marcos Palmeira, que ganha mais possibilidades quando não interpreta mocinhos; Gabriel Braga Nunes, em um bom momento na pele do sedutor Paulinho; Marcos Caruso, um grande ator dramático, que nos últimos anos tem tido seu talento relegado a papeis cômicos de pouco peso; João Miguel, uma figura conhecida do cinema brasileiro, genial como o fanático Só Love; além de outros nomes competentes como Fábio Lago, Frank Menezes, Marcelo Médici, Zezé Motta e a participação de Margareth Menezes como a delegada que conduz as investigações do crime.

A direção da série é outro ponto mais que positivo. Antes parceiro titular de diretores prestigiados como Rogério Gomes, Dennis Carvalho, Amora Mautner e o próprio Waddington, José Luiz Villamarim firmou de vez o seu nome entre os principais profissionais da Globo no campo da direção artística. O diretor soube dosar o impacto necessário em todas as cenas, especialmente as mais icônicas, como as do assassinato da cantora em plena Praça Castro Alves, no circuito do Campo Grande, um dos pontos mais altos da folia baiana.

Villamarim ainda contou com o auxílio do premiado diretor de fotografia Walter Carvalho, que esteve na elogiada novela Lado a Lado (2012-13); e formou uma vitoriosa parceria com os autores, que ainda rendeu a já citada Amores Roubados, a novela das 23h O Rebu (2014) e que irá se repetir na próxima trama deste mesmo horário, Onde Nascem Os Fortes, que tem estreia prevista para abril.

Tamanho conjunto de qualidades fez com que O Canto da Sereia fosse consagrada por público, crítica e pelo próprio autor Nelson Motta, que se surpreendeu na época com o excelente resultado apresentado. E hoje, 5 anos depois de sua exibição original, o GNT acerta em cheio ao permitir que o público reveja uma das microsséries mais prestigiadas da Globo nos últimos anos, que consagrou a carreira de Isis Valverde e todo o elenco, emocionou e impactou. Vale muito a pena rever esta grandiosa e impecável série.


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