Há seis anos, em 20 de outubro de 2015, o Brasil perdia Yoná Magalhães. A atriz estava internada há mais de um mês na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, em virtude de problemas cardiológicos e teve complicações após uma cirurgia.

Ela havia completado 80 anos no dia 7 de agosto e era uma das profissionais mais respeitadas e queridas da teledramaturgia brasileira.

Com algumas peças, filmes e inúmeras novelas no currículo, Yoná começou sua carreira na década de 50 na rádio e na TV Tupi. Em 1965, foi contratada pela TV Globo, sendo a primeira mocinha do recém-criado canal, que viria a se tornar o principal do país. Atuou em produções como Eu Compro Esta Mulher (1966) – formando um casal com Carlos Alberto (com quem veio a se casar, inclusive), o primeiro par romântico da emissora -, O Sheik de Agadir (1966), A Sombra de Rebecca (1967), O Homem Proibido (1968) e A Gata de Vison (1969).

Na década de 70, foi para a TV Tupi com Carlos Alberto, onde atuaram em Simplesmente Maria. Voltou à Globo em 1972, participando de Uma Rosa com Amor, ao lado de Marília Pêra e Paulo Goulart. Ainda esteve em O Semideus (1973), Corrida do Ouro (1974), O Grito (1975) e a emblemática Saramandaia (1976) – interpretando a revolucionária Zélia Tavares, que ficou com Leandra Leal no remake. Brilhou também em Espelho Mágico, no ano de 1977.

Já no ano seguinte, ela voltou para a Tupi e chegou a ir para a Bandeirantes, até retornar para a Globo, em 1984, onde ficou até o fim da vida.

Em 1985, Yoná angariou uma legião de elogios na pele da atirada Matilde, dona da Boate Sexus, e ‘rival’ da Viúva Porcina (Regina Duarte), que morria de ciúmes da amiga de Sinhozinho Malta (Lima Duarte). Ela ainda formava um trio com Cláudia Raia (Ninon) e Ísis de Oliveira (Rosali). Em virtude do sucesso da personagem, aliás, a atriz posou nua para a Playboy em fevereiro de 1986, sendo a primeira mulher a estampar a capa da revista aos 50 anos.

Esteve também em O Outro e Vida Nova, até chegar um de seus papéis mais emblemáticos: a Tonha, de Tieta (1989). A madrasta da protagonista era maltratada pelo marido (Zé Esteves, do saudoso Sebastião Vasconcelos) e sofria muito, mas teve uma virada até hoje muito lembrada: quando voltou lindíssima a Santana do Agreste, graças ao ‘toque’ de sua enteada.

A cena em que Yoná praticamente desfila, deslumbrante, ao som de Um Nova Mulher (cantada por Simone), foi marcante demais. Meu Bem, Meu Mal (1990), Despedida de Solteiro (1992) e Sonho Meu (1993) foram outros folhetins que puderam contar com sua presença.

Mas foi em A Próxima Vítima (1995) que a atriz voltou a se destacar com um papel à sua altura. Ela interpretou a Carmela Ferreto, a ambiciosa e ressentida caçula das irmãs Ferreto (interpretadas por Tereza Rachel, Aracy Balabanian e Rosamaria Murtinho). Yoná fez várias ótimas cenas – algumas delas ao lado de Cláudia Ohana, que viveu Isabela, a filha de sua personagem – na trama policial de Silvio de Abreu, que parou o Brasil com o enredo em torno do misterioso assassino que eliminou vários personagens importantes ao longo da novela.

A atriz também mostrou seu talento em Anjo de Mim (1996), Era uma vez (1998), Vila Madalena (1999), A Padroeira (2001), As Filhas da Mãe (2001), Agora é que são elas (2003) e na minissérie Um só Coração (2004). Já em Senhora do Destino, ela divertiu na pele da debochada Flaviana, sogra do marcante bicheiro Giovanni Improtta, um dos perfis de maior sucesso da trama de Aguinaldo Silva. Foram muitas sequências hilárias ao lado do saudoso José Wilker e os dois formaram uma ótima dupla.

Três anos depois, ela esteve em Paraíso Tropical, onde interpretou a implicante Virgínia – casada com Belisário (Hugo Carvana) -, que vivia brigando com a síndica do condomínio onde morava (a chata Iracema, feita pela talentosa Daysi Lúcidi). Participou também de Negócio da China (2008) e Cama de Gato (na trama de Duca Rachid e Telma Guedes ela brilhou como Adalgisa, fazendo uma excelente dobradinha com o saudoso Paulo Goulart – interpretavam dois picaretas pertencentes ao núcleo do asilo).

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Sua última novela foi Sangue Bom, que terminava há oito anos, em 1º de novembro de 2013.

No ótimo folhetim de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, ela deu vida a Glória, uma amargurada e sofrida senhora, que passou a vida toda lamentando a morte da filha. A atriz fez lindas cenas com Marco Pigossi, que viveu o mocinho Bento, neto da poderosa mulher – com quem só foi se encontrar na reta final da história, pois não se conheciam. Foi um belo trabalho da intérprete, que, mesmo com um papel pequeno, conseguiu brilhar e se destacar.

Yoná Magalhães foi uma figura de extrema representatividade e fez história na teledramaturgia nacional. Não por acaso, a sua morte provocou uma comoção na classe artística e no público. Sua admirável trajetória está eternizada nos arquivos da televisão, do cinema, do teatro e, também, na memória das pessoas. Ela viveu se doando para a arte. E faz muita falta.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor