A trama central de Império sempre foi o ponto alto da novela, que está sendo exibida em edição especial na TV Globo. Porém, com o passar do tempo, a estagnação imperou na obra de Aguinaldo Silva, com o perdão do trocadilho. Dessa forma, pode-se constatar que os núcleos paralelos da trama não funcionaram.

Desde que a novela entrou em sua segunda fase, a família do protagonista se mostrou como o grande trunfo do autor. Os conflitos envolvendo o Comendador José Alfredo (Alexandre Nero), Maria Marta (Lília Cabral), Maria Clara (Andreia Horta), João Lucas (Daniel Rocha), Du (Josie Pessoa), Zé Pedro (Caio Blat), Cristina (Leandra Leal) e Cora (Drica Moraes/Marjorie Estiano) foram atrativos e promoveram uma boa movimentação na história. Mas os enredos paralelos são desinteressantes e muitos se perderam ao longo da história.

Inicialmente, o núcleo envolvendo a bissexualidade de Cláudio Bolgari (José Mayer), a incrível benevolência de Beatriz (Suzy Rêgo) e a homofobia de Enrico (Joaquim Lopes), era responsável por boas cenas e dramas convincentes. No entanto, o romance do ricaço com Leo (Klebber Toledo) não caiu nas graças do público e, aos poucos, toda a trama daquela família foi se diluindo depois que o filho homofóbico abandonou Maria Clara no altar e viajou.

Já os ataques de Téo Pereira (Paulo Betti) em cima da ‘Claudete Hétera’ cansaram rapidamente e o autor inseriu o blogueiro, um de seus personagens preferidos, na trama central.

A história envolvendo Orville (Paulo Rocha), Salvador (Paulo Vilhena) e Carmen (Ana Carolina Dias) foi uma das mais deslocadas da novela. Os personagens sempre ficaram avulsos e o enredo que protagonizam – o esquizofrênico era explorado pelo casal – não rendeu o esperado.

No final, Helena (Julia Fajardo) foi deslocada para fazer par com Salvador, uma vez que a personagem era braço-direito de Maria Marta, mas havia perdido a função e estava sumida.

As situações que cercam a escola de samba também não atraíram. Juju Popular (Cris Vianna) foi um tipo que não conseguiu um bom espaço e o drama de ser trocada pelo marido Orville se sustentou apenas por alguns capítulos; enquanto a sua rivalidade com Xênia (Elaine Mickely) não tinha muito conteúdo para ser explorada. Roberto Bonfim (Antoninho) ficou boa parte da história sem aparecer e somente teve destaque em virtude na época do Carnaval.

Outro núcleo que ficou avulso na novela foi o protagonizado por Reginaldo (Flávio Galvão), mulherengo que tinha três esposas, sendo que a terceira não ficou na trama nem por uma semana.

E o mais surpreendente foi o que aconteceu com a história de Xana Summer e Naná. Aílton Graça e Viviane Araújo começaram roubando a cena e angariando merecidos elogios. Entretanto, os atores foram perdendo destaque ao longo dos meses, e pouco apareceram. A questão da adoção, protagonizada pela dupla mais para o final, não foi desenvolvida a contento e os personagens ficaram esvaziados.

Além deles, também é preciso citar o ótimo par Lorraine (Dani Barros) e Ismael (Jonas Torres), que cresceu nos primeiros meses, mas com o tempo, foi ficando sem função. Ela, ao menos, foi importante na condução do enigma em torno do misterioso Fabrício Melgaço.

O único núcleo paralelo que rendeu alguns bons momentos foi o protagonizado por Severo (Tato Gabus Mendes) e Magnólia (Zezé Polessa). É preciso também mencionar a falta de destaque que Jackson Antunes (Manoel), Juliana Boller (Bianca, filha de Cláudio), Nanda Costa (Tuane) e Karen Junqueira (Fernanda) têm na história.

Por fim, vale mencionar a má condução do triângulo amoroso Vicente/Cristina/Maria Clara. O conflito do trio foi apenas um adendo ao núcleo principal, e o autor se equivocou. Para diminuir a rejeição da mocinha, modificou a personalidade de Clara e transformou o mocinho em um boboca. Em suma: os dois casais não funcionaram.

Império conquistou bons números de audiência na sua exibição original, entre 2014 e 2015, e não há como negar o êxito de Aguinaldo Silva, que conseguiu elevar o Ibope do horário, derrubado pela antecessora Em Família. A trama teve a sensação de dever cumprido neste sentido.

Mas é evidente que o grande acerto da novela foi o seu núcleo central, uma vez que os paralelos claramente não renderam o esperado. Uma pena.

Compartilhar.
Avatar photo

Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor