No ano passado, a Globo brindou seus telespectadores com o remake de Pantanal. Agora, a emissora prepara novas versões de Renascer e Elas por Elas. Mas nem sempre essas iniciativas rendem os frutos esperados.

Irmãos Coragem

Em 1995, para as comemorações dos seus 30 anos de existência, o canal programou uma atualização de um de seus maiores sucessos: a novela Irmãos Coragem.

Mas, infelizmente, esta versão se tornou um equívoco por muitos motivos, culminando na saída do diretor Luís Fernando Carvalho da trama.

Horário de Verão como inimigo

Tropicaliente

Irmãos Coragem entrou no ar em 2 janeiro de 1995, em pleno horário de verão. Nesse período, é comum que a quantidade de televisores ligados seja menor e as pessoas passem mais tempo fora de casa. Esse foi um dos motivos apontados para que a novela não tenha emplacado.

O folhetim, que era de Janete Clair e foi atualizado por Dias Gomes, Ferreira Gullar e Marcílio Moraes, atingia apenas 30 pontos, enquanto sua antecessora, Tropicaliente (foto acima), chegou a alcançar índices de 40. A expectativa do canal era que, com o fim das férias, os números melhorassem.

Tema forte

Irmãos Coragem

A luta dos irmãos Coragem (João, Duda e Jerônimo) para recuperar um diamante valioso furtado pelo coronel Pedro Barros, um homem rude e perigoso, foi considerada um tema muito forte para ser exibido às 18 horas. Esta faixa normalmente abrigava as novelas mais românticas ou água com açúcar do canal.

Elenco e equipe discordavam que esse fosse o problema, pois o trabalho era muito bem feito. Entre os adaptadores, o consenso era que, por ser exibida mais cedo, o público masculino, que na primeira versão foi o grande responsável pelo sucesso da trama, ainda estava trabalhando.

“Não acho que seja uma novela muito forte para o horário. Quando criança, eu assistia e adorava. A gente está é perdendo público masculino, que a essa hora está trabalhando”, disse Lilian Garcia, uma das colaboradoras da trama, ao jornal O Globo, em 29 de janeiro de 1995.

Já Marcílio Moraes disse, na mesma matéria veiculada em O Globo, que trabalhava em cima do roteiro original escrito pela autora, cuja linguagem se aproximava do rádio.

“Estamos refazendo e movimentando as cenas. A gente aprende muito, porque é um tipo de dramaturgia muito rico”, contou o autor.

Demissão de diretor

Com tantos culpados, sobrou para a direção do folhetim a culpa pelo mau desempenho no Ibope. Luís Fernando Carvalho (foto acima) foi chamado para uma conversa séria com o Boni, que achava que as cenas lentas e contemplativas estavam afastando o público.

Para Carvalho, não existia nenhuma crise na emissora devido aos baixos índices do remake, mas ele ressaltou que não havia problema algum com o roteiro, considerado adulto para o horário, e que a novela passaria por uma mudança, para tentar fazer com que o texto fosse mais equilibrado para agradar ao público feminino e infantil.

Luís Fernando estava estudando essas alterações e preparava sua saída para assumir a direção da próxima atração das oito da época, a novela O Rei do Gado, que estrearia em junho de 1996. Porém, ele sofreu um baque com a demissão do seu diretor assistente, Mauro Mendonça Filho, por divergências com Mário Lúcio Vaz, que na época era diretor da Central Globo de Produção.

Novo diretor para apagar incêndio

Quando tudo parecia não ter mais solução, o veterano Reynaldo Boury (foto acima) foi convocado para assumir o lugar de Luís Fernando Carvalho. Boury não perdeu tempo e tirou as sequências cinematográficas, imprimindo mais agilidade às cenas e ação aos personagens.

Mas isso gerou certa mágoa em Carvalho, que lamentou, dizendo que todo seu trabalho havia sido ‘jogado fora’.

Por fim, com tantos desajustes em seu decorrer, Irmãos Coragem não atingiu a repercussão esperada e ficou muito aquém da versão original. Seu capítulo final foi exibido em 1º de julho de 1995, totalizando 155.

Sorte maior teve a atração seguinte, História de Amor, obra de Manoel Carlos protagonizada por Regina Duarte, esta sim marcada pelo sucesso.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor