Novela que está de volta representa uma Record que não existe mais
01/03/2022 às 10h52
Nesta segunda-feira (28), a Record deu início à segunda reprise de Chamas da Vida (2008). A novela de Cristianne Fridman, assim como Prova de Amor (2005), representa uma fase da emissora que, lamentavelmente, ficou no passado…
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Tempo em que a dramaturgia não era dominada por folhetins bíblicos supervisionados por Cristiane Cardoso – filha de Edir Macedo – e a grade ia além dos noticiários sanguinolentos. O TV História relembra este período, além de curiosidades da obra.
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As primeiras informações de Chamas da Vida foram divulgadas na chamada para a programação 2008, então com o título Prova de Fogo. O time de contratados do canal ainda incluía Eliana, à frente do dominical Tudo é Possível (2005-2012). Também Márcio Garcia, apresentador de O Melhor do Brasil (2005-2014), e Maria Cândida, comandante do Programa da Tarde (2006-2009).
O Hoje em Dia contava com Britto Jr e Chris Flores, enquanto o Domingo Espetacular estava sob responsabilidade de Fabiana Scaranzi, Janine Borba e Paulo Henrique Amorim. Tom Cavalcante seguia com o Show do Tom (2004-2011), então nos finais de semana, e Milton Neves respondia pela ancoragem de campeonatos esportivos.
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Na época, a estação recorria a Todo Mundo Odeia o Chris, série baseada na infância e na adolescência do comediante Chris Rock, para turbinar os índices das tardes. E A Turma do Picapau acumulava dois dígitos no horário nobre, como sala de espera para o Jornal da Record. Por fim, um pacote de filmes e séries – como Heroes, Dr. House e as franquias Miami e Las Vegas de CSI.
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O primeiro capítulo, no ar em 8 de julho de 2008, trouxe a participação de Rodrigo Faro, como o bombeiro Wallace, vitimado no incêndio da fábrica de sorvetes GG. A intenção era apresentar o novo contratado da casa no gênero em que ele se consagrou na Globo, antes de sua estreia como apresentador do reality musical Ídolos – “surrupiado” do concorrente SBT.
A volta de Márcio Garcia para a Globo, em abril, precipitou a estreia de Faro no gênero Variedades. Coube a ele assumir O Melhor do Brasil. Curiosamente, o mesmo se deu com Garcia, que chegou à emissora através do game show Sem Saída (2004), para, no ano seguinte, participar das sequências iniciais de Prova de Amor, assinada por Tiago Santiago.
Chamas da Vida foi concebida para a vaga de Amor e Intrigas (2007), às 21h. Contudo, o êxito de Caminhos do Coração (2007) determinou a continuidade desta obra, através do spin-off Os Mutantes (2008). A Record suspendeu a produção da substituta Machos, trama chilena adaptada por Lauro César Muniz, e deslocou ‘Mutantes’ para a faixa de confronto com A Favorita (2008), da Globo.
‘Amor’ passou para 22h, faixa em que ‘Chamas’ foi exibida até a reta final. Os primeiros capítulos padeceram com a concorrência de Pantanal (1990), clássico da Manchete em reprise no SBT. A audiência subiu após reformulações – os personagens André (Guilherme Leme), Carla (Verônica Deboim), Jairo (Igor Cotrim), Ricardo (Waldyr Gozzi) e Verônica (Vanessa Pascale) foram rifados.
No Rio de Janeiro, o enredo de Cristianne Fridman abriu vantagem sobre a Globo em diversas ocasiões. O debate sobre pedofilia, através de Vivi (Letícia Colin), vítima de Lipe (André di Mauro), fortaleceu o interesse do público. A autora também apostou no suspense sobre o incendiário misterioso, que aterrorizava Vilma (Lucinha Lins), a vilã que, de início, usou do fogo para ocultar provas de seus crimes e liquidar inimigos.
Quem era o incendiário de Chamas da Vida?
Spoiler: a exibição original do folhetim trouxe Léo (Rafael Queiroga) e Darlene (Claudiana Cotrim), irmãos que desejavam castigar Vilma por armações do passado, como incendiários. No primeiro repeteco, de outubro de 2015 a setembro de 2016, Tomás (Bruno Ferrari) foi quem respondeu pela identidade do criminoso – a Fênix –, tramando contra a própria mãe.
O desfecho envolvendo Tomás foi exibido, um mês antes da conclusão da reprise na TV aberta, pelo canal fechado Investigação Discovery. A primeira passagem pelas tardes da Record, aliás, acumula um dos piores desempenhos da faixa: 4,8 pontos, acima dos 4,6 de Os Mutantes, dos 4,5 de Belaventura (2017) e dos 3,5 de Dona Xepa (2013).
Em suas últimas semanas, Chamas da Vida foi encaixada às 21h45, entre Promessas de Amor (2009) – outro spin-off de Caminhos do Coração – e Poder Paralelo (2009), sua substituta. Os índices recuaram, diante da concorrência Caminho das Índias (2009), exceto em dias de futebol, quando o folhetim de Gloria Perez era encerrado mais cedo.
Marcelo Serrado, escalado para Machos, chegou a ser cotado para o protagonista de ‘Chamas’, o bombeiro Pedro. O autor Lauro César Muniz, porém, pediu que Serrado permanecesse à disposição de seu próximo trabalho, Poder Paralelo, onde o ator brilhou como o vilão Bruno Vilar. Leonardo Brício, convidado para o também bombeiro Cazé (Milhem Cortaz), assumiu o herói, par de Carolina (Juliana Silveira).
Lu Grimaldi também foi deslocada para Poder Paralelo. Embora creditada na abertura desde o primeiro capítulo de Chamas da Vida, ela não chegou a gravar; Sandra Pêra assumiu a personagem, Mercedes. Nina de Pádua assumiu Lurdes, oferecida, a princípio, para Tássia Camargo – que, após as gravações de Vidas Opostas (2006), acionou a Record na Justiça por conta de direitos trabalhistas.
Temas espinhosos
Antes de Cristiane Cardoso tomar para si o comando da dramaturgia da Record, temas espinhosos eram debatidos sem o viés da Igreja Universal do Reino de Deus, também de Edir Macedo. Foram os casos do vírus HIV, através de Guilherme (Roger Gobeth), e das drogas sintéticas, com Marreta (Vitor Hugo) e Manu (Juliana Lohman), em Chamas da Vida.
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A emissora também promovia ações sociais, por meio do Instituto Ressoar. O leilão beneficente da campanha Dia de Fazer a Diferença contou com uma participação em Chamas da Vida, adquirida por Tiago Santiago. O autor surgiu em cena como um mendigo, com ares de anjo, que orientava Antônio (Dado Dolabella). Tiago, cabe lembrar, iniciou a carreira artística como ator, em Livre Para Voar (1984, Globo).
Foi durante as gravações de ‘Chamas’ que Dado estampou as páginas policiais, acusado de agressão contra a namorada Luana Piovani e a camareira Esmeralda de Souza. A saída do ator da Record se deu em 2014, durante as primeiras gravações de outra trama de Fridman, Vitória. Dolabella agrediu fisicamente um produtor e disparou ofensas contra uma produtora durante os trabalhos em Curaçau.
Como Beatriz, par romântico de Antônio, Andréia Horta ganhou destaque na narrativa e fora dela. A personagem assumiu o protagonismo, ao lado de Vivi e de Michele (Luiza Curvo), diante da ausência de Juliana Silveira – afastada das gravações após fraturar dois ossos do pé durante uma cena. O desempenho de Horta acarretou no convite para voltar à Globo, na série A Cura (2010).
O diretor geral Edgard Miranda, também elogiado, segue na Record. Para as sequências do incêndio que abre o primeiro capítulo, Edgard buscou inspiração no longa Brigada 49 (2004), com Joaquin Phoenix e John Travolta. Para a concepção de Ivonete (Amandha Lee), a referência foram os tipos criados por Pedro Almodóvar, especialmente o de Penélope Cruz em Volver (2006).
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O cinema também esteve presente na preparação de Milhem Cortaz, que emendou o treinamento com o BOPE, para Tropa de Elite (2007), no laboratório do Quartel Central do Rio de Janeiro. Seu personagem, Cazé, vivia às voltas com as investidas de Suellen (Nathalia Rodrigues), figura obcecada pela fama – cujo parâmetro para caracterização e figurino veio dos DVDs da banda Calypso, liderada por Joelma.
Apesar da familiaridade com o fogo, os atores deste núcleo foram “poupados” de calor e fumaça graças a efeitos de computação gráfica. O canal também providenciou fardas dinamarquesas de amianto, seis câmeras para condições adversas avaliadas em R$ 1,5 milhão cada e uma brigada de incêndio, pronta para entrar em ação quando necessário.
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Chamas da Vida foi gravada no RecNov, complexo de estúdios da estação, hoje sob responsabilidade da produtora Casablanca. As externas foram concentradas no Tinguá, incluindo sequências de resgate na Reserva Biológica Federal do bairro. O incêndio do primeiro capítulo foi capturado no mesmo galpão que abrigou as filmagens de O Incrível Hulk (2008).
Para a abertura, Fábio Jr regravou Fogo e Paixão, canção de maior sucesso do repertório de Wando. A versão dele para “meu iaiá, meu ioiô” foi incluída como faixa-bônus no álbum Fábio Jr e Elas, que, a princípio, trazia apenas duetos com vozes femininas. O tema de Pedro e Carolina, Feelings, do brasileiro Morris Albert, integrou a trilha de Corrida de Ouro (1974, Globo).