Nilson Xavier

Travessia, a próxima novela das 9, de Glória Perez, a estrear em outubro, chega já furando fila. Era a vez de João Emanuel Carneiro, mas um rearranjo o chutou para o Globoplay, fazendo com que a novela de Glória subisse na ordem de produções.

Novidade? Nenhuma. Pelos mais variados motivos, há décadas que os fura-filas sobem de posição substituindo outras que estavam cotadas.

Relaciono 10 vezes em que a fila de novelas da Globo foi furada, algumas mudando toda a programação de estreias da emissora.

O Fim do Mundo – O Rei do Gado

O Rei do Gado

Em 1996, a novela O Rei do Gado, de Benedito Ruy Barbosa, seria a substituta de Explode Coração, de Glória Perez, mas atrasos na produção a impossibilitaram de estrear na data desejada. A solução foi pegar uma minissérie de Dias Gomes e exibi-la como tapa buraco. Assim, entre Explode Coração e O Rei do Gado, a Globo apresentou O Fim do Mundo, “uma supernovela em 35 capítulos“, como anunciavam as chamadas de estreia.

A hipótese de espichar a trama de Glória chegou a ser cogitada, mas a emissora a descartou, pois tinha assumido o compromisso de liberar a novelista no início de maio de 1996, para o julgamento dos acusados do assassinato de sua filha, a atriz Daniella Perez (assassinato ocorrido em 1992).

A Viagem – Vira-lata

A Viagem

Em 1994, a novela substituta de Olho no Olho, de Antônio Calmon, seria Vira-lata, de Carlos Lombardi, que inclusive entrou em produção. Entre outros problemas, dificuldades relacionadas ao treinamento dos cães da trama atrapalharam os trabalhos e a sinopse acabou engavetada. Vira-lata foi finalmente produzida dois anos depois, em 1996 (neste meio tempo, Lombardi ainda escreveu Quatro por Quatro).

A intenção da Globo era exorcizar a malfadada Olho no Olho, história “paranormal jovem” criticada de todos os lados. A princípio, A Viagem estava cotada para o horário das seis. Optou-se pela história de Ivani Ribeiro por ela ser mais dramática, romântica e “adulta”, ainda que permanecendo no âmbito do sobrenatural.

Pai Herói – Os Gigantes

Pai Herói

Em 1978, a Globo programava Lauro César Muniz para substituir Gilberto Braga após o sucesso de Dancin´ Days. Lauro apresentou a sinopse de Fênix e a emissora carioca começou as negociações para que Eva Wilma (à época na Tupi) estreasse na Globo, para viver a protagonista. Porém Lauro adoeceu e sua novela teve que ser protelada.

Janete Clair foi chamada para – mais uma vez – apagar esse incêndio, e escreveu Pai Herói, que entrou no lugar de Dancin’ Days, em janeiro de 1979. Restabelecido, Lauro veio na sequência, mas sua novela mudou de nome (Os Gigantes) e Eva Wilma, que havia assumido outros compromissos, cedeu seu lugar a Dina Sfat.

Selva de Pedra e Tieta – Barriga de Aluguel

Tieta

Sim, a novela Barriga de Aluguel, de Glória Perez, foi adiada duas vezes. A primeira, em 1986, cogitada para substituir Roque Santeiro. Glória apresentou a sinopse, que foi rejeitada. A autora foi tachada de maluca. Como pode, uma mulher gerar o filho de outra? Fantasia demais em 1986. A trama foi engavetada e a Globo optou pelo remake de Selva de Pedra. Chateada, Glória foi escrever uma novela na TV Manchete (Carmem).

Em 1989 – Glória de volta à Globo – parecia que Barriga de Aluguel finalmente iria sair. A sinopse estava praticamente aprovada para substituir O Salvador da Pátria. Porém, desceu uma ordem de Boni para mudar tudo, alegando que esta não era uma trama para o horário das oito, mas para às seis. Assim, Tieta substituiu O Salvador da Pátria, enquanto Barriga de Aluguel só foi estrear no ano seguinte (1990), às 18 horas.

Sassaricando – Bebê a Bordo

Sassaricando

Em 1987, ao final de Brega e Chique, seria a vez de Carlos Lombardi apresentar uma novela. Mas Bebê a Bordo não foi aprovada naquele momento. Silvio de Abreu foi acionado e apresentou Sassaricando, para que Bebê a Bordo viesse, finalmente, na sequência.

Com essa mudança, Silvio perdeu a parceria de Jorge Fernando na direção (seu diretor costumeiro), já que ele estava terminando Brega e Chique, a novela anterior no horário. Para comandar Sassaricando, foi chamado o ator Cecil Thiré, que à época dirigia programas de humor da Globo.

Pacto de Sangue – Top Model

Pacto de Sangue

Neste caso, houve primeiro a troca de novela no horário, para, depois, a troca do horário da novela. Em 1989, a produção cotada para substituir Vida Nova, na faixa das 18 horas, era Top Model, de Walther Negrão e Antônio Calmon. A Globo, entretanto, optou por adiá-la e exibir uma novela que já estava pronta: Pacto de Sangue, uma trama de época.

Os impasses sobre Top Model, porém, continuavam. A princípio cogitada para o horário das seis, Daniel Filho (então diretor da Central Globo de Produções) a promoveu para a faixa das 19 horas, “rebaixando” O Sexo do Anjos, que estava então inicialmente prevista para este horário. Assim, no segundo semestre de 1989, estrearam Top Model, às sete, e O Sexo dos Anjos, às seis (substituindo Pacto de Sangue).

Lua Cheia de Amor – Perigosas Peruas

Lua Cheia de Amor

Em 1990, Lua Cheia de Amor estava cogitada para a faixa das seis horas, em substituição a Barriga de Aluguel, enquanto a nova novela das sete (substituindo Mico Preto) seria Perigosas Peruas, de Carlos Lombardi.

Os planos mudaram: Lua Cheia de Amor entrou no lugar de Perigosas Peruas, que, por sua vez, foi adiada e só estreou em 1992, depois de outra novela: Vamp, de Antônio Calmon.

Despedida de Solteiro – Mulheres de Areia

Despedida de Solteiro

Em 1992, após a novela Felicidade, era a vez do remake de Mulheres de Areia entrar no horário das seis. Todavia, Glória Pires, escalada para viver as gêmeas Ruth e Raquel, engravidou de sua segunda filha, Antônia, e a produção de Mulheres de Areia foi adiada.

Walther Negrão foi então convocado e às pressas e escreveu Despedida de Solteiro, para que a novela de Ivani viesse na sequência. Negrão escreveu sua novela a partir de cenários e uma cidade cenográfica, em vez de tramas ou personagens, como deveria ser. A cidade cenográfica de Mulheres de Areia estava pronta e o autor deveria criar uma novela a partir de uma planta.

Velho Chico – A Lei do Amor

Velho Chico

A Lei do Amor iria estrear em março de 2016, após A Regra do Jogo. Com a necessidade de realocar as ambientações do horário (que há uma década não saía do eixo Rio-São Paulo, com histórias urbanas), optou-se por uma trama rural e nordestina – Velho Chico, de Benedito Ruy Barbosa – adiando assim a estreia da novela urbana e paulista de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari.

Outra explicação para o adiamento de A Lei do Amor foi que a novela tinha entrechos políticos que iriam coincidir com o período de eleições municipais. No entanto, Velho Chico acabou ela mesma exibindo tramas de forte apelo político.

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A Dona do Pedaço – Amor de Mãe

A Dona do Pedaço

Em 2019, não era a vez de Walcyr Carrasco escrever para o horário nobre. Porém, diante do fracasso de O Sétimo Guardião, o então diretor de dramaturgia da Globo, Silvio de Abreu, decidiu adiantar a novela de Carrasco a fim de levantar o moral da faixa. Assim, A Dona do Pedaço foi criada em duas semanas.

Desta forma, Amor de Mãe, de Manuela Dias, inicialmente cotada para substituir O Sétimo Guardião, ficou para depois de A Dona do Pedaço. Se a intenção era levantar a audiência do horário, surtiu efeito. Com sua trama simplista, a novela de Carrasco foi um sucesso. Já Amor de Mãe, seria uma incógnita caso entrasse após a fracassada trama de Aguinaldo Silva.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor