Exibida entre 7 de novembro de 2005 e 7 de julho de 2006, “Belíssima” foi mais um grande sucesso de Silvio de Abreu. A novela, dirigida por Denise Saraceni, contou com todos os elementos tão apreciados pelo autor: comédia, personagens populares, vilões perversos e uma boa dose de suspense. A produção substituiu a problemática “América”, de Glória Perez, e foi substituída pela irregular “Páginas da Vida”, de Manoel Carlos.

A história tinha como foco central a ‘Belíssima’, uma empresa referência na comercialização de roupas íntimas, que era presidida por Júlia Assumpção (maravilhosa Glória Pires), a mocinha da trama, que sofria nas mãos da sua avó: a cruel Bia Falcão (grandiosa Fernanda Montenegro). A mãe da protagonista (Stella Assumpção, uma famosa e linda modelo de 1960) morreu em um acidente de avião, deixando ela e seu irmão Pedro (Henri Castelli) órfãos. Os dois, então, acabaram sob os cuidados de Bia.

Pedro se envolve com Vitória (Cláudia Abreu), uma ex-menina de rua, e tem uma filha com ela (Sabina – Marina Ruy Barbosa), que é muito amada pela poderosa empresária. Mas Bia Falcão não admite este relacionamento e inferniza a vida da nora. Pedro e Vitória, aliás, vão morar na Grécia, juntamente com Sabina, e lá conhecem o simpático Nikos Petrákis (Tony Ramos impecável), com quem estabelecem uma forte amizade.

O grego é um sujeito bonachão que sonha em encontrar o filho (Cemil – Leopoldo Pacheco), levado para o Brasil, antes mesmo de nascer, pela mãe, a honesta Katina (Irene Ravache). Ela fugiu para o Brasil com o turco Murat (Lima Duarte), que acha que é o pai do rapaz.

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Os dois, inclusive, tem mais dois filhos: a ardente Safira (Cláudia Raia) —– que tem três filhos, cada um com um pai diferente (Giovanna – estreia de Paolla Oliveira nas novelas, Maria João – Bianca Comparato e Isaac – Vitor Morosini) —– e o atrapalhado Narciso (Vladimir Brichta). Safira, aliás, se envolve com Pascoal (Reynaldo Gianecchini), um mecânico bronco e burro, que tem como parceiro o Jamanta (Cacá Carvalho), inesquecível personagem de “Torre de Babel”, trazido de volta por Silvio de Abreu.

Além de todas estas ótimas tramas, repletas de atrativos personagens, havia também o atrativo núcleo protagonizado por duas vedetes hilárias: Mary Montilla (Carmem Verônica) e Guida Guevara (Íris Bruzzi). Elas divertiram o público e as atrizes deram um show ao lado de Pedro Paulo Rangel, que interpretava o simpático Gigi (irmão de Bia Falcão), cuja atenção era sempre disputada pelas rivais. Vale destacar também a perua Ornella (Vera Holtz), melhor amiga de Bia, que tinha uma queda pelos garotões, especialmente por Mateus (Cauã Reymond), filho mais velho de Cemil.

Outra trama interessante foi a que envolvia a obsessão de Alberto (Alexandre Borges / ex-marido de Safira) pela empregada Mônica (Camila Pitanga), que era apaixonada por Cemil. E Silvio ainda conseguiu enganar o telespectador no núcleo encabeçado pelo aparentemente bondoso Seu Quiqui (Serafim Gonzalez), que vivia sendo ‘atacado’ pelo seu vizinho Bento (Nelson Xavier), que parecia ser um mau-caráter. Mas na verdade o bandido era Aquilino, que se revelou um diabólico vilão. Ele era ex-matador de aluguel e pai de André (Marcello Antony), homem dissimulado, que se envolveu com Júlia por interesse.

A história sofreu duas grandes reviravoltas: a primeira quando Pedro foi assassinado na Grécia —–fazendo Nikos, Vitória, seu irmão (Tadeu – Thiago Martins) e Sabina virem ao Brasil —– e a segunda quando Bia Falcão forjou sua própria morte. O autor soube conduzir todos os suspenses com maestria e ainda os mesclou com ótimos e inspirados núcleos cômicos. Já na reta final, a revelação impactante sobre o fato de Bia ser a mãe de Vitória, mulher que tanto infernizou, proporcionou uma cena magnífica protagonizada por Cláudia Abreu e Fernanda Montenegro.

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Todo o roteiro foi muito bem entrelaçado e era um prazer acompanhar todo o desenvolvimento daqueles núcleos tão ricos dramaturgicamente. Ter uma Fernanda Montenegro interpretando a grande vilã da história foi um privilégio e tanto do autor, que ainda a colocou para contracenar com Glória Pires, Pedro Paulo Rangel, Cláudia Abreu, Vera Holtz, Ivone Rofmann (governante Matilde) e Italo Rossi (o advogado Fernando Medeiros). Vale lembrar que o termo “Pobreza pega, pega como sarna!”, usado pela víbora, virou uma marca.

A química entre Glória Pires e Tony Ramos (seus personagens se apaixonaram assim que se viram) fez deste casal um sucesso, que viria a se repetir futuramente nos filmes “Se eu fosse você 1 e 2”. A mesma sintonia pôde ser vista entre Cláudia Raia e Reynaldo Gianecchini (que brilhou vivendo seu primeiro tipo cômico na carreira), cujo par elevava a temperatura da oficina mecânica de Pascoal. Irene Ravache e Lima Duarte também brilharam vivendo o bonito e conturbado romance de Katina e Murat.

Também é preciso destacar Jussara Freire e Marcelo Médici, que fizeram uma ótima e divertida dobradinha vivendo mãe e filho. Dona Tosca se irritava constantemente com a gagueira de Fladson, que trabalhava com ela no açougue da família. E a novela foi a última que contou com a luxuosa participação do saudoso Gianfrancesco Guarnieri, que deu vida ao simpático Pepe Molina. O ator sempre esteve presente nas obras de Silvio e assim foi até o fim da vida.

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Além dos grandes nomes citados, também brilharam Carolina Ferraz (a ricaça Rebeca), Maria Flor (Taís, menina que se envolveu em uma rede de prostituição), Guilherme Weber (o mimado judeu Freddy), Ada Chaseliov (a judia Ester), Livia Falcão (a empregada Regina da Glória), Via Negromonte (a barraqueira Diva), Giácomo Pinotti, Leona Cavalli (Valdete), Teca Pereira, Carlos Takeshi, entre tantos outros.

“Belíssima” foi mais um grande êxito de Silvio de Abreu. A novela fez um merecido sucesso e suas inúmeras qualidades honraram a elevada audiência conquistada e a boa repercussão da bem construída história. Um folhetim que fez jus ao horário nobre da Globo.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor