Nilson Xavier

Há 35 anos, terminava no horário das seis da Globo, a novela Direito de Amar, um sucesso daquela época, escrita por Walther Negrão com direção geral de Jayme Monjardim.

Reexibida uma única vez – no Vale a Pena Ver de Novo entre novembro de 1993 e fevereiro de 1994 – é uma boa pedida para o canal Viva ou o Globoplay.

Abaixo, relaciono 10 curiosidades sobre a produção.

Confira:

Inspirada em radionovela

Direito de Amar

Walther Negrão baseou-se em uma antiga radionovela de Janete Clair: A Noiva das Trevas, transmitida pela Rádio Nacional em 1956. A história original se passava em 1800 e foi inspirada na vida da avó de Dias Gomes (marido de Janete).

A radionovela narrava a trama de uma noiva que andava pelas ruas à noite, o que Negrão não incorporou à telenovela. O autor sustentou nomes de personagens batizados por Janete, como Francisco de Montserrat, mas alterou o século: a trama de Direito de Amar tem início na virada do século 20 (passagem para 1901).

Briga entre autoras

Walther Negrão

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo), Negrão revelou que entrou para a novela por acaso:

“Direito de Amar era para ser feita por outras duas autoras [Ana Maria Moretzsohn e Marilu Saldanha], mas houve uma briga nos bastidores e me chamaram para apagar o incêndio e juntar as duas. Eu peguei a sinopse e comecei a escrever a novela. (…) Acabei substituindo uma das autoras [Moretzsohn] pelo Alcides Nogueira”.

Interrupção do horário das seis

Locomotivas

A Globo voltava a produzir novelas para o horário das seis depois de uma interrupção de três meses e uma ameaça de desativação da faixa provocada por problemas com o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Rio de Janeiro, que reivindicava um limite máximo de seis horas diárias de trabalho para seus afiliados e convocou uma greve.

Durante esse período sem novela inédita, a emissora exibiu, como tapa-buraco, um compacto de Locomotivas (de 1977), exibido entre novembro de 1986 e fevereiro de 1987.

Primeiro capítulo inesquecível

O lançamento de Direito de Amar foi esmerado, exibindo um grande esforço de produção – arte, cenários e figurinos belíssimos.

O primeiro capítulo mostrou com requinte o réveillon de 1901, da virada para o século 20, e marcou época: Adriano (Lauro Corona) tira a desconhecida Rosália (Glória Pires) para dançar, os dois mascarados, e brinda: “Feliz 1901!… 1902… 1903… 1904…“.

Vilão amado pelas mulheres

Carlos Vereza

Interpretando o vilão Sr. de Montserrat, Carlos Vereza viveu um de seus melhores momentos na TV. Curiosamente, o personagem agradava ao público feminino, que torcia por ele. Isto obrigou o autor a intensificar as maldades de Montserrat. Mesmo assim, Vereza recebia muitas cartas de telespectadoras apaixonadas.

Por sua atuação, Carlos Vereza foi eleito pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) o melhor ator de 1987. Jayme Monjardim foi premiado como melhor diretor.

Cena inspirada em livro

Direito de Amar

Em uma das últimas cenas da novela, os antagonistas Montserrat e o Dr. Jorge Ramos (Carlos Zara) se enfrentam em um duelo. Apesar de excelente atirador, o vilão aponta sua arma para o alto e se deixa matar.

Essa sequência foi inspirada no romance “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann, e entrou na história por sugestão do próprio Vereza ao autor, que apostou na ideia.

Novela em filme

De acordo com o site Memória Globo, Direito de Amar foi vendida para cerca de 50 países.

A novela deve ter feito muito sucesso no Peru, pois aparece no filme peruano Contracorrente (2009), de Javier Fuentes-León. Em determinada cena, os personagens estão entusiasmados assistindo pela televisão à novela de Walther Negrão – dublada em espanhol, logicamente.

Cidade cenográfica

Direito de Amar

A produção da novela construiu em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, uma cidade que reproduzia detalhes da arquitetura carioca da época, como a rua da Saúde, inspirada no histórico bairro de mesmo nome.

Um dos lugares centrais da cidade cenográfica era a confeitaria, onde as aspirações e os ideais do novo século eram discutidos por intelectuais, artistas e passantes. O local foi inspirado na Confeitaria Colombo, localizada no Centro do Rio.

Outros lugares de destaque da cidade cenográfica foram a clínica do médico Jorge Ramos (Carlos Zara) e a pensão de Esmeralda (Cinira Camargo).

Petrópolis na novela

Direito de Amar

Algumas cenas externas foram gravadas em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, como a do baile de máscaras no Palácio de Cristal, onde Rosália (Glória Pires) e Adriano (Lauro Corona) se conhecem. As tomadas tinham iluminação difusa para criar um efeito de passado. Cerca de 500 figurantes participaram da gravação do baile de máscaras.

Ainda em Petrópolis, a Casa do Ipiranga – também conhecida como Mansão Tavares Guerra e Casa dos Sete Erros – foi usada para a fachada da mansão do Sr. de Montserrat (Carlos Vereza). Essa mesma casa foi vista posteriormente nas novelas Era uma Vez (1998), Esplendor (2000) e outras produções.

Adeus cenas do próximo capítulo

O horário das seis (de novelas da Globo) deixou de exibir as cenas dos próximos capítulos a partir de Direito de Amar, que começou exibindo, mas depois foram retiradas. Elas retornaram por um breve período em O Sexo dos Anjos (1989) e, a partir de Mulheres de Areia (1993), a emissora aboliu-as por definitivo.

AQUI tem tudo sobre Direito de Amar: a trama, elenco completo, personagens, a trilha sonora e mais curiosidades.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor