Depois de dois sucessos na faixa das sete, a solar Top Model (1989-1990) e a anárquica Vamp (1991), Antonio Calmon resolveu inovar e investiu no tema da paranormalidade.

Tony Ramos em Olho no Olho
Tony Ramos em Olho no Olho (divulgação/Globo)

Olho no Olho, trama que estreava na Globo há exatos 30 anos, em 6 de setembro de 1993, trazia todos os elementos de sucesso que as tramas anteriores tinham: elenco formado por veteranos e jovens, muitos deles estreando na telinha, como Patrícia de Sabrit, Alessandra Negrini e Rodrigo Santoro.

A novela narra a trajetória do padre Guido Bellini (Tony Ramos) que, após escutar a confissão de um homem que está sendo procurado por uma organização criminosa liderada pelo empresário César Zapata (Reginaldo Faria) e seu filho Fred (Nico Puig), que tem poderes paranormais, resolve largar a batina, sentindo-se culpado por não ter tentado evitar o assassinato dele.

Assim, ele retorna ao Brasil e se dedica ao estudo da paranormalidade, no intuito de enfrentar o clã dos Zapata. Guido vai contar com ajuda de Alef (Felipe Folgosi), que também tem poderes paranormais, mas que ainda não tem o pleno domínio de seus poderes.

Para demonstrar esses poderes paranormais, Alef, que era do bem, soltava pelos olhos um brilho de cor azul, enquanto Fred, que era do mal, emitia um brilho de cor vermelha. Esses efeitos aparentemente simples que na tela duravam 15 segundos, demoravam 12 horas para serem realizadas pelo computador.

Reprovação

No entanto, muitos não enxergaram com bons olhos a trama escrita por Calmon. Religiosos, e especialistas em magia e ocultismo acreditavam que a novela brincava com forças ocultas e, por consequência, estaria atraindo desgraças para o elenco.

Pais de santo, esotéricos e seguidores de Satã resolveram enviar um manifesto à alta cúpula da Globo, a fim de evitar que novas tragédias ocorressem, pois, segundo eles, a morte do ator Felipe Pinheiro (1960-1993), que vivia o personagem Bob Walter, e a pneumonia contraída por Thales Pan Chacon (1956-1996) que tirou o ator da história e que se encontrava internado (na época) em estado grave na UTI de um hospital, era mais uma resposta dessas brincadeiras irresponsáveis com o sobrenatural.

Pai Marcos do Diabo condenou a trama das sete e alertou sobre os perigos que ela oferecia.

“Aqueles computadores, telões e aparelhos sonoros são uma blasfêmia, um insulto a Lúcifer. Sou seguidor do diabo e posso garantir: ele está furioso. Os atores precisam tomar cuidado. Vejo muitas dores de cabeça, desânimo, vertigens e acidentes terríveis”, relatou à Contigo!, em 1993.

Já o pai de santo Cido de Oxum concordou que ninguém mexe com as entidades do mal impunemente.

“As pessoas precisam respeitar o espiritismo, porque, quando ofendidas, essas entidades derrubam tudo o que encontram pela frente”, explicou o babalorixá.

Até o mago e escritor Paulo Coelho foi consultado para dar sua opinião sobre Olho no Olho. Segundo ele, a novela não chegava oferecer nenhum perigo ao público. Mas não garantia o mesmo para o elenco. Para Paulo, o diabo é real e costuma usar os mais variados truques para fingir que não existe e atacar.

Incidentes negativos

Olho no Olho
Patrícia de Sabrit e Felipe Folgosi em Olho no Olho (divulgação/Globo)

Toninho de Oxum responsabilizou o autor por todas as desgraças e incidentes que, em sua visão, estariam acontecendo nos bastidores da produção:

“Os inocentes pagam pelos pecadores. O autor é o grande responsável por isso. E os atores estão sendo afetados pela trama diabólica. A novela atinge também quem a vê, uma mulher grávida pode até perder a criança. Acredito, inclusive, que esta novela não chega ao fim. Não deixo nenhum dos meus oito filhos adotivos assistirem à história”, declarou.

Alguns relatos contam que integrantes do elenco foram vistos com roupas vermelhas e cruzes penduradas para amenizar a fúria do demo. No entanto, Tony Ramos, que vivia um padre exorcista, era um dos poucos que estava alheio a toda essa onda de maldição que rondava a mídia divulgava sobre a novela das sete.

“Não acredito em nada disso. Para mim, a única força poderosa é a de Deus”, disse ele à Contigo!, em 1993.

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“Nunca mais”

Antonio Calmon

Polêmicas à parte, Olho no Olho foi produzida e exibida até o fim. Diferente das outras produções vitoriosas do autor, esta não foi marcado pelo sucesso. Em parte, isso aconteceu por ser uma trama pesada e sem grandes elementos de humor.

Depois desta incursão, o próprio autor (foto acima), em depoimento ao livro Autores – Histórias da Teledramaturgia, jurou nunca mais escrever sobre assuntos paranormais.

“Olho no Olho é a minha novela que menos gosto, porque existia a figura do demônio na história. Houve uma certa rejeição por parte do público. Além disso, minha vida particular ficou terrível na época. Nunca mais quero mexer com essas coisas negativas. Eu evito. O máximo que me permito, agora, é falar de vampiro. Figura satânica, nunca mais”.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor