Aposta da Globo para recuperar a audiência do horário das sete, em baixa após o fracasso de Além do Horizonte (2013), Geração Brasil (2014) parecia uma trama à prova de erros. A trama trazia de volta ao horário a dupla de autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, responsáveis pelo estrondoso sucesso Cheias de Charme (2012).
A nova novela trouxe um arsenal de boas ideias. Mas, no fim, as tais ideias confundiram o público, que torceu o nariz para a trama. Além disso, a novela acabou sucumbindo por conta da Copa do Mundo, realizada no Brasil naquele ano.
Folhetim moderno
Geração Brasil tinha como atrativo o universo tecnológico, na época em alta por conta da popularização dos smartphones e do acesso cada vez maior do público às redes sociais.
Na trama, Jonas Marra (Murilo Benício) é um empresário de tecnologia bem-sucedido que, depois de sair do Brasil e fazer fortuna nos Estados Unidos, decide transferir seus negócios para sua terra natal. Assim, ele retorna ao Brasil ao lado da esposa, Pamela Parker (Claudia Abreu), e da filha Megan (Isabelle Drummond), causando um grande alvoroço na mídia.
No Brasil, Jonas decide lançar um reality show, com a intenção de encontrar o seu sucessor para ocupar a presidência da sua empresa. A ideia era reunir jovens especialistas em tecnologia e submetê-los a uma série de desafios dentro de sua empresa.
Geração Brasil contou ainda com um elenco repleto de estrelas, como Taís Araújo (Verônica), Renata Sorrah (Glaucia Beatriz), Ricardo Tozzi (Herval), Lázaro Ramos (Brian Benson), Aracy Balabanian (Iracema), entre outros.
Fiasco
Como Geração Brasil era assinada por Felipe Miguez e Izabel de Oliveira, que assinaram o fenômeno Cheias da Charme, a expectativa da Globo era que a nova novela repetisse o sucesso da trama anterior.
Mas a nova novela revelou-se uma grande decepção e frustrou as expectativas do público, que foi abandonando o folhetim ao longo dos meses. Geração Brasil, então, amargou baixos índices de audiência.
Não demorou muito para que a emissora constatasse o grande problema do folhetim. Geração Brasil pecou por mirar apenas no telespectador mais antenado em tecnologia, desprezando o grande e heterogêneo público da faixa das sete. Ou seja, a trama se revelou uma novela de nicho.
Copa do Mundo
O segundo problema de Geração Brasil foi que sua exibição coincidiu com o período da Copa do Mundo de 2014, que foi realizada no Brasil.
Como alguns dos jogos aconteciam às 19 horas, a Globo se viu impedida a exibir capítulos normais da trama durante a competição. Assim, o canal optou por veicular uma espécie de minicapítulo da novela, para que o público não se esquecesse da existência da obra no período em que a trama ficou fora do ar.
Durante a exibição dos minicapítulos de Geração Brasil, que tinham a duração de três minutos, a trama mostrou a disputa entre Manu (Chandelly Braz) e Davi (Humberto Carrão), os mocinhos jovens da trama, no reality show promovido por Jonas Marra. Os pequenos capítulos contavam com a participação do telespectador através do aplicativo Filma-e, que foi desenvolvido pela Globo para uma ação transmídia, na qual o capítulo que começava na TV continuaria sua exibição na internet.
Falhas no aplicativo
Mas a ferramenta de interatividade, que tinha como finalidade fazer com que o telespectador gravasse e enviasse um vídeo de cinco a dez segundos de duração para interagirem com os personagens de Carrão e Chandelly Braz, apresentou falhas para download logo na sua estreia. Isso gerou revolta entre os usuários.
Os internautas reclamavam de travamentos e erros que dificultavam o uso correto da ferramenta e do carregamento dos vídeos. Além disso, o Filma-e era pouco intuitivo, e havia a necessidade de criar um cadastro na Globo.com para utilizá-lo.
Outro ponto negativo relatado pelos internautas era que a Globo disponibilizou a ferramenta apenas para aparelhos com sistema Android e IOS (da Apple). Quem usava aparelhos com sistema Windows Phone não tiveram acesso a essa novidade.
Mesmo com tantos problemas, o Filma-e chegou a ter disponível em sua plataforma cerca de 1.500 vídeos. O que não livrou Geração Brasil de ter uma média final de 19 pontos no Ibope da Grande São Paulo, índice menor que da novela antecessora, Além do Horizonte, que terminou com 20 pontos.
Apesar da boa direção, que ficou a cargo do núcleo de Denise Saraceni, e de inúmeras alterações feitas no roteiro para tornar a novela mais acessível ao público médio, Geração Brasil foi mais um projeto que pecou na tentativa de ser “moderninha”, diante de um enredo vazio que muito prometeu e pouco entregou.
