A ousadia de Antônio Calmon lhe rendeu um estrondoso sucesso em 1991, com a novela Vamp. A trama que falava de vampiros marcou a teledramaturgia e até hoje é lembrada. Há exatamente 19 anos, em 26 de agosto de 2002, o autor resolveu reviver esta temática e estreava O Beijo do Vampiro, que fez uma legião de fãs, conquistados com a ‘nova geração’ vampiresca, integrante da última boa novela de Calmon.

A trama, dirigida pelo saudoso Marcos Paulo, virou uma febre e teve até álbum de figurinhas. As crianças e os adolescentes foram os principais fãs do folhetim, que teve um grandioso elenco, personagens cativantes e uma história bem construída, repleta de ótimos efeitos especiais, apesar de não ter conquistado o mesmo êxito de Vamp no Ibope. Um enredo de amor, entremeado por elementos sobrenaturais, drama, humor e a clássica luta do bem contra o mal foram as principais marcas deste folhetim tão bem feito.

A trama começa no século XII, com o vampiro Bóris Vladesco (Tarcísio Meira) se apaixonando perdidamente pela princesa Cecília (Flávia Alessandra), que vive um romance com o conde Rogério (Thiago Lacerda). No dia do casamento da princesa com o conde, o vampiro mata o noivo de seu grande amor em um duelo, assim como toda sua família. Desesperada, a mulher se suicida, obrigando Bóris a ficar sem seu objeto de obsessão durante séculos.

Quase 800 anos depois, mais especificamente, na década de 2000, o vampiro tem um filho com uma amante que morre após o parto. Para proteger a criança do ódio de sua esposa (Mina – Cláudia Raia), Bóris troca a criança por outra na maternidade de Maramores, lugar onde vive Lívia e Beto, casal que tem o filho trocado, onde ambos são reencarnações de Cecília e Rogério. Portanto, eles acabam criando um vampirinho (Zeca – Kayky Britto) que só descobrirá sua origem aos 13 anos, quando seus instintos vampirescos surgem.

E quando o garoto completa esta idade, Bóris volta à cidade, junto com Mina, para recuperar seu herdeiro, evitando assim a extinção de sua raça. A trama principal reúne os clichês dos contos de fadas e dos folhetins, fazendo assim uma ótima mistura. Toda esta situação foi muito bem desenvolvida pelo autor, deixando a história atrativa tanto para os adultos quanto para as crianças.

Para deixar o conjunto ainda melhor, foi inserido uma sucessão de personagens interessantes e muito bem interpretados por um elenco composto de grandes nomes. Tarcísio Meira fez de Bóris Vladesco um grandioso personagem, que entrou na lista dos mais marcantes de sua carreira – ganhou, inclusive, o Troféu Imprensa de Melhor Ator pelo seu trabalho. Cláudia Raia deu um show na pele da diabólica Mina, fazendo ainda uma dupla ótima com Betty Gofman, intérprete da vampira Amelie, cuja gargalhada aguda era sua principal característica. Flávia Alessandra convenceu na pele da mocinha Lívia, fruto da paixão do grande vilão e também do íntegro Augusto, vivido muito bem por Marco Ricca.

Júlia Lemmertz se destacou com sua vilã Marta, mulher que ficou cega após provocar um acidente de carro para matar sua irmã, mas que recuperou a visão após ser transformada em vampira, passando a ser chamada de Marta Morta. Luis Gustavo divertiu com seu atrapalhado caçador de vampiros Galileu, que, por ironia do destino, teve o filho Bartô (Tato Gabus Mendes ótimo) transformado em vampiro. Deborah Secco esbanjou sensualidade com sua vampira Lara, enquanto que Guilheme Piva brilhou com seu inesquecível Monstro do Espelho.

Já Glória Menezes se destacou com a esotérica Zoroastra, mãe de Lívia, responsável por inúmeros bons conselhos que dava aos outros. É preciso destacar também o grande Ney Latorraca que deu vida ao vampiro Nosferatu, rival de Bóris, que mesclava humor com vilania. Outro destaque era Ezequiel, figura celestial que amedrontava todos os vampiros com seus poderes, interpretada pelo grande Celso Frateschi.

Outros ótimos atores que fizeram parte deste primoroso elenco foram Rosane Gofman (Vampreta), Ana Rosa (Telma), Mário Schoembergher (Professor Antunes), Cláudia Maura (Matilde), Zezé Motta (Nadir), Tony Tornado (Godzilla), Íris Bruzzi (Mirtes), Maria Gladys (Gracinha), Eduardo Galvão (Armando), Cecília Dassi (Bia), Juliana Lohmann (Pandora), Gabriel Braga Nunes (Victorio) e Eloísa Mafalda (Dona Carmem), grande atriz que se despediu das novelas justamente nesta produção.

Vale destacar ainda a trilha sonora, que foi impecavelmente escolhida, principalmente a internacional. Eram inúmeras músicas de qualidade, onde várias ficaram marcadas: The Scientist (Coldplay), A Thousand Miles (Vanessa Carlton), Another Brick In The Wall (Arena), Vater Unser (E Nomine), Papa Don’t Preach (Kelly Osbourne), Fool (Shakira) e Fairy Tale (Shaman).

O Beijo do Vampiro foi uma excelente novela e acabou sendo a última boa trama de Antônio Calmon, que se equivocou posteriormente com as fracas Começar de Novo e Três Irmãs. Coincidentemente (ou não), o autor não foi mais chamado pela emissora para escrever outra novela e seu último trabalho foi a série Na Forma da Lei, em 2010. A história dos vampiros foi muito interessante de ser acompanhada e merecia uma reprise, que parece estar programada para breve no canal Viva. Foi um folhetim que deixou sua marca e até hoje é citado pelos fãs com carinho.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor