André Santana

A Globo demonstrou certa ousadia ao escalar Paraíso Tropical (2007) para o Vale a Pena Ver de Novo. Afinal, a trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares foi uma novela de resultado morno na audiência quando foi exibida pela primeira vez. Além disso, a reprise chega atrasada, 16 anos depois de seu lançamento.

Fábio Assunção como Daniel em Paraíso Tropical
Fábio Assunção como Daniel em Paraíso Tropical (divulgação/Globo)

Ou seja, a escolha pela novela indica que a Globo tenta uma experiência na faixa das 17 horas. Porém, a emissora não poderia ter escolhido pior hora para isso, já que o canal precisa de uma alavanca poderosa em seu horário nobre, que está em baixa por conta dos fiascos de Elas por Elas e Fuzuê.

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Susto na Globo

Alessandra Negrini em Paraíso Tropical
Alessandra Negrini em Paraíso Tropical (Divulgação / Globo)

Quando entrou no ar pela primeira vez, em março de 2007, Paraíso Tropical encontrou o horário nobre da Globo fortalecido. A emissora vinha de diversos êxitos seguidos: Mulheres Apaixonadas (2003), Celebridade (2003), Senhora do Destino (2004), América (2005), Belíssima (2005) e Páginas da Vida (2006) tiveram excelentes médias de audiência.

A trama de Manoel Carlos, por exemplo, obteve uma média geral de 47 pontos. Mas a estreia de Paraíso Tropical, sua substituta, estancou a curva crescente de audiência. Em sua primeira semana, a trama teve média de 36 pontos, índices considerados baixíssimos na época.

De olho na fraca recepção, a novela passou por mudanças. Gilberto Braga e Ricardo Linhares identificaram que o público considerou a novela “masculina demais”, por conta do embate entre Daniel (Fabio Assunção) e Olavo (Wagner Moura). Com isso, as mulheres da trama ganharam mais espaço.

Paraíso Tropical só ultrapassou a barreira dos 40 pontos de média semanal em sua oitava semana. A partir daí, o folhetim engrenou e elevou os números. Ainda assim, sua média geral foi de 42,8 pontos, bem distantes dos 47 de sua antecessora.

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Novela morna

Paraíso Tropical - Camila Pitanga e Wagner Moura
Wagner Moura (Olavo) e Camila Pitanga (Bebel) em Paraíso Tropical (Divulgação / Globo)

Paraíso Tropical é muito celebrada por fãs e traz personagens que ficaram no imaginário popular, como Olavo e Bebel (Camila Pitanga). No entanto, para os padrões da Globo na época, ela foi considerada uma novela morna. Esteve longe de ser um fiasco, mas não foi bem um enorme sucesso.

Por isso, é questionável sua escolha para o Vale a Pena Ver de Novo. Talvez a reprise funcionasse se tivesse acontecido antes, quando ainda estava fresca na memória do público. Mas, 16 anos depois, o repeteco não tem o mesmo apelo.

Em sua estreia no Vale a Pena Ver de Novo, Paraíso Tropical anotou 13,1 pontos no Kantar Ibope Media na Grande São Paulo. De acordo com o portal Notícias da TV, trata-se da pior estreia da faixa desde Cheias de Charme, em 2016, que entrou no ar com 12 pontos.

Ainda é cedo para cravar que a reprise de Paraíso Tropical será um fiasco, afinal, a novela está apenas começando. Mas é possível afirmar que a escolha da trama foi uma estratégia arriscada da Globo. Não é uma reprise à prova de erros.

 

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Não é o momento

Tony Ramos e Gloria Pires em Paraíso Tropical
Tony Ramos e Gloria Pires em Paraíso Tropical (divulgação/Globo)

Pode-se dizer, então, que a escolha por Paraíso Tropical é uma experiência da Globo. O canal está testando a aceitação de novelas das oito/nove exibidas já há algum tempo junto ao público. Seria uma experiência válida se a emissora não tivesse escolhido o pior momento para isso.

Afinal, desde o fim de Malhação, o Vale a Pena Ver de Novo se transformou na grande alavanca do horário nobre. Uma novela de apelo exibida antes da novela das seis tem o poder de esquentar os números e entregar em alta para a trama seguinte, oportunizando o efeito dominó que a Globo almeja.

Neste momento em que Elas por Elas e Fuzuê não emplacaram, a Globo precisava de uma alavanca poderosa para a faixa das 17 horas. Ou seja, o canal devia ter escolhido um arrasa-quarteirão, daquelas novelas sem qualquer chance de dar errado. Uma novela de Walcyr Carrasco, como Amor à Vida (2013) ou A Dona do Pedaço (2019), por exemplo, teria mais condições de alavancar a faixa nobre da emissora.

Já Paraíso Tropical é uma incógnita. Considerando a baixa audiência da estreia, são grandes as chances de a reprise se tornar mais um problema para a Globo.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor