O sonho de todo ator ou atriz é mostrar versatilidade. Nada pior do que ficar preso a um determinado tipo de personagem. Tanto que as dúvidas a respeito do talento do intérprete até acabam levantadas. E, por ironia do destino, duas reprises escolhidas pela Globo para preencher a grade durante a pandemia do coronavírus (que resultou na interrupção das gravações de todas as novelas inéditas) ajudam a comprovar algo que todos já sabem há um bom tempo: Vivianne Pasmanter é uma atriz completa.



No ar nas reprises de “Novo Mundo”, onde viveu com maestria a assustadora Germana, e de “Totalmente Demais”, onde interpretou a elegante Lili, a intérprete dominou dois perfis completamente distintos com uma facilidade impressionante. E para sua sorte foram dois trabalhos em sequência. O fenômeno das 19h, escrito por Rosane Svartman e Paulo Halm, foi ao ar entre 2015 e 2016, enquanto o grande sucesso das 18h, de Alessandro Marson e Thereza Falcão, encantou o público em 2017. E a atriz raramente emendou trabalhos na televisão, mas a diferença gritante de estilos pesou para aceitar o convite para o folhetim das seis, pouco tempo depois do encerramento das gravações da trama das sete.

A exibição atual das produções ajuda a ressaltar ainda mais as várias facetas de Vivianne. A atriz não estava com sorte em seus últimos papéis antes da Lili. Sempre perfis que prometiam muito e cumpriam pouco. A última personagem realmente relevante era a Maria João, de “Uga Uga”, há 16 anos. A amargurada e sofrida empresária de “Totalmente Demais” chegou em ótima hora.



Era o perfil mais dramático da novela e os autores a presentearam com várias cenas densas e marcantes. Sua química com Humberto Martins, intérprete do inicialmente cafajeste Germano, ficou cada vez maior ao longo dos meses e os momentos de Lili com o filho Fabinho (Daniel Blanco) também resultaram em bons momentos, assim como os embates com Carolina (Juliana Paes).

O maior trauma da dona da Bastille, empresa de cosméticos de primeira linha, era a morte de sua filha, Sofia (Priscila Steinman). A tragédia destruiu seu casamento e a deixou sem motivação. Mas uma das maiores viradas do folhetim é justamente a volta da herdeira, que se mostra uma psicopata perigosa. Todos os desdobramentos do roteiro ressaltam o primoroso desempenho de Vivianne que virou um dos muitos trunfos da produção das sete. Aos poucos, a poderosa mulher vai reencontrando o rumo de sua vida e passando por um processo lindo de amadurecimento emocional. Não é exagero afirmar que a empresária entrou para a galeria de melhores personagens da carreira da intérprete.

Conversei com a atriz em uma coletiva virtual promovida pela Globo sexta-feira passada (08/05) e perguntei se o excesso de mimo da Lili fazia parte da vida real da intérprete com seus filhos — ela tem dois. Vivianne disse entender a proteção exagerada de Lili com Fabinho (Daniel Blanco), mas confessou ser menos intensa. Também questionei se Vivi tinha conhecimento da volta de Sofia e como se preparou para interpretar uma mãe que perdia uma filha. A querida atriz declarou que nunca soube sobre a maior virada da trama e contou da sua participação em um grupo de mães que perderam seus filhos. Ou seja, houve mesmo uma pesquisa intensa sua para a novela.

Já a grosseira, ambiciosa e mau-caráter Germana também merece estar no time de melhores tipos vividos por Vivianne. A riqueza da caracterização da asquerosa personagem de “Novo Mundo” deixou a atriz irreconhecível e era normal uma grande parcela do público nunca identificá-la no elenco. Afinal, a esposa do igualmente nojento Licurgo (Guilherme Piva) tinha dentes podres, cabelos desgrenhados, roupas horríveis e pele maltratada.



Na época, vários telespectadores se chocavam quando descobriam que a dona da taberna era interpretada por uma mulher tão linda. Era um processo demorado e Pasmanter se submetia a todos os procedimentos de maquiagem diariamente para gravar. Mas o sacrifício valeu a pena. Para melhorar ainda mais o conjunto da obra, a intérprete adotou uma gargalhada característica que parecia o grunhido de um porco.

A interesseira fez tanto sucesso ao lado do marido que a dupla foi crescendo até ganhar importância de protagonistas. Não apareciam muito no início, mas logo viraram figuras principais do alívio cômico de um enredo que mesclava com habilidade parte da história do Brasil e o típico melodrama. Vivianne e Guilherme Piva tiveram uma sintonia perfeita e protagonizavam sequências impagáveis.



Aliás, outro bom diferencial de Germana: o humor. A atriz quase sempre era escalada para tipos dramáticos e ganhou uma chance e tanto para deitar e rolar na comédia. O êxito foi tanto que o casal de calhordas voltará em “Nos Tempos do Imperador”, folhetim que contará a história de Dom Pedro II, em uma espécie de continuação do folhetim que abordou a saga de Dom Pedro I (Caio Castro) e Leopoldina (Letícia Colin). Germana e Licurgo voltarão bem mais velhos na nova novela dos mesmos autores de “Novo Mundo”.

A pandemia do coronavírus tem provocado um caos no mundo e as reprises da Globo refletem a gravidade do período, onde todos devem ficar em casa se preservando e salvando vidas. Portanto, é impossível afirmar que há algo de positivo no atual momento. No entanto, a reexibição de “Novo Mundo” e “Totalmente Demais”, pelo menos, serviram para evidenciar a versatilidade de Vivianne Pasmanter e presentear o público com o seu grande desempenho nas duas novelas.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor