A trama de Walcyr Carrasco vem fazendo um imenso sucesso no horário nobre, alegrando a Globo. Os índices estão altíssimos e a saga da vingança de Clara (Bianca Bin) está empolgando o público. Toda vez que a mocinha dá o troco em algum inimigo a audiência explode ainda mais, chegando até a picos de 45 pontos. Porém, há um núcleo na história que destoa desse convidativo enredo criado pelo autor: o do salão de beleza.

Inicialmente, o local era administrado por Nicácio (Fábio Lago) e tinha apenas dois personagens: ele e a manicure Ivanilda (Telma Souza). O salão servia para a integração de vários perfis, incluindo os centrais, como Clara e até Sophia (Marieta Severo). Com a mudança de fase, chegou Odair (Felipe Titto), um assistente que provoca ‘suspiros’ em todos, e o estabelecimento acabou tendo Nádia (Eliane Giardini) como sócia. O autor ainda inseriu um perfil que nem estava na sinopse: o afetado Marcel (Andy Gerker), contratado pela esposa de Gustavo (Luis Melo) para rivalizar com Nick.

Ou seja, o núcleo acabou perdendo o objetivo inicial, virando uma parte cômica totalmente dispensável. Sempre houve comicidade durante as conversas no salão, afinal, é um lugar onde fofocas sempre acontecem. Mas, depois das reclamações do famigerado ‘grupo de discussão’ a respeito da falta de ‘leveza’ da trama, o autor exagerou na dose.

A presença constante de Nádia ali, por exemplo, não tem necessidade alguma, principalmente porque o enredo dela é ótimo e um dos êxitos do folhetim, vide a rivalidade com Raquel (Érika Januza) – tendo o racismo como foco – e as fantasias divertidas com o marido; além, claro, das falcatruas envolvendo corrupção.

A entrada de Marcel foi outro erro grave. O perfil é uma caricatura sem a menor graça e o seu bordão “Marcel, que caiu do céu” irrita cada vez que é proferido. Sua rivalidade com Nick também não desperta o menor interesse, assim como as suas investidas em Odair. Fica evidente que o cabeleireiro só foi inserido no núcleo por causa das reclamações sobre a falta de humor.

Para culminar, a manicure é outra que cansa com sua expressão “Pronto, falei”. Ela ao menos forma uma boa dupla com Nicácio, mas acaba protagonizando momentos que pouco acrescentam. O próprio Odair é outro personagem que em nada agrega ao roteiro, a não ser virar alvo das piadinhas dos demais colegas por não ser gay.

A única exceção é Nick. Fábio Lago está perfeito na pele do debochado e íntegro cabeleireiro, defendendo o perfil com competência e de forma delicada, sem cair na caricatura ou no exagero. Suas cenas com Bianca Bin são sempre ótimas e ele deveria sair daquele salão e ir morar com a mocinha. O personagem com certeza cresceria e valeria muito a pena vê-lo distante daqueles tipos cansativos. Aliás, o talento do ator pôde ser observado ainda mais no período de exibição da microssérie Entre Irmãs, onde viveu um temido cangaceiro que nada lembrava o simpático Nicácio. É uma pena que esteja no pior núcleo do folhetim das nove.

O Outro Lado do Paraíso já conquistou a audiência e faz um merecido sucesso, mas o salão de beleza se mostra um equívoco de Walcyr Carrasco. A ausência de situações convidativas é evidente e esse núcleo não faria a menor falta na história se não existisse. Não tem função e nem graça.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor