No ar no Vale a Pena Ver de Novo, Alma Gêmea (2005) é um dos maiores sucessos da carreira de Walcyr Carrasco. Tanto que a novela tem repetido o sucesso na nova reprise, elevando a audiência do final da tarde da Globo.

Mariana Ximenes em A Padroeira
Mariana Ximenes em A Padroeira

Mas, apesar dos inúmeros sucessos da carreira, Carrasco não acertou sempre. No ano passado, por exemplo, o autor precisou fazer inúmeras alterações para conseguir aumentar a audiência de Terra e Paixão. Antes disso, ele havia recorrido ao mesmo expediente para “salvar” sua segunda novela na emissora.

A Padroeira (2001), que estreava há exatamente 23 anos, em 18 de junho de 2001, foi concebida e implantada em tempo recorde. Mas ela não correspondeu às expectativas e precisou passar por uma ampla reformulação para emplacar.

Além disso, a novela, que contava a história de como a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi encontrada, chegou a causar temor na Igreja Católica.

Às pressas

Walcyr Carrasco estreou na Globo assinando o sucesso O Cravo e a Rosa (2000) com Mário Teixeira. O êxito foi tanto que o autor emendou o trabalho num novo projeto também encabeçado pelo diretor Walter Avancini. Assim nasceu A Padroeira, que substituiu Estrela-Guia (2001) – que foi a sucessora de O Cravo e a Rosa e ficou apenas três meses no ar.

A nova trama tinha como mote principal o encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida por pescadores no Rio Paraíba e os milagres atribuídos a ela. Na época, o então reitor do Santuário de Aparecida, José Ulysses da Silva, declarou estar apreensivo com possíveis “distorções da história real e deformações religiosas”. Mas, com a novela no ar, este temor foi superado.

“Estávamos ansiosos para ver como a Globo iria retratar a história, mas, até agora, a novela superou as nossas expectativas. Pelo menos no que diz respeito ao conteúdo teológico, a novela está muito bem”, afirmou Darci José Nicioli, então administrador da Basílica, à Folha de S. Paulo de 24 de junho de 2001.

Além da história da santa, A Padroeira também trazia elementos de As Minas de Prata, romance de José de Alencar que já havia virado novela na Excelsior em 1966. Deborah Secco vivia a mocinha Cecília, cortejada pelo mocinho Valentim (Luigi Baricelli) e alvo do vilão Fernão (Maurício Mattar).

Mudanças

A Padroeira estreou derrubando a audiência da faixa das seis da Globo, que vinha em uma sucessão de êxitos. Além disso, o diretor Walter Avancini se ausentou logo no início da obra por problemas de saúde – ele morreu em decorrência de um câncer na próstata em setembro daquele ano.

Sem Avancini, Roberto Talma assumiu a direção e implantou várias mudanças na novela. A trama perdeu o ar soturno e aboliu as imagens escuras, ficando mais colorida. Além disso, Walcyr Carrasco aboliu núcleos, sumiu com vários personagens e criou novos tipos. O autor também modificou perfis de personagens que já existiam, como Imaculada (Elizabeth Savalla), que passou de vilã amargurada a tipo cômico.

Entrou em cena um grupo de artistas mambembes, formado por Dorotéia (Susana Vieira) e Faustino (Rodrigo Faro), além do juiz Honorato (Taumaturgo Ferreira) e sua filha Zoé (Cecília Dassi). Já Domingos (Carlos Gregório), Filipe (Isaac Bardavid) e Mariquinhas (Denise Milfont), entre outros, deixaram a produção.

Reprise fora da Globo

Mesmo com as mudanças, A Padroeira demorou a engrenar e só entrou nos trilhos na reta final, como aconteceu recentemente com Terra e Paixão. Provavelmente, os fracos resultados inibiram a Globo de apostar numa reprise do folhetim.

A Padroeira, portanto, foi a única novela das seis da galeria de Walcyr Carrasco a não ganhar uma segunda chance no canal, enquanto títulos como O Cravo e a Rosa e Chocolate com Pimenta (2003) já ganharam repetecos em várias oportunidades. A trama também nunca foi revisitada no Viva.

Curiosamente, a novela ganhou uma reprise fora da Globo. Em 2017, a TV Aparecida reapresentou a produção como parte das comemorações dos 300 anos da descoberta da imagem. A Globo não cobrou pela cessão da trama à TV religiosa, que arcou apenas com os direitos de imagem do elenco e da trilha sonora.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor