Após o sucesso de A Indomada (1997), Aguinaldo Silva voltava ao principal horário de novelas da Globo há exatamente 23 anos. Inspirada em O Rei Lear, de Shakespeare, Suave Veneno prometia uma virada a cada 30 dias, mas acabou afugentando o telespectador, detonando o Ibope da emissora.

Suave Veneno

A trama sucedeu a Torre de Babel, que, após um início muito complicado, decolou após a explosão do shopping e diversas alterações feitas na história, chegando a ultrapassar a marca dos 60 pontos nos episódios finais.

Com nomes como José Wilker, Letícia Spiller e Irene Ravache no elenco, Suave Veneno iniciava sua trajetória no dia 18 de janeiro de 1999.

Leticia Spiller

O primeiro capítulo marcou 43 pontos, índice considerado satisfatório pela Globo. Os problemas começaram a seguir: no dia 23 de janeiro, a produção marcou 31 pontos, mais baixo índice de uma novela das oito da emissora até então. A média da primeira semana ficou em 36,5 pontos, contra 39 dos sete primeiros capítulos da antecessora.

À Folha de S.Paulo, Silva disse que sempre foi complicado estrear novelas em janeiro. Por ele, a trama começaria somente após o Carnaval.

“Houve uma queda de cinco pontos no total de televisores ligados na Grande São Paulo na semana de estreia da minha novela. Mais de 750 mil pessoas saíram de São Paulo na semana retrasada”, disse.

“Aconteceu a mesma coisa com Pedra Sobre Pedra. Estreamos antes do Carnaval, a audiência inicialmente foi muito mal das pernas, a ponto de haver certa crise, e, depois, a novela cresceu. Pedra é das quatro novelas mais vistas em todos os tempos, depois da década de 70”, enfatizou. “Se houver uma perda, acredito que nas próximas duas semanas passaremos essa turbulência. E, depois, tenho uma carta na manga”, completou.

Modificações

Suave Veneno

Mas o tempo passou e a novela não decolou. Os diretores gerais Daniel Filho e Ricardo Waddington modificaram o ritmo da narrativa e o autor foi obrigado a reescrever diversos capítulos para não comprometer o sentido da história.

Clarisse (Patrícia França) acabou morta misteriosamente; Maria Regina (Letícia Spiller), era motivo de piada para o público e o Casseta & Planeta Urgente; Inês/Lavínia (Glória Pires) passou por maus bocados e virou camelô; Waldomiro (Wilker), perdeu tudo e virou um homem do povo, recomeçando no subúrbio.

A situação melhorou após o capítulo 70, quando o público começou a tomar gosto pela história e o autor se encontrou.

“Não era a minha vez de escrever a novela das 20 horas, mas me pediram para quebrar o galho e eu não soube dizer não. Eu não estava preparado, tinha pouco tempo, mas precisava escrever, para que as gravações começassem. Quando Suave Veneno estreou, eu já tinha 40 capítulos prontos, embora ainda não soubesse bem como contar a minha história; só fui descobrir isso lá pelo capítulo 70”, declarou ao jornal O Globo de 17 de setembro de 1999.

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O próprio Daniel Filho reconheceu em seu livro, O Circo Eletrônico, que a produção teve muitos problemas de direção e narrativa no início que acabaram prejudicando-a.

Aguinaldo Silva

Aguinaldo Silva, inclusive, chegou a ameaçar abandonar o trabalho se não tivesse paz para prosseguir.

“Ou vocês deixam a novela fluir ou vocês entregam a novela para outro autor”, disparou ele à então diretora da emissora, Marluce Dias da Silva.

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Além disso, Suave Veneno contou com um concorrente de peso: o Programa do Ratinho, no SBT, que, apoiado no mundo-cão, conquistava cada vez mais audiência e por pouco não fez história ao derrotar a novela das oito.

Por conta desses fatores, o autor declarou ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo, de André Bernardo e Cintia Lopes, que Suave Veneno foi o momento mais traumático de sua carreira.

Mais focada em romance e menos em suspense, a novela acabou em 18 de setembro de 1999, com 209 capítulos, e nunca foi reprisada. O último capítulo marcou 43 pontos, com picos de 52.

Em seu lugar, entrou Terra Nostra, de Benedito Ruy Barbosa, que fez conquistou o público logo de cara e teve trajetória mais tranquila, apesar da morosidade da trama.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor