Apesar de ter registrado índices de audiência aquém do que a Globo esperava em 2002, a novela O Beijo do Vampiro conquistou em cheio o seu público-alvo: as crianças. A trama de Antonio Calmon conquistou os pequenos a ponto de ter gerado vários badulaques que fizeram sucesso, como dentes falsos e um álbum de figurinhas.

No entanto, a novela das sete da Globo também se viu envolvida em uma polêmica. Na época da exibição do folhetim, O Beijo do Vampiro foi acusado pela mãe de uma criança de ter influenciado seu filho a atirar no próprio pai. O episódio aconteceu em Taquaritinga, no interior de São Paulo, em setembro de 2002.

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo de 5 de setembro de 2002, uma jovem de 26 anos disse que o filho, uma criança de três anos de idade, deu um tiro no pai – um escrivão da polícia de 32 anos – por influência da trama da Globo. O policial tinha uma arma calibre 38 em casa.

Culpa da TV

A polícia informou ao jornal que a criança conseguiu pegar a arma, que estava em cima da geladeira, encostou-a nas costas do pai e disparou enquanto ele dormia. O projétil perfurou as costas do policial e se alojou no braço esquerdo dele, que chegou a ficar internado na UTI por alguns dias, mas sobreviveu.

Ao jornal, a mãe do menino explicou que o garoto tinha dito que, se visse um vampiro em sua frente, iria matá-lo.

“Foi um choque muito grande, quando acordei com o barulho, a cama estava cheia de sangue e eu não sabia o que tinha acontecido. Pensei que meu filho tinha estourado a cabeça”, disse.

A mãe do garoto também explicou que seu marido não costumava deixar a arma carregada em casa.

“Ele está se sentindo culpado pelo que aconteceu, mas tudo é culpa desses programas [de TV] que mexem com a cabeça das crianças”, cravou ela.

Globo respondeu

Sede da TV Globo

Procurada pela Folha de S. Paulo para se pronunciar sobre o assunto, a TV Globo enviou uma nota que foi publicada em 6 de setembro de 2002. A emissora rebateu as acusações e responsabilizou os pais da criança pelo ocorrido.

“Antes mesmo da conclusão do inquérito que vai apurar as circunstâncias em que supostamente uma pequena criança conseguiu pegar uma arma em cima de uma geladeira e conseguiu dispará-la, vale observar que a novela O Beijo do Vampiro é uma obra de ficção e os ‘vampiros’ são tratados numa linha de comédia. De qualquer forma, quando se deixa uma arma de fogo ao alcance de uma criança, culpar a televisão é inegavelmente não reconhecer o verdadeiro gesto de irresponsabilidade”, dizia a nota da Central Globo de Comunicação.

A polícia que investigava o caso confirmou que o tiro foi disparado pela criança. Na época, a Secretaria Nacional da Justiça afirmou que solicitaria à TV Globo fitas com capítulos de O Beijo do Vampiro para fazer uma nova avaliação de classificação indicativa. O órgão queria constatar se a novela era adequada para ser exibida na faixa das sete da noite. Em 2002, a classificação indicativa era vinculada a horários de exibição.

Apesar de todo o ocorrido, a produção não teve sua classificação alterada e foi exibida pela emissora na faixa das sete até o seu desfecho, em abril de 2003.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor