Novelas bíblicas e infantis: importância, vantagens e desvantagens

Rei Davi

Paralelamente à Rede Globo, sabe-se que a RecordTV e o SBT são as emissoras mais ativas em produção de teledramaturgia (depois do canal carioca). Nos últimos anos, desde o começo da década de 2010, as emissoras paulistas passaram a investir em segmentos específicos de novelas e séries, com resultados bastante interessantes.

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A emissora da Barra Funda investiu em produções sobre histórias da Bíblia, enquanto a TV de Sílvio Santos honrou sua tradição em programação infantil através das novelas dirigidas para as crianças.

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A Record já havia feito programas cristãos no fim dos anos 90, mas sem a mesma qualidade e repercussão de agora. Entre eles, a minissérie A Filha do Demônio (1997), baseada em testemunhos de frequentadores da Igreja Universal do Reino de Deus e cujas cenas beiravam o bizarro e o trash. Também da mesma época, uma primeira versão da série A História de Ester, feita em 1998.

O atual ciclo bíblico se iniciou em 2010, com a nova versão de Ester, de autoria de Vivian de Oliveira, e rendeu novas séries: Sansão e Dalila (2011), Rei Davi (2012) – a série de maior sucesso -, José do Egito (2013) e Milagres de Jesus (2014). A boa repercussão logo motivou a emissora de Edir Macedo a levar o tema para as novelas, com Os Dez Mandamentos (2015).

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Inicialmente projetada como série, a história de Moisés incomodou produções do horário nobre global, como Babilônia (2015) e, especialmente, A Regra do Jogo (2015-16), que enfrentou a fase de maior êxito da história assinada por Vivian, englobando as dez pragas mandadas por Deus aos egípcios e a abertura do Mar Vermelho.

A novela originou um filme – cuja alta vendagem de ingressos é questionada – e uma nova temporada exibida em 2016, sem a mesma repercussão, apesar da boa audiência. A história de Moisés foi sucedida por A Terra Prometida (2016-17), de autoria de Renato Modesto e focada na vida de Josué; e pela atual O Rico e Lázaro, escrita por Paula Richard. Para o fim do ano, está prevista O Apocalipse, novamente com Vivian de Oliveira e, desta vez, ambientada nos tempos atuais.

O investimento da Record nas novelas bíblicas trouxe um público pouco afeito às novelas, normalmente aquele que rejeita o produto com a alegação de que “só tem baixaria, não tem coisas boas a ensinar”. A emissora da Barra Funda conquistou estes telespectadores que desejavam ver as passagens cristãs na TV e com isto conseguiu resultados bem interessantes.

Outro fator positivo deste segmento é o seu potencial de exportação para outros países, em especial da América Latina. Na Argentina, por exemplo, Os Dez Mandamentos provocou estrago ainda maior sobre A Regra do Jogo, que saiu do ar na rede Telefé em virtude da baixa audiência. Na mesma emissora, A Terra Prometida impôs grandes derrotas à versão latina da série de terror Supermax, coproduzida pela Globo e que já havia sido um fracasso no Brasil.

Em compensação, há fatores que incomodam. A escalação das novelas bíblicas traz elencos irregulares, onde nomes consagrados como Zé Carlos Machado, Denise del Vecchio, Beth Goulart, Lucinha Lins e Paulo César Grande dividem espaço com atores pouco expressivos, como Guilherme Winter, Sérgio Marone, Dudu Azevedo e Igor Rickli.

As caracterizações de época, embora venham evoluindo cada vez mais, dão a sensação de déja vù, como se fossem aproveitadas de outras histórias, tamanha a semelhança. O texto de algumas destas produções, por sua vez, beira o tom doutrinário e deixando o resultado pouco natural.

Atualmente, O Rico e Lázaro observa uma queda em seus índices comparada às tramas anteriores. Parte desta queda, é justo reconhecer, deve-se à saída das emissoras do grupo Simba (RecordTV, SBT e RedeTV) das TVs pagas de São Paulo no fim de março, com o apagão do sinal analógico. Ainda assim, a atual novela cristã tem ficado levemente abaixo da reprise de Escrava Isaura (2004), que ocupou o lugar da ótima Escrava Mãe (2016) e será sucedida na faixa pela medieval Belaventura.

O SBT, a seu modo, iniciou seu atual filão infantil em 2012. Após o fracasso de Amor e Revolução (2011), que retratou a ditadura militar, e a exibição de Corações Feridos, a TV de Sílvio Santos iniciou a produção da versão brasileira de Carrossel, grande sucesso da Televisa, que foi adaptada por Íris Abravanel, esposa do comunicador. O sucesso foi tão grande que deu origem a um seriado (Patrulha Salvadora) e um desenho animado.

A partir daí, novas produções também ganharam espaço: Chiquititas (2013-15), uma nova versão da original argentina (sem relação com a versão clássica de grande sucesso dos anos 90), exibida por dois anos; Cúmplices de Um Resgate (2015-16), trama musical que na versão mexicana ficou marcada por sua troca de atrizes protagonistas; e Carinha de Anjo, agora sob o comando de outra autora – Leonor Corrêa, diretora de TV e irmã do apresentador Fausto Silva, estreando como roteirista.

Ao mesmo tempo, o SBT voltou a investir em produções adultas com a irregular série A Garota da Moto, protagonizada por Christiana Ubach (que dividiu com Fiuk o par romântico principal da temporada ID de Malhação, em 2009-10) e Daniela Escobar; em coprodução com a Mixer.

Em um momento onde a programação infantil é cada vez mais reduzida nas emissoras abertas brasileiras, sendo atualmente mais concentrada na TV paga, o SBT atua como uma força de resistência neste segmento, sendo atualmente a única TV que ainda investe fortemente em programação para as crianças.

As novelas infantis produzidas por lá têm revelado bons nomes, como Larissa Manoela, Maísa Silva, Giovanna Grigio e a pequena Lorena Queiroz (que vive a espevitada Dulce Maria na versão brasileira de Carinha de Anjo). No aspecto audiência, Carinha de Anjo não sofreu tanto com a saída da Simba das TVs pagas e vem se mantendo regularmente com índices em torno dos 10 pontos.

Porém, deve-se frisar que a duração muito longa destas novelas pode causar o iminente efeito de barriga, com capítulos onde praticamente nada acontece. Chiquititas, por exemplo, trouxe impressionantes 545 capítulos, sendo uma das novelas mais longas da TV brasileira (atrás apenas de Redenção, da TV Excelsior). Algo que vai totalmente contra o que se busca atualmente na televisão, que são histórias com menor quantidade de capítulos.

RecordTV e SBT merecem o reconhecimento por sua aposta nas novelas segmentadas. As histórias bíblicas conquistaram um grande público que acredita que a televisão tem que passar coisas boas e se vê representado ao prestigiar as passagens cristãs; enquanto as infantis representam um oásis em meio á ausência de investimentos para este público na TV aberta. Porém, fica a torcida para que as histórias mais “convencionais” também tenham seu espaço nas duas TVs paulistas. O público só tem a ganhar.


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