Novela da Globo foi detonada por incoerências: “Pior trabalho que já fiz”
28/01/2022 às 6h40
Apesar de ter feito sucesso na faixa das seis da Globo entre 1993 e 1994, Sonho Meu foi muito criticada pela falta de lógica em algumas tramas e pela história cansativa ao longo dos meses de exibição.
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Em artigo publicado no dia 28 de novembro de 1993 na Folha de S.Paulo, o especialista Ismael Fernandes enfatizou que a falta de consistência de algumas passagens da novela era constrangedora.
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“Para garantir verossimilhança às tramas, o dramalhão precisa contar com personagens convincentes. Não é o que acontece com Lucas (Leonardo Vieira) e Cláudia (Patrícia França), protagonistas da novela escrita por Marcílio Moraes sob a coordenação de Lauro César Muniz”, destacou.
“Explica-se: o dramalhão pode prescindir da coerência, mas jamais da lógica. Qual telespectador vai se compadecer de Lucas depois da 10ª vez que ele vai à casa da noiva, Cláudia, e ela não o recebe? É possível que, um dia antes do casamento, Cláudia deixe de receber Lucas e ele se conforme? Cláudia, na verdade, se esquiva por estar às voltas com a filha – que o noivo, boa-praça, honrado e compreensivo, não conhece”, continuou.
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O especialista ainda citou que muitas dificuldades de Sonho Meu certamente tiveram início quando se optou pela fusão de duas novelas, A Pequena Órfã e Ídolo de Pano, ambas de Teixeira Filho.
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“Os problemas da fusão incompleta estão latentes nos atropelos da heroína do remake – que tem que cuidar de uma filha doente sem que ninguém saiba (!) e, ao mesmo tempo, entrar de cabeça numa história de amor com o homem de sua vida. Parece que há duas Cláudias em ação. Do contrário, como acreditar que o dia em Curitiba só tem 24 horas?”, completou.
Atores defenderam seus personagens
Apesar disso, alguns artistas do elenco defenderam seus personagens. Leonardo Vieira, por exemplo, falou sobre as inúmeras vezes em que Lucas foi passado para trás.
“Ainda não tive cobrança do público, mas acredito que isso vai acontecer, porque nós vivemos numa sociedade machista e as pessoas não vão aceitar esse comportamento do Lucas. Mas a novela, na verdade, é um folhetim, então vale tudo por amor. Se eu passasse por uma situação semelhante e gostasse de verdade da pessoa, talvez até agisse da mesma forma. Mas ia ter que gostar muito”, ressaltou ao jornal O Dia de 30 de janeiro de 1994.
Na mesma reportagem, a protagonista Patrícia França disse que era filha de pais separados e entendia muito bem o drama de Cláudia.
“A mulher que tem filhos e não tem um marido precisa ser uma batalhadora para sustentá-los, e esse é um drama que hoje faz parte da vida de muitas mulheres no Brasil”, enfatizou.
Autor reconheceu erros
Alguns dias depois, o mesmo jornal O Dia entrevistou o autor Marcílio Moraes, que reconheceu alguns erros da trama, mas defendeu outros pontos.
“Nós retardamos demais a primeira fase da trama. Depois, quando já estava no ar, é que eu vi que deveria ter antecipado a segunda fase, que começou quando o Lucas descobriu as mentiras da Cláudia”, explicou em 20 de janeiro de 1994. “O problema é que a crítica é feita em cima daquilo que já está no ar, mas sempre dá para se tentar corrigir alguma coisa”, completou.
“Pior trabalho que já fiz”
Quem não gostou nada da situação foi José de Abreu, que vivia o vilão Geraldo e detonou a trama enquanto ela estava no ar, causando um climão nos bastidores.
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“É o pior trabalho que já fiz. A trama não tem pé nem cabeça, está repleta de contradições. O próprio Geraldo é um personagem esquizofrênico. Um dia, dá porrada. No outro, chora como criança. Parece que os autores do texto não conversam entre si”, disparou na Folha de S.Paulo de 23 de abril de 1994.
Supervisor da trama de Moraes, Lauro César Muniz rebateu as críticas de Abreu na mesma matéria, mas a rusga ficou por isso mesmo, pelo menos publicamente.
“O Zé costumava nos ligar para elogiar o personagem. Não entendo por que mudou de opinião”, concluiu.