Novela da Globo foi acusada de plágio dentro da própria emissora
10/10/2022 às 10h15
Um dos grandes sucessos dos anos 1980 foi a novela Que Rei Sou Eu?, escrita por Cassiano Gabus Mendes. A trama das 19h usou o fictício reino de Avilan para fazer críticas ácidas e bem-humoradas ao Brasil daquela época. A ideia era muito original, mas o autor Bráulio Pedroso não compactuava com tal impressão…
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Em abril de 1989, Bráulio, autor do clássico Beto Rockfeller (1968), afirmou à imprensa que iria entrar na Justiça e processar a Globo por plágio. Segundo Pedroso, Que Rei Sou Eu? era bem semelhante à novela que ele teria escrito em meados dos anos 1970 e que seria dirigida por Walter Avancini.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
“Ainda não existem elementos suficientes que comprovem um plágio, mas as semelhanças são evidentes. A minha novela, após dois capítulos prontos, teve a produção suspensa com a alegação de que o tema, com implicações políticas, não aguentaria sete meses no ar. Nunca mais se falou na novela, também porque eu estava envolvido em outro trabalho”, declarou o autor em entrevista à revista Amiga.
Enredo e personagens parecidos
LEIA TAMBÉM:
● Que fase: cinco novelas recentes que a Globo se arrependeu de ter feito
● Esquecida pela Globo, novela mais pedida pelo público deve ter outro destino
● Escolha errada: após fiasco, Globo impõe regra para novelas das seis
Em 1977, os veículos que cobriam TV falavam sobre o futuro folhetim de Bráulio Pedroso (foto), que incluiria no elenco Ruth de Souza, Milton Gonçalves, Sandra Bréa e Antônio Pitanga, entre outros. O nome da novela seria Que Rei Sou Eu? e a história destacaria um país organizado igual a uma escola de samba. 20 capítulos haviam sido escritos, mas a Censura barrou e o projeto foi cancelado.
O autor relatou que muitos elementos de Que Rei Sou Eu?, a de Cassiano Gabus Mendes, estavam de acordo com a sinopse dele. Na versão de 1989, o rei de Avilan foi morto depois de ser envenenado. Já na apresentação de Pedroso, o rei também morreria envenenado depois de beber uma caipirinha.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Além disso, a história contaria com dois conspiradores, como os vilões Ravengar (Antônio Abujamra) e Rainha Valentine (Tereza Rachel).
Novelista eximido da culpa
Na entrevista à revista Amiga, Bráulio afirmou esperar o desenrolar dos capítulos para ter evidências mais concretas:
“Quero dar um tempo até ter provas suficientes. Quanto mais a trama se aproxima da realidade brasileira, fica mais evidente o plágio. Mas como eu já tornei público a minha intenção, não creio que ocorram mais coincidências”.
O autor, contudo, eximiu o colega Cassiano (foto) pelas coincidências da obra que foi ao ar.
“Na verdade, o autor não tem culpa do que acontece. Ele entra de gaiato, sem saber que a orientação que recebe tem por base ideias sugeridas por outros”, sugeriu ele, na época fora da Globo.
Fim da história
De fato, o processo não aconteceu. Que Rei Sou Eu? foi um enorme sucesso e é lembrada até hoje. Gabus Mendes, aliás, é sempre reverenciado pelo título, um dos mais marcantes da teledramaturgia brasileira.
Bráulio Pedroso faleceu em 15 de agosto de 1990, aos 59 anos, depois de sofrer uma queda no banheiro de sua casa no Rio de Janeiro, e o assunto foi encerrado. Na época, ele estava em tratativas com o SBT para viabilizar dois projetos – um deles, envolvendo o icônico Beto Rockfeller (Luís Gustavo).
Cassiano Gabus Mendes partiu em 18 de agosto de 1993, aos 66 anos, vítima de infarto. Ele havia acabado de concluir os trabalhos de O Mapa da Mina, em exibição às 19h.
Que Rei Sou Eu? foi reapresentada pela Globo ainda em 1989, tamanho sucesso. Em 2012, o Canal Viva resgatou a trama. O folhetim estrelado por nomes como Edson Celulari, Giulia Gam, Natália do Vale, Aracy Balabanian, Claudia Abreu e Tato Gabus, entre outros, chegou ao Globoplay em março deste ano.