Novela das sete se deu bem ao ignorar equívoco de Amor de Mãe
11/12/2021 às 15h13
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Ao longo do mês de dezembro, estamos relembrando os destaques positivos e negativos da televisão brasileira em 2021. Hoje, vamos falar de Salve-se Quem Puder.
A novela chegou ao fim em 17 de julho de 2021 como o melhor trabalho de Daniel Ortiz até agora. A premissa da novela tinha tudo para cair no absurdo e no ridículo, mesmo na faixa leve das 19 horas. Mas funcionou.
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Os sonhos das protagonistas Luna (Juliana), Alexia (Deborah) e Kyra (Vitória) são interrompidos quando elas presenciam a execução de um juiz (vivido por Ailton Graça) e são obrigadas a viver sob custódia do Programa de Proteção à Testemunha.
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Para sobreviver, elas mudam o nome, a aparência, o estilo de vida e vão morar na fictícia Judas do Norte, no interior de São Paulo, depois que são dadas como mortas.
Luna assumia o nome de Fiona, Alexia virava Josimara e Kyra era Cleyde, novas pessoas com um padrão de vida bem diferente. Mas tudo dá errado e o trio acaba voltando para São Paulo.
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Início teve superprodução
O início da novela, ainda em 2020, teve um clima de superprodução. Isso porque abusaram dos efeitos especiais para a reprodução de um furacão no México, bem no dia que as protagonistas testemunham o assassinato que transforma suas vidas.
Uma qualidade do folhetim vista logo no começo foi a habilidade em mesclar sequências de ação com situações cômicas, o que costuma ser uma tarefa complicada. Não demorou para o público comprar a história e se envolver com os conflitos já promovidos diante de tantas situações um tanto quanto inusitadas.
A trama teve um humor farsesco e infantil, o que não é um demérito, apenas uma característica. E o elenco conseguiu entender bem a proposta da novela, após um início um pouco inseguro. Os personagens caíram no gosto do público e o sucesso de audiência foi quase imediato.
Gravações interrompidas
O enredo emplacou e tudo se encaminhava bem. A audiência estava em torno dos 29 pontos, índice excelente para a faixa. Todavia, a trama sofreu uma interrupção por conta da pandemia do novo coronavírus.
As gravações foram paralisadas em março de 2020 e retomadas apenas em setembro, com perdas no elenco, redução do número de capítulos e entrada de novos personagens. Foram gravados durante a pandemia 53 capítulos e a obra perdeu 55 capítulos. A continuação no ar só foi iniciada em maio de 2021, após a reprise de toda a chamada primeira fase.
E o risco de se perder por completo, como ocorreu com Amor de Mãe, era alto. Mas o autor se saiu muito bem e conseguiu deixar seu roteiro mais atrativo. Ainda acertou quando transformou as fugitivas em ‘heroínas’ atrapalhadas, em um estilo parecido com As Panteras, mas sem inteligência alguma.
A diminuição do número de capítulos evitou a famigerada ‘barriga’ (o período de enrolação, quando nada de muito relevante acontece durante semanas) e o foco maior no trio protagonista deixou a novela bem mais dinâmica.
Vale lembrar que Ortiz deixou um ótimo gancho no término da primeira parte: a vilã Dominique (Guilhermina Guinle) flagrando Luna viva e tentando matá-la.
Acerto ao ignorar a pandemia
A continuação da sequência, muito bem dirigida pela equipe de Fred Mayrink, ficou tão perfeita que foi difícil perceber que era fruto de gravações repletas de protocolos sanitários. E as cenas de ação agradaram.
Aliás, ter ignorado a pandemia foi o maior acerto da retomada. Uma das causas para o naufrágio de Amor de Mãe foi a pesada inserção do coronavírus no enredo (foto acima).
A segunda parte apresentou ótimos ganchos em praticamente todos os capítulos. Fora o atrativo de ter sido a única novela inédita da Globo no momento.
A equipe disfarçou com habilidade as limitações impostas pela pandemia e o foco quase total em cima dos desdobramentos do núcleo principal, incluindo os dilemas das mocinhas em seus respectivos triângulos amorosos, foi o bastante para prender o telespectador e promover um bom engajamento nas redes sociais.
Até a entrada de novos personagens não prejudicou o roteiro e as alternativas para os intérpretes que precisaram se afastar foram satisfatórias, como Otávio Augusto (Inácio), do grupo de risco, aparecendo por vídeo-chamada e Sabrina Petraglia (Micaela) – na época grávida do segundo filho – protagonizando uma bonita despedida ao lado de Marcos Pitombo (Bruno).
Também foi uma boa ideia manter Marianna Armellini na trama, mesmo após a saída repentina de Micaela.
A estratégia da criação de uma ‘gêmea boa’ (a falsa puritana Marlene) funcionou, pois a gêmea má perdeu a função sem o alvo de sua vingança – um conflito que nem atraía antes da paralisação, vale ressaltar.
Ainda serviu para substituir a querida Marilu Bueno, que também era do grupo de risco.
Escalação do elenco foi muito feliz
Aliás, a escalação do elenco, em sua grande maioria, foi muito feliz. A sintonia das protagonistas foi imediata e ficou ainda melhor ao longo dos meses.
Juliana Paiva emocionou com sua Luna, Deborah Secco divertiu com Alexia e Vitória Strada mostrou uma nova faceta cômica na pele da atrapalhada Kyra, após duas mocinhas dramáticas seguidas na ainda inicial carreira.
Guilhermina Guinle e Leopoldo Pacheco convenceram como os grandes vilões Dominique e Hugo; enquanto Rafael Cardoso esteve ótimo na pele do dúbio Renzo, que teve um bonito arco de redenção. Bruno Ferrari brilhou como Rafael e mostrou mais uma vez que merece melhores oportunidades na Globo.
Thiago Fragoso virou um especialista em heróis românticos e novamente roubou a cena (e uma das mocinhas) na pele do sensível Alan. Felipe Simas se firmou de vez no primeiro time da emissora e fez do sofrido Téo um dos destaques da novela. João Baldasserini e Grace Gianoukas fizeram uma divertida dupla como os caipiras Zezinho e Ermelinda, ao mesmo tempo que Murilo Rosa emocionou na pele de Mário.
Já Flávia Alessandra acabou valorizada pela primeira vez por um autor que não foi Walcyr Carrasco. Até hoje os melhores papéis da carreira da atriz foram os escritos pelo escritor e amigo pessoal.
No entanto, Ortiz a presenteou com Helena, que inicialmente parecia uma vilã camuflada até se revelar uma grande sofredora que nunca superou a ‘morte’ da filha e ainda caiu em uma armadilha criada pelo marido. Por sinal, foi dela a cena mais emocionante de Salve-se Quem Puder: o reencontro de Helena e Luna.
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Nem tudo funcionou bem
Porém, nem tudo funcionou. O núcleo da ginástica artística foi o maior prejudicado pela interrupção das gravações e corte de capítulos. Ainda assim, nunca despertou interesse.
A trama de Bia, uma mulher linda que sofria com sua aparência por ter uma pequena cicatriz em virtude de um marcapasso, era forçada e todos os personagens ao redor dela não emplacaram.
Ao menos o casal com Tarantino deu certo. Outro equívoco foi o enredo de Petra (Bruna Guerin). A vilã não aconteceu e a atriz deixou a desejar.
É necessário criticar também o pouco destaque dos atores negros. Não adianta um elenco diverso se não há conflitos relevantes para valorizar os intérpretes. Juliana Alves, Aline Dias (Úrsula) e Dandara Mariana (Bel) eram as rivais das mocinhas brancas e mal apareceram.
Gabriela Moreyra entrou na segunda fase, mas Aurora teve ainda menos destaque que as colegas. Cosme dos Santos (Edgar) foi outro subaproveitado.
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Excesso de triângulos amorosos
O autor também não foi feliz no excesso de triângulos amorosos. Daniel sempre gostou do recurso, mas perdeu a mão. O trio formado por Rafael, Kyra e Alan era o único com uma boa construção e valeria para toda a trama.
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Não havia necessidade de inserir um amor de infância de Luna e forçar uma dúvida que a mocinha já não tinha em relação a Teo apenas para criar um ‘suspense’ no final.
Rodrigo Simas esteve bem como Alejandro, mas com a saída de José Condessa (Juan) bastaria focar nos outros vários dramas da personagem para sustentar a história. E Luna era a que tinha o melhor enredo.
Por sinal, foi um equívoco arrastar os triângulos até os últimos capítulos. Colocar mocinhas indecisas até o fim enfraquece a narrativa dos romances e cria um suspense desnecessário.
Qual a necessidade de deixar as duas bancando as sonsas e fazendo os rapazes de idiotas? A audiência não diminuiria se tudo tivesse sido resolvido antes e deixado para os momentos derradeiros apenas a conclusão da ótima trama sobre a organização criminosa que perseguia as mocinhas.
Mas as qualidades da produção foram maiores que os defeitos. E não é exagero afirmar que o encurtamento da trama beneficiou muito o conjunto.
Salve-se Quem Puder se mostrou um folhetim leve, agradável e que se tornou uma boa alternativa para aliviar um pouco a cabeça do brasileiro em tempos tão difíceis.
Aquele típico entretenimento bobinho e despretensioso, mas não menos necessário. Entre erros e acertos, o saldo ficou positivo. O sucesso foi uma resposta justa do público diante do que foi apresentado.