Em 20 de maio de 1991, a Globo lançava O Dono do Mundo, problemática novela escrita por Gilberto Braga. A trama contava a história do inescrupuloso Felipe Barreto (Antonio Fagundes), um homem capaz de tudo para demonstrar seu poder.

Malu Mader em O Dono do Mundo
Malu Mader em O Dono do Mundo (Divulgação / Globo)

Inicialmente, a novela não foi muito bem aceita pelo público, que condenou a mocinha Márcia (Malu Mader). Com tamanha rejeição, o autor precisou fazer uma mudança radical na trama, na tentativa de reverter a crise e fazer a novela emplacar.

O Dono do Mundo derrubou a audiência do horário, mas conseguiu superar a má fase depois das mudanças.

Qual a história de O Dono do Mundo?

O Dono do Mundo contava a história do poderoso cirurgião plástico Felipe Barreto. Quando seu funcionário Walter (Tadeu Aguiar) se casa com Márcia, uma jovem virgem, Felipe aposta com o amigo Júlio (Daniel Dantas) que conseguirá levar a moça para a cama antes do noivo.

Para isso, ele dá de presente ao casal uma viagem de lua de mel para o Canadá e vai junto, alegando negócios no país. Ali, após uma série de artimanhas para afastar Walter de Márcia, ele consegue ter uma noite de amor com a mocinha.

Ao descobrir a traição, Walter sai dirigindo sem rumo e acaba morrendo. Já Márcia acaba sendo responsabilizada pela desgraça e é abandonada por todos. Com isso, ela passa a se dedicar a destruir a vida de Felipe Barreto, o homem que acabou com sua vida.

Novela problemática

O Dono do Mundo - Antonio Fagundes e Malu Mader
Malu Mader e Antonio Fagundes em O Dono do Mundo (Divulgação / Globo)

Depois do sucesso de Vale Tudo (1988), que escreveu com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, Gilberto Braga voltou ao ar com mais uma novela na qual buscava discutir a ética. No entanto, ele não contava que Felipe Barreto seria defendido pelo público, enquanto Márcia foi condenada.

Além disso, o autor pensou a novela como uma crítica social, mostrando o quanto os ricos eram impiedosos com os pobres, e acabou pesando a mão. Tudo isso serviu para que a novela fosse rejeitada.

“Foi uma confusão danada. O Dono do Mundo eu acho a primeira semana a melhor coisa que eu já fiz na vida. Muito forte, embora totalmente errada como novela de televisão. Porque era muito cruel e penosa para o pobre ver. Pobre levando porrada e não tendo como se defender. A audiência começou a cair e eu tive que mudar tudo”, contou Braga ao Memória Globo.

Mocinha x vilão

Para “salvar” O Dono do Mundo, Gilberto Braga fez Márcia comer o pão que o diabo amassou, na tentativa de fazê-la conquistar o perdão do público. Assim, o autor fez com que a mocinha atacasse o vilão com um bisturi, levando-a para a cadeia.

“Eu tinha uma heroína que o público não gostava e um vilão que o público admirava”, observou o veterano.

Auxiliada pela cafetina Olga Portela (Fernanda Montenegro), Márcia consegue colocar Felipe na cadeia, mas acaba se apaixonando verdadeiramente por ele. Felipe também entra em um arco de redenção, o que fez a audiência subir. No entanto, foi tudo um truque: no final, é revelado que Felipe continua o mesmo mau-caráter de sempre.

“Retrocedemos”

Em 2014, O Dono do Mundo foi reprisada no Viva. Na ocasião, Malu Mader relembrou toda a dificuldade que passou durante as gravações da trama, já que a história tomou rumos diferentes do que foi inicialmente planejado.

“Quero sempre me preparar o máximo possível em um trabalho. Mas, ao mesmo tempo, foi bom porque, apesar de toda a dificuldade, ali começou um longo caminho de aprendizado profissional e humano em que percebi ser impossível me preparar para as surpresas tanto na vida quanto nas novelas”, afirmou a artista ao jornal O Estado de S. Paulo, em 24 de outubro de 2014.

Questionada se a sociedade evoluiu de 1991 para cá, Malu Mader revelou-se pouco otimista.

“Não sei, não quero ser pessimista. Acho até que em certo sentido caminhamos um pouco. Por outro lado, retrocedemos. Houve um recrudescimento do fundamentalismo religioso. Surpreendem-me esses grupos de jovens querendo casar virgens. Tudo bem, cada um vive como quer, mas parece uma volta ao passado. Talvez para esses jovens a rejeição a Márcia será ainda maior”, palpitou ela, que também disse que não acreditava que o público veria Márcia como vítima. “Acho que não. Nós ainda vivemos em um mundo extremamente machista”, completou.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor