Se, nos últimos anos, com tramas como Os Dez Mandamentos, Apocalipse e Gênesis, a Record coleciona feitos inéditos e incomoda a Globo, a emissora já investiu anteriormente em histórias bíblicas, entre 1997 e 1998, mas não se deu tão bem.
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Foram exibidas 10 atrações, entre novelas e minisséries, sem a mesma repercussão. Boa parte delas contou com nomes que fizeram sucesso na Globo, como João Vitti (foto acima).
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A maioria teve direção de Atílio Riccó e foi produzida pela VTM especialmente para a Record. As histórias eram baseadas em depoimentos de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus.
A Filha do Demônio
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A que mais chamou a atenção do público e da crítica foi A Filha do Demônio, que chegou a alcançar cinco pontos no Ibope. Era o retorno da Record à teledramaturgia 20 anos após a exibição de O Espantalho, produzida pela TVS, de Silvio Santos.
Com Patrícia de Sabrit, João Vitti e Luiz Carlos de Moraes, a produção foi exibida entre 3 e 7 de março de 1997, às 20h, dentro da faixa Série Verdade. Matéria de Daniel Castro na Folha de S. Paulo de 2 de março informava que a própria emissora assumia que a produção era trash.
“A minissérie é assumidamente ‘mexicana’. Assim como as novelas da Televisa, a produção que marca a volta da Record à teledramaturgia tem atuações carregadas, às vezes grotescas e caricatas, e texto que se sustenta na dicotomia bem versus mal. O esforço pela ‘mexicanização’ acabou deixando a minissérie mais trash do que os dramalhões da Televisa”, explicou.
A Filha do Demônio tinha cenas chocantes, mas, ao mesmo tempo, hilariantes: um bebê acordando no berço com seu corpo todo coberto de minhocas e vermes, uma menina matando um cachorro e bebendo seu sangue (“tão aguado que mais parece suco artificial”), ou o diabo bebendo o sangue de uma moça em ritual satânico (“só que a moça, embora esfaqueada no coração, continua respirando”).
“Era tão ruim que era ótima”
Na mesma Folha de S. Paulo, três dias depois, Marcelo Rubens Paiva destacou que a minissérie “era tão ruim que era ótima”.
“Os cenários são escarnecidos, os efeitos especiais, grotescos, os diálogos, impagáveis. A Record descobriu a pólvora. Com suas limitações, não dá para imitar a Globo. Não há recursos para uma produção sofisticada. Resolveu, então, partir para um estilo próprio, escancarado. Está de parabéns. E engole em seco aquele que imaginava que o gênero havia se esgotado”, disse.
Em entrevista ao jornal O Globo em 8 de outubro de 2000, João Vitti disse que não se arrependia de ter participado de produções tão precárias.
“Precisava trabalhar para sustentar minha família e ganhava um bom dinheiro”, explicou.
Também foram produzidas Olho da Terra, Por Amor e Ódio, O Desafio de Elias e Alma de Pedra.
Primeiras novelas bíblicas
Depois das minisséries, vieram as novelas bíblicas. A primeira foi Janela para o Céu, exibida entre 1 e 31 de outubro de 1997. A produção tinha conhecidos nomes no elenco, como Otávio Muller (foto acima), Mayara Magri, Yara Lins e Lolita Rodrigues.
À revista Contigo de 14 de outubro daquele ano, os autores Paulo Cabral e Lilinha Viveiros declararam que não era obrigatório citar a Universal em todos os capítulos.
“A ideia da religiosidade está embutida. A salvação deles sempre acontece de forma cristã, sem especificar a doutrina”.
Caminhos da Esperança
Em novembro de 1997, foi a vez de Velas de Sangue, com Sandra Barsotti, Ewerton de Castro e Adriano Reys. Os capítulos eram exibidos dentro do programa Caminhos da Esperança, às 20h.
Em dezembro, foi exibida A Sétima Bala, com Roberto Frota, Monique Lafond e Laerte Morrone. Já em janeiro de 1998, Do Fundo do Coração, com Valéria Alencar, Edwin Luisi (foto acima) e Rubens Caribé. Nesta produção, Alexandre Frota atuou como cinegrafista submarino.
A última produção do gênero foi A História de Ester, exibida entre 14 e 25 de dezembro de 1998, com 10 capítulos. Em 1999, a Record deixou essas tramas de lado e produziu Louca Paixão, remake de 2-5499 Ocupado, primeira novela diária da televisão brasileira.
O gênero bíblico foi retomado em 2010, com nova versão de A História de Ester.