As novelas da Globo já haviam avançado bastante ao mostrar casais homossexuais sem preconceitos. No entanto, os casos recentes envolvendo a censura aos beijos gays em Vai na Fé (2022) e a mudança de rumo de Érico (Carmo Dalla Vecchia) em Amor Perfeito (2023) demostraram uma preocupante regressão.
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Após “amenizar” tramas envolvendo casais homossexuais, agora a emissora deve “evitar” outro tema que não agrada muito ao público mais conservador: o espiritismo. A temática, que já rendeu sucessos históricos, como A Viagem (1994), não deve voltar a ser explorada em novelas tão cedo.
Fim das tramas espíritas
A Globo não pretende voltar a investir no filão do espiritismo nos próximos anos. Sua última produção no segmento foi Espelho da Vida (2018), da autora Elizabeth Jhin. A novelista, aliás, emplacou vários sucessos com a temática, como Escrito nas Estrelas (2010) e Além do Tempo (2015), mas não teve seu contrato renovado em 2020.
Além disso, nos últimos anos, informações sobre um possível remake ou filme de A Viagem circularam pela imprensa especializada. No entanto, qualquer projeto nesse sentido foi devidamente engavetado.
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De acordo com o portal Notícias da TV, o fim das tramas espíritas acontece pelo mesmo motivo que levou a Globo a “amenizar” histórias envolvendo casais homossexuais. A emissora está buscando um público conservador, que se afastou do canal sobretudo durante o governo de Jair Bolsonaro.
Segundo a publicação, Amauri Soares, diretor geral dos Estúdios Globo, teria pedido aos autores que evitassem tramas espíritas. O profissional explicou que, em breve, o catolicismo deixará de ser a religião predominante no país e que, dentro de dez anos, os evangélicos serão maioria. Daí o aceno de Vai na Fé a este público – Sol (Sheron Menezzes), a mocinha, era evangélica.
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Conservadorismo
Por conta disso, Amauri Soares teria colocado, em reunião com os autores, o poder de compra deste público e a importância de conquistá-los. O diretor considera que Vai na Fé foi feliz ao despertar o interesse deste nicho e que apostar em uma trama espírita poderia destruir a conquista da trama de Rosane Svartman.
Tanto que, ainda de acordo com o NTV, uma novela de Thelma Guedes para a faixa das seis acabou vetada pela direção. A autora, que atualmente escreve Terra e Paixão com Walcyr Carrasco, havia apresentado uma trama espírita para a faixa das 18h.
Ao que tudo indica, a “regra” da Globo não é nova. Em entrevista ao site NaTelinha, em agosto deste ano, a autora Elizabeth Jhin falou sobre as dificuldades que vinha enfrentando para emplacar novos projetos.
“Fui uma das primeiras a entrar na lista dos demitidos, seguindo a nova política da Globo de contrato por obra. Acredito que houve uma mudança significativa de rumos na emissora e não havia mais espaço para meu tipo de trabalho”, disse.
“Não pretendo ter nenhum vínculo profissional com a Globo. Aliás, não pretendo mais escrever para televisão. Hoje, o escritor tem que enquadrar sua narrativa a uma série de regras ligadas a ideais políticos. São justos e necessários, mas discordo da maneira como são impostos”, explicou a novelista.
Só no Viva
Ou seja, o público não vai poder conferir tão cedo na tela da Globo produções parecidas com A Viagem, Alma Gêmea (2005), Amor Eterno Amor (2012) e Além do Tempo, tramas que falam de espiritismo e reencarnação.
Tanto que, até hoje, a Globo nunca reprisou uma novela de Elizabeth Jhin. Tramas como Escrito nas Estrelas e Além do Tempo sempre foram muito pedidas para voltar ao ar, mas o canal nunca promoveu uma reapresentação destas obras.
Ao que tudo indica, as tramas espíritas ficarão restritas ao Globoplay e ao Viva, que atualmente reexibe Escrito nas Estrelas.