Há exatamente 28 anos, no dia 6 de setembro de 1993, a novela Olho no Olho iniciava sua trajetória na faixa das sete da Rede Globo, substituindo a mal-sucedida O Mapa da Mina.

Relembre 24 curiosidades sobre a trama de Antônio Calmon:

1 – No primeiro capítulo, sequências gravadas em Roma, sob um calor de 40 graus, tendo o Coliseu e o Vaticano como cenários. Foi lá que Armando (Stenio Garcia) relatou, em confissão ao padre Guido (Tony Ramos), a existência de uma organização criminosa que utilizava poderes de um paranormal para executar atividades ilícitas – especialmente contra os cofres públicos. Armando morre em seguida, defenestrado por Fred (Nico Puig), fazendo com que Guido abandone a batina e volte para o Brasil, intentando desbaratar a quadrilha.

2 – A relação corrupção x forças sobrenaturais estava em voga, em razão dos boatos que associavam o presidente Fernando Collor de Melo, alvejado por um processo de impeachment no ano anterior, a atividades de magia negra.

3 – Parte do elenco jovem recrutado para a novela veio de Sex Appeal, minissérie exibida meses antes, também de autoria de Antônio Calmon e dirigida por Ricardo Waddington. Contudo, Luana Piovani, protagonista de ‘Sex’, ficou de fora: a atriz passava uma temporada no Japão. Em contrapartida, o folhetim guarda o mérito de ter lançado Alessandra Negrini, Patrícia de Sabrit e Rodrigo Santoro na TV.

4 – Por falar em Japão, Calmon abriu mão de um núcleo de personagens nikkey (descendentes de japoneses vivendo no exterior) liderados por um monge budista, que constava na sinopse inicial.

5 – A participação de menores de idade foi vetada pelo autor, que temia entraves jurídicos – como os que proibiram a veiculação de uma cena de violência sexual envolvendo Angel (Luana Piovani, então com 17 anos) em Sex Appeal e o que obrigava Paloma Duarte aguardar um alvará diário para atuar em Renascer, no ar às 20 horas. O Juizado de Menores argumentou que não impedia a discussão de determinados temas; apenas se preocupava com o tom da abordagem.

6 – Olho no Olho foi implantada em apenas 40 dias pelo diretor Ricardo Waddington, em razão do encurtamento da antecessora O Mapa da Mina. Além de Roma, o folhetim passou por Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Parati. Waddington levou para a novela experimentações de Sex Appeal, como vinhetas de imagens pontuadas por acordes de rock.

7 – O enredo exigia esforço extra da equipe de efeitos especiais, a cargo de Américo Issa e Eduardo Marinho, e mecânicos. Paulo Tibau, responsável pela computação gráfica, recriou o edifício Martinelli (de São Paulo) em realidade virtual, já que a construção física – externa do apartamento de César Zapata (Reginaldo Faria) – não permitia planos gerais das câmeras. Criou também o campo de visão de Fred, que traçava coordenadas antes de executar suas maldades; os olhos vermelhos do personagem consumiam 12 horas de trabalho para apenas 15 segundos no ar. Seu oponente do bem, Alef (Felipe Folgosi), vislumbrava “toques do além” com a técnica do chroma-key.

8 – Outros tantos efeitos foram empregados nos apetrechos de segurança do bunker de Atila Zapata (Jorge Dória). Com mania de perseguição, o lunático irmão do vilão César cercou seu ambiente de cercas elétricas, alarmes e lasers.

9 – A abertura, por sua vez, foi concebida de forma quase artesanal. Com gesso, silicone, maquiagem, corpos todo depilados e muitos dias numa mesma posição, os modelos Mauro Jasmin e Silvana Oliveira deram vida às estátuas que se beijavam no final da vinheta – no início desta, Ricardo Macchi, o eterno Cigano Igor de Explode Coração (1995), dispara raios vermelhos pelos olhos, como “representante de Fred”.

10 – A produção de arte, a cargo de Cristina Médicis, buscou inspiração na Rússia, país que mais investia em pesquisas sobre paranormalidade na época. Já o figurinista Lessa de Lacerda optou pelo comedimento no visual de praticamente todos os personagens, exceto no núcleo jovem, restrito à Casa de Pagu, pensionato coordenado pelas irmãs Veridiana (Eva Todor) e Julieta (Cleyde Yaconis): a turminha de vanguarda era adepta de cabelos tingidos, bandanas e estampas.

11 – Com a estreia antecipada de Olho no Olho, o ator Sérgio Mamberti pode ser visto ao mesmo tempo em dois trabalhos inéditos: como o médico Popô, na novela das 19 horas, e como o senador Vitor Freitas, na minissérie Agosto. O ponto em comum: os dois personagens eram corruptos.

12 – Antônio Calmon buscou referências em clássicos do terror no cinema. O nome Fred era uma referência a Freddy Krueger, serial-killer de A Hora do Pesadelo (1984). Em dado momento, Alef vai até Machu Picchu, no Peru, conhecer a caverna em que César encontrou a estátua do demônio-serpente, símbolo de seu maquiavélico poder. Uma vez no local, o rapaz tem uma visão, na qual descobre que César transou com Valquíria (Maria Zilda Bethlem) enquanto possuído pelo demônio, concebendo Fred. A origem do vilão foi inspirada em O Bebê de Rosemary (1968), filme de Roman Polanski.

13 – No terço inicial da narrativa, Calmon apostou na supremacia do nefasto Fred. Ele chegou a se materializar na casa de Bruno (Mário Gomes) para roubar seu revólver e ainda induziu o policial a segurar a arma, com a qual havia assassinado o detetive Lima (Tadeu Aguiar). Fred também induziu a prima Lana (Lyla Collares), que havia descoberto este seu crime, a se afogar na piscina de um clube.

14 – Enquanto isso, Alef, com um histórico de internações em clínicas psiquiátricas, ainda buscava entender o poder de sua mente e as visões que o afligiam – com a que o fez prever a morte do pai Álvaro (Marcos Paulo) em um acidente automobilístico. Nesta “segunda fase”, em que forças do bem e do mal se equilibravam, Alef passou a contar com o auxílio da namorada Cacau (Patrícia de Sabrit), também paranormal.

15 – Esta etapa coincidiu com uma mudança no quadro de colaboradores de Calmon. Considerada pesada por uma parcela do público, Olho no Olho passou por modificações que resultaram na saída de Vinícius Vianna e Tiago Santiago da equipe, que passou a contar apenas com mulheres: Maria Carmem Barbosa e Eliane Garcia se uniram a Lilian Garcia – irmã de Eliane – e Tetê Smith de Vasconcellos.

16 – Patrícya Travassos também deixou a colaboração, passando a integrar o elenco. Duda, sua personagem, disputava o ex-marido Bruno com Valquíria – cujo personalidade vilanesca foi atenuada. Nas primeiras leituras de texto, aliás, Bruno era definido como um ex-surfista e atendia pelo codinome de Fera. Sabe-se lá porquê optou-se por fazer dele um policial, também interessado em desbaratar a quadrilha de César.

17 – Outros personagens integrados ao enredo nesta época foram vividos por Rosita Tomás Lopez (Dinah), Alessandra Negrini (Clara), Petrônio Gontijo (Marco) e Marcelo Gonçalves (Dino).

18 – Ivani Ribeiro, autora da substituta A Viagem, trocou o nome de seu herói, de César para Otávio Jordão (Antonio Fagundes), por conta do vilão de Olho no Olho. Mas manteve o batismo da protagonista, Dinah (Christiane Torloni), já que a personagem de mesmo nome da antecessora era demasiadamente periférica.

19 – Com a reformulação da narrativa, Guido viu seus índices de sofrência subir consideravelmente. Tido como lunático, por conta de uma entrevista a um jornal sensacionalista na qual revelava as ações criminosas de César, o ex-padre passou a vagar pela cidade. Foi encontrado por sua amada Débora (Natália do Vale), tempos depois, adoentado e vivendo com mendigos. O autor também modificou o perfil de Malena (Helena Ranaldi) – sua paixão por Guido foi de platônica a doentia, a ponto dela tentar o suicídio diante da rejeição dele.

20 – Até mesmo a origem de Guido entrou em pauta: Veridiana era a mãe do mentor de Alef, fruto de sua relação com o playboy em decadência Jorginho Lima e Silva (Sérgio Viotti), também envolvido com sua irmã Julieta.

21 – Intérprete de Bob Walter, um diretor de teatro alternativo, Felipe Pinheiro faleceu em 1º de novembro de 1993, aos 33 anos. O ator, hipertenso, sofreu uma parada cardíaca após um quadro de insuficiência respiratória. Seu personagem – inicialmente destinado a Pedro Cardoso, seu parceiro no teatro – acabou encontrando o sucesso nos palcos em uma viagem a Los Angeles, conforme relatos de sua aluna Júlia Grilo (Bel Kutner).

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22 – Thales Pan Chacon, acometido por uma pneumonia, também deixou o elenco da novela. O tipo vivido pelo ator, Patrício Varela, acabou esvaziado com a partida de Bob Walter, com quem rivalizava, para o exterior. Olho no Olho foi a última novela de Pan Chacon na Globo; ele faleceu em outubro de 1997, em decorrência de complicações relacionadas ao HIV.

23 – Ao menos em seus primeiros meses, Olho no Olho cumpriu sua função: a de levantar a faixa das 19h. No início de dezembro, a trama acumulava média de 42 pontos, ante 38 de O Mapa da Mina. Em sua primeira semana de exibição, a novela abocanhou 49% da audiência do horário na Grande São Paulo, 5º programa mais visto da Globo naqueles dias.

24 – No período em que esteve no ar com Mulheres de Areia, a novela das 19h foi superada pelo folhetim das 18h, na Grande São Paulo. De 24 de janeiro até 26 de março de 1994, a situação se repetiu, desta vez com Sonho Meu. As duas tramas empataram na penúltima semana de Olho no Olho (28 de março a 2 de abril de 1994), que voltou a ocupar o segundo lugar no posto de mais vistos da Globo – atrás apenas de Fera Ferida, no às 20h – em seus últimos capítulos (4 a 8 de abril de 1994).

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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.