Há exatamente 11 anos, Cordel Encantado fechava seu ciclo na faixa das seis da Globo. Após a enfadonha Araguaia, vimos uma novela ousada e que não teve medo de inovar em nenhum momento. Muita gente vem dizendo que a novela inspirou Mar do Sertão, atual trama da faixa da emissora.
O risco de tudo dar errado era imenso, uma vez que o público costuma ser muito reticente em relação à qualquer tipo de inovação na teledramaturgia. Mas a coragem das autoras valeu a pena e a novela foi um sucesso de público e crítica.
Thelma Guedes e Duca Rachid conseguiram emplacar o terceiro sucesso em suas respectivas carreiras, levando-se em consideração de que ambas só escreveram três novelas até então. O remake de O Profeta, sob a supervisão de Walcyr Carrasco, e Cama de Gato que também fizeram bonito no horário das 18 horas. Em termos de futebol, diríamos que elas estavam com 100 % de aproveitamento no campeonato.
Ambientação perfeita
Foi um imenso prazer termos assistido à uma linda mistura da realeza com o cangaço. Seráfia e Brogodó pareciam existir de verdade tamanha era a perfeição daqueles ambientes.
O elenco foi mais um acerto. Composto por um timaço de atores que incorporaram seus personagens com uma paixão nítida. Sinal de que também acreditaram nesse projeto desde o início. Somente Bruno Gagliasso, Bianca Bin e Cauã Reymond, que compunham o trio central, ficaram devendo.
O casal protagonista foi apagado pelos demais personagens e não convenceram, mas foram evoluindo durante a novela, é preciso ressaltar. Só Gagliasso que teve uma interpretação forçada e lembrou várias vezes o ‘finado’ Tarso de Caminho das Índias.
Mais acertos
Ainda foram registrados outros acertos. Marcos Caruso e Zezé Polessa fizeram uma dupla hilária. Patácio e Ternurinha divertiram a todos nós. Perfeitamente e exatamente, como diria o prefeito. Nathalia Dill (Dora) e Jayme Matarazzo (Felipe) fizeram um lindo casal juntamente de Luiza Valdetaro (Antônia) e Maurício Destri (Inácio).
Osmar Prado deu um show como o covarde delegado Batoré e fez uma boa dupla com Heloisa Périssé. As perseguições e guerras entre os cangaceiros e os jagunços do Timóteo renderam boas cenas. Carmo Dalla Vechia, Berta Loran, Luana Martau, Felipe Camargo, Mariana Lima e Emilio de Melo fizeram com perfeição a trupe da realeza de Seráfia.
Debora Bloch foi impecável como a vilã Úrsula e fez uma boa dobradinha com Luis Fernando Guimarães. O elenco infantil foi primoroso,com destaque para João Fernandes como o sapeca Nidinho e também Sofia Terra que fez uma Lady Cecília adorável.
Domingos Montagner se destacou como o cangaceiro Herculano e foi uma grata revelação. Sua parceria com a veterana Ilva Niño (Dona Cândida) também funcionou. João Miguel fez de Berlamino um dos cangaceiros mais amados pelo público e teve uma boa química com Paula Burlamaqui (Penélope). Genézio de Barros fez um padre engraçado ao mesmo tempo que amoroso.
Alguns erros
A trama também teve alguns erros, que não podemos deixar de citar, como os constantes sequestros que Açucena sofria. Situações que começaram a se repetir exaustivamente como o quarteto amoroso formado por Farid (Mouhamed Harfouch), Bartira (Andréia Horta), Neuza (Heloisa) e Penélope (Paula).
As sete vidas que Timóteo tinha e também sua facilidade em conseguir tudo o que queria sem ser importunado por ninguém. Mesmo sendo uma fábula, a novela abusou da licença poética no caso do vilão e acabou cansando o público.
O envolvimento de Florinda (Emanuelle Araújo) com Petrus (Felipe Camargo), traindo Zenóbio(Guilherme Fontes). Além de ter sido uma situação totalmente desnecessária, gerou grande rejeição do público. Pouco destaque dado aos personagens de Debora Duarte e Tony Tornado.
Demora pela formação do casal Rosa (Isabelle Drumond) e Cícero (Miguel Rômulo). Não souberam aproveitar a boa química que ambos tiveram em Caras & Bocas. Ternurinha ter traído todos e fugido com Zóio-Furado.No início a situação estava engraçada, mas depois ficou cansativa.
Castigo brando
A morte de Timóteo no penúltimo capítulo. Após tudo o que ele fez durante a novela inteira, se fazia necessário ter uma morte mais impactante para o público. Morrer queimado dentro de uma igreja, após desmaiar, não deu o resultado esperado.
Duca Rachid e Thelma Guedes, juntamente com os diretores Ricardo Waddington e Amora Mautner, mereceram os parabéns por nos terem apresentado um trabalho tão primoroso. A princesa de Seráfia finalmente teve o seu final feliz com o filho do Rei do Cangaço e esse lindo conto de fadas chegou ao fim.
Cordel Encantado deixou saudades e ficou marcada não só na história da teledramaturgia, como também na memória de todos os telespectadores.
