A missão de reaquecer o horário das 18h em 2017 coube aos estreantes Thereza Falcão e Alessandro Marson, que integraram a equipe de autores badalados da nova geração, como João Emanuel Carneiro e a dupla Duca Rachid e Thelma Guedes. Após seis meses de sua estreia, Novo Mundo sai de cena com muito sucesso, graças à eficiente mistura de folhetim, história do Brasil e doses de aventura, com inspirações nos clássicos filmes de piratas.
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Iniciando-se em 1817, o enredo trouxe a história de amor da jovem escritora Anna Milmann (Isabelle Drummond) e do ator Joaquim (Chay Suede), encontrado em um navio pirata. A inglesa é professora e confidente da princesa Maria Leopoldina da Áustria (Letícia Colin) e acompanhava a comitiva que levava a monarca ao Brasil, onde se casaria com Dom Pedro (Caio Castro) por procuração.
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Durante a viagem, Anna se apaixonou por Joaquim, que se infiltrou no navio para não ser preso e os dois ficaram na mira do oficial inglês Thomas Johnson (Gabriel Braga Nunes), que armou uma emboscada para o mocinho, encontrado posteriormente numa aldeia da Bahia. Quatro anos depois, eles se reencontraram, mas foram vítimas de uma nova armadilha do inglês: ela descobre que Joaquim era casado com Elvira Matamouros (Ingrid Guimarães), uma trambiqueira que se dizia atriz e se aproveitou de uma bebedeira do rapaz para se unir a ele.
Enquanto isso, Leopoldina, encantada com Dom Pedro, participa ativamente da política brasileira da época e ganha prestígio com a população, mas sofre com o comportamento devasso e a infidelidade do príncipe regente, mulherengo incorrigível. A situação piora com a chegada de Domitila (Agatha Moreira), uma paulista que consegue seduzir o monarca e se torna “a favorita” dele, para desespero da austríaca.
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A novela ainda retratou as histórias de Piatã (Rodrigo Simas), irmão adotivo de Anna, em busca de suas origens indígenas; Jacira (Giulia Buscaccio), índia da aldeia onde Joaquim foi encontrado, que se apaixona pelo indígena e luta pelo direito de exercer os mesmos papeis de seus pares homens; os trambiqueiros Germana (Vivianne Pasmanter) e Licurgo (Guilherme Piva), donos de uma taberna e sempre querendo tirar vantagens de seus clientes; a idealista Cecília (Isabella Dragão), que se casa com o jovem jornalista negro Libério (Felipe Silcler) e enfrenta a fúria do pai Sebastião (Roberto Cordovani), maior comerciante de escravos da região; o drama da misteriosa Amália (Vanessa Gerbelli), uma mulher em busca de seu filho perdido – que viria a ser Joaquim; e o romance do solitário Wolf (Jonas Bloch) com Diara (Sheron Menezzes), uma ex-escrava que se casa com ele.
Desde o começo, todos os núcleos se revelaram bastante atraentes e o desenvolvimento das histórias se deu em um ritmo agradável, sem grandes sobressaltos. A direção da equipe liderada por Vinícius Coimbra garantiu que as cenas mais importantes tivessem o impacto que deveriam, em especial as sequências de batalhas nos navios piratas.
A abordagem do contexto histórico do pré-Independência também foi bem-feita, valorizando as presenças de figuras como Dom Pedro, Leopoldina e o ministro José Bonifácio de Andrada e Silva (Felipe Camargo), aliado do regente; culminando na proclamação, exibida justamente no dia 7 de setembro, e ressaltando a importância de Leopoldina e do ministro no processo.
Vários paralelos com a atualidade foram feitos, especialmente sobre corrupção, concentração de renda, liberdade de imprensa e “jeitinho brasileiro”. Ainda se destacou a ótima abordagem da relação escandalosa entre Dom Pedro e Domitila, embora a futura Marquesa de Santos tenha adquirido ares de vilã, muito provavelmente devido à imensa popularidade de Leopoldina.
Uma ressalva deve ser feita para o núcleo de Anna. A mocinha começou como uma mulher segura de si, mas passou um bom tempo confiando cegamente em Thomas, o que a deixou irritante. Posteriormente, ao descobrir o passado do vilão, se tornou vítima de sua fúria, praticamente uma donzela presa no castelo, algo que em nada lembrava sua personalidade original.
O núcleo indígena, através das origens de Piatã e do empoderamento de Jacira, teve papel decisivo nas aventuras recentes de Anna e Joaquim para encontrar seu pai, Edward Milmann (Ney Latorraca), desaparecido por armação do oficial inglês. Apesar disso, faltou uma maior integração com a questão política, o que deixou o núcleo um tanto deslocado do enredo principal. Porém, foram questões que não comprometeram o ótimo saldo do enredo.
Letícia Colin foi, merecidamente, o maior destaque da novela. A promissora atriz viveu o maior papel de sua carreira até aqui e honrou o ótimo conjunto da querida Leopoldina. A popularidade da princesa foi tão grande que ficou impossível não torcer por sua felicidade. Por sua vez, Isabelle Drummond defendeu com competência sua mocinha Anna e Chay Suede mostrou sua evolução interpretando o mocinho Joaquim. A química exposta pelos atores encantou, apesar dos rumos que a trajetória da professora tomou.
Vivianne Pasmanter, através da malcuidada e interesseira Germana, se desfez de qualquer vaidade e apareceu com um visual totalmente desleixado, além de mostrar versatilidade e formar uma dupla parceria com Guilherme Piva e Ingrid Guimarães. Esta última, inclusive, brilhou em um papel totalmente diferente de tudo que já fez. Elvira fez tanto sucesso que os autores desistiram de matar a personagem, transformando a cena numa falsa morte.
O restante do elenco também primou pelas excelentes atuações de Caio Castro (Dom Pedro), Rodrigo Simas (Piatã), Agatha Moreira (Domitila), Rômulo Estrela (Chalaça), Giulia Buscaccio (Jacira), Daniel Dantas (Padre Olinto), Sheron Menezzes (Diara), Jonas Bloch (Wolfgang), Bruce Gomlevsky (Felício), Larissa Bracher (Benedita), Alex Morenno (Francisco), Viétia Zangrandi (Nívea), Leopoldo Pacheco (o pirata Fred Sem Alma, ex-aliado de Thomas), Luana Tanaka (Miss Liu), Dhu Moraes (Idalina), Caco Ciocler (Peter), Vanessa Gerbelli (Amália), Babu Santana (o capanga Jacinto) e Júlia Lemmertz (a viúva Greta); além de ótimas revelações como Isabella Dragão (Cecília), André Dias (o invejoso mordomo Patrício), Roberto Cordovani (Sebastião) e Theo de Almeida Lopes (o pequeno Quinzinho, filho adotivo de Elvira).
A única nota destoante foi Gabriel Braga Nunes, mediano em sua interpretação do vilão Thomas e cujo sotaque chegou a variar por algum tempo. A talentosa Márcia Cabrita chegou a fazer uma participação como Narcisa, esposa de Bonifácio, mas infelizmente se afastou da novela por motivos de saúde.
Com muito mais acertos que erros, Novo Mundo emocionou, divertiu, empolgou e ainda deixou uma mensagem de esperança sobre o futuro do Brasil, apesar da dura realidade que se vive atualmente. O resultado se refletiu em sua audiência, cuja média geral de 24 pontos elevou o ibope do horário. Alessandro Marson e Thereza Falcão fizeram sua estreia com o pé direito e estão de parabéns, junto com toda a equipe e o elenco, pela agradável viagem histórica que conduziram com competência.
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