Nilson Xavier

Uma das melhores novelas de Cassiano Gabus MendesBrega e Chique está completando, neste dia 20 de abril, 35 anos de sua estreia.

Confira 10 curiosidades sobre este clássico da TV dos anos 80:

Mais audiência que a novela das 8

Brega & Chique

Brega e Chique ainda estava no começo e sua repercussão já era superior à da novela das oito da época, O Outro, de Aguinaldo Silva – que provocou Cassiano afirmando que seu drama carioca tinha mais audiência que a comédia paulista dele (a trama das sete era ambientada em São Paulo).

Cassiano não respondeu à provocação. Ele não era disso. A audiência respondeu. Em questão de meses, Brega e Chique tinha mais audiência que a novela das oito horas.

Cassiano, inclusive, faz uma citação à novela de Aguinaldo (no capítulo 89) quando Montenegro (Marco Nanini) alerta Cláudio Serra (Raul Cortez) de que pode aflorar nele “o outro” – e ele repete várias vezes, dando ênfase a “o outro” (no caso, o outro é Herbert Alvaray, a verdadeira identidade de Cláudio).

Marília & Glória ou Glória & Marília

Brega & Chique

Como o título sugeria, Brega e Chique tinha duas protagonistas, interpretadas por Marília Pêra e Glória Menezes: Rafaela, a rica que empobrecia, e Rosemere, a pobre que enriquecia.

Entretanto, a repercussão de Marília Pêra como Rafaela foi tanta que ofuscou a Rosemere de Glória Menezes. Marília sempre lembrava de Rafaela como uma das personagens que mais gostou de viver na televisão. Era sua volta às novelas após um hiato de treze anos – a última havia sido Supermanoela, em 1974.

Os créditos da abertura da novela se iniciavam com os nomes de Marília Pêra e de Glória Menezes juntos: o de Glória no lado esquerdo da tela (primeiro para quem lê) e o de Marília no lado direito.

Em 2013, ao programa Damas da TV, do canal Viva, Marília declarou que solicitou à direção a primazia nos créditos da abertura porque o combinado foi que ela seria a estrela da novela. Seu nome passou então a alternar com o de Glória Menezes o lado na aparição na tela.

Glória injustiçada

Brega & Chique

Glória Menezes fez um excelente trabalho, mesmo com menos repercussão que sua colega Marília Pêra. Rosemere era um papel tão difícil quanto Rafaela e Glória o levou tão brilhantemente quanto.

Claro que o apelo era menor – e houve mesmo um momento em que Rosemere ficou muito pedante e esnobe. Porém, percebe-se na atriz uma construção muito eficiente, ainda mais quando se conhece o seu histórico: Rosemere em nada lembrava outros trabalhos de Glória.

Marília & Nanini

Brega & Chique

Cassiano criou em Brega e Chique um par atrapalhado em cenas divertidas: Rafaela Alvaray e Montenegro, vivido por Marília Pêra e Marco Nanini, impagáveis como os personagens.

O atores tinham acessos de riso nas gravações de muitas cenas. A cumplicidade de longa data resultava em brincadeiras e improvisos tão bons que a direção deixava que fossem ao ar assim mesmo, sem interrupção do ritmo.

O par protagonizou algumas das sequências mais hilárias da novela, como quando olharam para a câmera, como se estivessem diante de um espelho, analisando suas papadas e comentando fazer plástica (capítulo 96). Ou quando Rafaela sugou a gravata de Montenegro com um aspirador de pó, quase o enforcando (capítulo 162).

Baseado em fato

Brega & Chique

Em outra sequência, Montenegro quebra acidentalmente um vaso inglês de Rafaela (capítulo 85), de estimação dela, lembrança dos bons tempos em que a ex-socialite morava no chique bairro paulistano do Morumbi.

O episódio estava sendo preparado há um bom tempo pelo autor, que, com frequência, fazia Rafaela declarar seu apego à relíquia. Cassiano declarou que inspirou-se em um fato ocorrido com um amigo:

“Eu me baseei num fato real, acontecido com um ator, meu amigo, que destruiu uma peça valiosa de uma mulher que, como a Rafaela, havia sido rica e ficou pobre. Como desculpa, meu amigo disse que quebrara o objeto de propósito para livrá-la da má sorte, exatamente o que Montenegro faz ao quebrar o vaso inglês da amiga”.

Novela premiada

Brega & Chique

Por sua atuação na novela, Marília Pêra foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor atriz de TV de 1987. Também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor atriz. Brega Chique levou o troféu de melhor novela do ano.

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Espelho espião

Brega & Chique

A direção-geral de Jorge Fernando proporcionou detalhes originais que ajudaram a dar identidade à novela, como o sobe-desce dos atores com a câmera estática e as passagens criativas de cena, seja com elementos comuns entre uma sequência e outra (como no primeiro e último capítulos), ou com o wipe, a “varredura” de tela.

Outra novidade foi a exibição de dois cenários em um só, um truque engenhoso chamado de “espelho espião”, em que a câmera focalizava o ator em primeiro plano e atrás dele havia um espelho que refletia outro ator no cenário à frente, recurso usado nas cenas em que dois atores conversavam ao telefone.

Outro truque – dentro do espelho espião – consistia em iluminar os cenários alternadamente: uma parte era iluminada enquanto a outra ficava no escuro para alternarem na mudança de fala dos personagens.

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Abertura icônica

Brega & Chique

Embalada pela música “Pelado”, da banda Ultraje a Rigor, a abertura da novela causou frisson na época. Sete belas mulheres, caracterizadas de brega ou chique, alternavam a aparição na tela. Ao final, surgia o único homem, o então modelo Vinícius Manne, nu.

No primeiro capítulo, Manne apareceu por segundos com o bumbum à mostra. No dia seguinte, atendendo a telespectadores indignados, a Globo inseriu eletronicamente uma folha de parreira sobre a região glútea do rapaz. Dois dias depois, uma nova versão da abertura: a sequência termina antes do modelo se virar por completo, em um “vai-não-vai”.

Após nova pressão popular (pedindo a retirada da folha), o então Ministro da Justiça Paulo Brossard desistiu da censura e, a partir do quinto capítulo, o famoso traseiro voltou a ficar exposto, com o rapaz “pelado, pelado, nu com a mão no bolso”.

O sucesso da bunda prosseguiu na capa do LP internacional da novela, exposto à luz do dia nas vitrines de lojas de discos e de departamentos em todo o Brasil.

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Polêmica com o Itaim Bibi

Brega & Chique

Cassiano Gabus Mendes criou uma polêmica com os moradores do Itaim Bibi, bairro paulistano de classe média-alta. Quando Rafaela empobrece e precisa se mudar com a família para um bairro mais humilde (ela morava no Morumbi), cita com certo desprezo o Itaim Bibi, fazendo piada com o “Bi-bi”.

Após protestos reais dos moradores da região, Cassiano escreveu uma cena (exibida no capítulo 67) em que Rafaela se redime, diante de toda a família em um jantar. Marília Pêra foi enfática, inclusive direcionando-se à câmera:

“Eu me enganei! Nós não estávamos mudando para o Itaim Bibi. Quem me dera se nós estivéssemos porque o Itaim Bibi é um bairro que hoje em dia pertence aos Jardins. Nós estamos morando hoje em Vila Custódio”.

Capítulos adiante, foi a vez de Maurício (Tato Gabus Mendes), um corretor de imóveis, se referir ao Itaim Bibi como “um bairro muito chique”.

De qualquer forma, deve ter sido uma brincadeira de Cassiano, já que a região para onde a família se mudou de fato em nada lembrava o Itaim Bibi.

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Outras polêmicas

Cassia Kiss

As secretárias executivas do Rio de Janeiro não gostaram do comentário feito pelo personagem Teddy (Tarcísio Filho) no capítulo 33: “Secretária do chefe é sempre propriedade particular!”. Também consideraram inadequada a maneira de agir da secretária Silvana (Cássia Kiss).

A colônia japonesa de São Paulo considerou depreciativa a fala de Rafaela (no capítulo 68), sentindo-se rejeitada por Montenegro:

“Pode ser o leiteiro, o lixeiro, o faxineiro, o tintureiro, mesmo que seja o japonês, o primeiro que me pedir em casamento eu vou topar!”.

Entidades como a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, a Associação dos Lojistas da Liberdade (o bairro oriental de São Paulo) e a Câmara Júnior Brasil-Japão reuniram-se para decidir as medidas, que foram encaminhadas à Globo.

O autor defendeu-se afirmando que a colocação não foi preconceituosa nem depreciativa, mas apenas uma comicidade “pois a personagem da Marília só fala besteira”.

AQUI tem tudo sobre Brega e Chique: a trama, personagens, elenco completo, trilha sonora e mais curiosidades.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor