Amore mio: novela que estreava em 1999 gerou febre italiana no Brasil

20/09/2021 às 6h04

Por: Sergio Santos
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Exibida entre 20 de setembro de 1999 e 2 de junho de 2000, Terra Nostra foi mais um fenômeno de audiência de Benedito Ruy Barbosa, depois do autor ter colhido os frutos do imenso sucesso de O Rei do Gado em 1996. A novela foi dirigida por Jayme Monjardim e teve o romance de Matteo e Giuliana como foco central de uma trama que contou um pouco sobre a imigração italiana no Brasil.

Ambientada entre o final do século XIX e início do século XX, a maior parte da história se passa nas fazendas de café do interior de São Paulo, locais cobiçados por vários italianos que vêm ao Brasil procurando melhores condições de trabalho. O enredo focou na importância da imigração na formação da sociedade brasileira através do casal interpretado por Ana Paula Arósio e Thiago Lacerda, que precisou enfrentar inúmeros obstáculos e várias adversidades para ficar junto.

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A trama foi iniciada em 1894 com o navio Andrea I deixando o porto de Gênova, na Itália, e cruzando o Oceano Atlântico, transportando várias camponeses italianos que fugiam da crise econômica do seu país para tentar a sorte em terras brasileiras. Afinal, os fazendeiros estavam precisando de mão de obra nas plantações de café depois da libertação dos escravos. E justamente neste navio está Giuliana com seus pais (Júlio e Ana – Gianfrancesco Guarnieri e Bete Mendes), além de Matteo, que viaja só em busca de uma vida melhor, pois não tem família.

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A italiana se encanta com seu compatriota, sendo plenamente correspondida. Os dois se apaixonam, mas a primeira adversidade aparece logo neste começo, pois a peste negra se alastra no navio, matando os pais da mocinha e deixando Matteo em estado grave. A cena em que os corpos de Júlio e Ana são jogados ao mar – para que a doença não se espalhasse -, vale mencionar, foi tristíssima e forte. Em meio a tanta desgraça provocada pela epidemia, o mocinho consegue sobreviver e fica ao lado de Giuliana, que a partir daquele momento estava tão sozinha quanto o seu namorado. Apesar destas sequências terem sido exibidas apenas no comecinho da novela, foram muito marcantes.

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Outra sequência emblemática do navio, aliás, foi protagonizada por Antônio Calloni e Lu Grimaldi, quando seus personagens (Bartolo e Leonora) se desesperam quando veem os tripulantes quase jogando o filho deles no mar. Na verdade, todos achavam que a criança estava morta por causa da peste, mas ela chora quando é arrancada dos braços da mãe. Foi difícil não ter chorado vendo aquele momento tão bem interpretado pelos atores.

Após estes instantes de terror em alto mar, Matteo e Giuliana chegam ao Brasil, mas se perdem no desembarque, e acabam seguindo destinos diferentes. Enquanto Giuliana é acolhida pelo grande amigo do seu pai, o imigrante Francesco (Raul Cortez) – que ficou rico no país -, Matteo vai parar na fazenda do coronel Gumercindo (Antônio Fagundes), onde arruma emprego na colheita de café. Os dois nunca mais se veem e acabam se envolvendo com outras pessoas, justamente integrantes das famílias que os abrigaram. Esta guinada, obviamente, provoca novos desdobramentos na novela, que fica ainda mais atrativa com os conflitos que surgem.

O poderoso Francesco é casado com a arrogante Janete (Ângela Vieira em um dos seus melhores papéis) e o filho deles, Marco Antônio (Marcello Antony), se apaixona perdidamente por Giuliana, que está grávida de Matteo. A mãe do rapaz odeia italianos e não aceita esta paixão, causando um clima péssimo na família. A personagem, inclusive, pratica a maior maldade da trama: faz o parto da ‘nora’ junto com a governanta Mariana (Tânia Bondezan) e, aproveitando o instante que a italiana desmaia, manda a empregada levar o bebê para um orfanato. Assim que ela acorda, a vilã diz que a criança nasceu morta.

Já Matteo vira porta-voz dos imigrantes da fazenda e entra em conflito com o escravocrata Gumercindo, que não consegue se acostumar com aquelas novas ‘medidas’. O rapaz ainda vira alvo da cobiça de Rosana (Carolina Kasting), que arma uma cilada para forçá-lo a se casar com ela. Como ele é acusado injustamente de ter abusado da moça, acaba casando e ganhando a confiança do poderoso fazendeiro, que tem outra filha (Angélica – Paloma Duarte) e um casamento infeliz com Maria do Socorro (Débora Duarte) – a quem culpa por nunca ter tido um filho homem. Porém, o mocinho tem uma relação infeliz com Rosana e a abandona para procurar Giuliana. Quando finalmente a encontra, a vê casada com Marco Antônio e grávida – sem imaginar que o filho era dele e que seria abandonado pela cruel Janete assim que nascesse.

A trama realmente conseguiu envolver o telespectador e o sotaque italiano dos personagens caiu no gosto popular. Antônio Fagundes e Raul Cortez foram brilhantes mais uma vez e repetiram a boa parceria de O Rei do Gado. O personagem de Raul, aliás, formou um casal que foi um dos melhores da história: Francesco e Paola (estreia de Maria Fernanda Cândido na Globo) esbanjaram química e uma das cenas mais lembradas é a do par tomando banho de banheira. A expressão ‘Amore mio’ se popularizou, também, por causa deles. O romance ainda serviu de castigo para Janete, que viu o marido abandoná-la para ficar justamente com uma italiana. Fagundes, por sua vez, teve uma ótima sintonia com Débora Duarte, além de Paloma Duarte e Carolina Kasting.

Thiago Lacerda e Ana Paula Arósio honraram o protagonismo da história e o romance de Giuliana e Matteo foi bonito de se acompanhar, ainda que os personagens tenham passado uma boa parte separados. Química não faltou e nem emoção, uma vez que os atores protagonizaram muitas cenas difíceis e dramáticas. O final da novela, inclusive, apresentou a esperada sequência em que os italianos encontram o filho deles. A mocinha achou a criança em um orfanato justamente no último capítulo e foi um dos momentos mais lindos do folhetim, que fechou seu ciclo em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial.

A novela não teve muitos personagens, mas além de todos os atores citados, o elenco ainda contava com Cláudia Raia (Hortênsia), Lolita Rodrigues (Dolores), Gabriel Braga Nunes (Augusto), Arlete Salles (Irmã Tereza), Chico Anysio (Josué), Antônio Abujamra (Coutinho), Elias Gleizer (Padre Olavo), Roberto Bonfim (Justino), Jackson Antunes (Antenor), José Dumont (Batista), Ilva Niño (Irmã Letícia), Débora Olivieri (Inês), Gésio Amadeu (Damião), Bianca Castanho (Florinda), Adriana Lessa (Naná), Raymundo de Souza (Renato), Danton Mello (Renato), entre outros.

Terra Nostra foi uma grandiosa novela e Benedito Ruy Barbosa estava inspiradíssimo quando criou esta trama, ao contrário do que ocorreu em 2002, ano que foi ao ar Esperança – seu maior fracasso, baseado, ironicamente, nesta obra de sucesso. Dirigido com competência por Jayme Monjardim, este folhetim, que tinha a Itália no DNA, foi uma das grandes produções da Globo, se tornando ainda uma das obras mais vendidas no exterior (mais de 95 países). História que ficou na lembrança do público.

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