Entre o fim dos anos 90 e a primeira metade dos anos 2000, o Brasil viveu um ‘boom’ de programas policiais. Em todos os estados da nação, incluindo aqueles mais escolarizados, tinha um para chamar de seu.
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O formato é sempre o mesmo: apresentadores carismáticos que falam em tom exacerbado e mostram reportagens sem efeito e cruas até demais.
Em rede nacional, apenas dois programas ditos policiais estão no ar. O Cidade Alerta, de Marcelo Rezende – hoje feito por Luiz Bacci por conta do câncer do titular – na RecordTV, é um. O outro é o Brasil Urgente, de José Luiz Datena, na Band.
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Mas em nível estadual, os números sempre foram extremamente altos. Segundo a ONG ANDI – Comunicação e Direitos, em 2015, eram mais de 41 programas ditos policiais exibidos nos 26 estados do Brasil e no Distrito Federal.
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Porém, segundo levantamento do TV História desde o último mês de março, que checou todos os programas listados, esse número diminuiu. Agora, são 36 programas policiais pelo país, tendo uma queda de um ano para o outro de 16,1%.
Os motivos são os mais diversos. Audiência, falta de faturamento dessas atrações por conta do conteúdo forte e uma tendência que cada vez mais toma conta das praças locais: prestação de serviço.
A maioria dos programas policiais no ar são versões locais do Cidade Alerta. A RecordTV e suas afiliadas produzem 22 versões da atração fora de São Paulo. Em alguns estados, ele é a única atração policial da TV, como Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Para tentar mais faturamento, mas mantendo o jeito popular, os antigos âncoras policiais assumiram novos formatos. É o caso de Joslei Cardinot, apresentador da TV Jornal, afiliada do SBT em Pernambuco. Até a metade de 2016, ele apresentava o Bronca Pesada, um dos mais tradicionais policialescos da TV brasileira.
Cardinot era tido como um homem brucutu e que tinha fama de mau. A pose rendia bons números. O Bronca Pesada era a maior audiência diária da TV Jornal, com médias entre 9 e 11 pontos na Grande Recife. Porém, não trazia faturamento, fato extremamente determinante em tempos de crise.
Aproveitando uma vontade de Cardinot, que em entrevistas dizia que queria deixar o ramo policial, a TV Jornal/SBT decidiu mudar totalmente o seu perfil na faixa do meio-dia. Em setembro do ano passado, estreou o programa Por Dentro Com Cardinot. Saíram os crimes, imagens fortes e relatos chocantes, e entrou um apresentador mais sereno, leve e uma atração investindo em prestação de serviço e até mesmo culinária.
O resultado, no ar, pareceu um pouco estranho para quem estava acostumado com o perfil antigo. Mas os números continuaram bons: o Por Dentro marca 10 pontos de média e consegue vencer o seu principal concorrente, o Balanço Geral PE, da TV Clube/RecordTV.
A história de Cardinot determina um novo fenômeno: a prestação de serviço. O conteúdo policial tem deixado de permear até mesmo atrações policiais, e o enfoque em trânsito e cidades tem aumentado consideravelmente.
Outro exemplo bem sucedido é o de José Eduardo, o Bocão, âncora da RecordTV em Salvador. Em 2014, o policial Se Liga Bocão saiu do ar e ele assumiu, de forma mais contida e bem calma, o Balanço Geral BA.
O resultado foi acima das expectativas. Entre janeiro e março deste ano, por exemplo, o programa liderou o Ibope na média de seu horário, das 12h às 15h, com 16,2 pontos contra 16,1 da Globo.
O baque tem sido tão forte, que uma executiva da Globo esteve, há duas semanas, na afiliada local na Bahia, para entender os motivos das derrotas, conforme noticiou o TV HIstória recentemente.
A redução, mesmo que não seja significativa, mostra que o momento dos programas policiais pode estar passando. Mas, mesmo assim, a sua importância ainda é enorme.