Novela em que Ney Latorraca interpretava nada menos que cinco personagens, Um Sonho a Mais foi exibida entre fevereiro e agosto de 1985. A trama, que tinha Susana Vieira no elenco, marcou a estreia do colunista social Daniel Más como autor de novelas na Globo.

Susana Vieira em Um Sonho a Mais
Susana Vieira em Um Sonho a Mais

Na época, a trama foi considerada um fracasso e, por isso, a emissora jamais reprisou a história. Por isso, muita gente nem lembra que Um Sonho a Mais foi a primeira novela da emissora a exibir um beijo entre dois homens – Ney Latorraca e Carlos Kroeber.

Um Sonho a Mais, inclusive, foi confirmada como parte do Projeto Resgate do Globoplay, mas ainda não há data para o lançamento da produção no streaming.

Qual era a história de Um Sonho a Mais?

Escrita por Daniel Más a partir de um argumento de Lauro César Muniz, a trama de Um Sonho a Mais era inspirada na peça Volpone, de Ben Jonson. O protagonista era Antonio Carlos Volpone, vivido por Ney Latorraca.

Volpone era um milionário excêntrico que passou 18 anos longe do Brasil, ao ser acusado de um assassinato que não cometeu. Ao retornar ao país, ele se disfarçava para tentar esclarecer o crime e provar sua inocência.

Nesta saga, Volpone se desdobrava em quatro identidades distintas: a executiva Anabela Freire, o médico Nilo Peixe, o industrial Augusto Melo Sampaio e o motorista André Silva.

Fracasso de 50 pontos

Ney Latorraca em Um Sonho a Mais
Ney Latorraca em Um Sonho a Mais

Um Sonho a Mais registrou média de 50 pontos de audiência, mas, ainda assim, foi considerada um fracasso pela Globo. A emissora identificou uma rejeição do público, muito por conta da inexperiência de Daniel Más como novelista.

O autor aproveitou sua experiência como colunista social para retratar a sociedade carioca na trama. Porém, ele abriu mão de elementos básicos do folhetim. Um Sonho a Mais não tinha ganchos ao final dos capítulos, por exemplo.

Com isso, Um Sonho a Mais estreou bem, mas perdeu muita audiência ao longo das primeiras semanas. Uma pesquisa realizada pela Globo apontou a rejeição, indicando que o público ignorava os grã-finos citados nos diálogos. Em razão disso, a Globo interveio, afastou Más e entregou a novela para Lauro César Muniz.

“Na verdade, tratou-se de uma decisão empresarial, que nem sequer representou uma troca de autores, pois Lauro César participou da criação da história”, explicou o então diretor-geral da divisão de novelas da Globo, Francisco Mário Sandrim, à revista Veja de 6 de março de 1985.

Beijo entre dois homens

Um Sonho a Mais acabou ficando marcada mesmo pela divertida performance de Ney Latorraca, que pintava e bordava com seus cinco personagens. Uma das mais lembradas pelo público é Anabela, que chegou a ter “irmãs”, Florisbela (Marco Nanini) e Clarabela (Antonio Pedro).

Anabela, inclusive, chegou a se casar na história. Ela se envolveu com Ernesto (Carlos Kroeber), com quem trocou uma bitoca em cena. Foi a primeira vez que dois homens se beijaram numa novela da Globo.

A “brincadeira”, inclusive, desagradou a censura, que orientou a Globo a reduzir o espaço dos personagens na novela. Os militares acusaram Um Sonho a Mais de fazer “propagadora da homossexualidade e da transexualidade”.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor