Em 1977, estava tudo pronto na Globo para a estreia de Despedida de Casado na faixa das 22 horas. O elenco foi escalado, diversos capítulos foram gravados e editados e até chamadas de estreia foram exibidas.

Mas a emissora não contava com a ação da Censura do Regime Militar, que simplesmente proibiu a trama. A história de Walter George Durst, que tinha Regina Duarte e Antônio Fagundes como protagonistas, abordava a separação de casais, tema que foi considerado impróprio pelos censores.

À Globo, assim como aconteceu com Roque Santeiro, em 1975, restou enfiar a viola no saco, exibir uma reprise de O Bem-Amado e preparar uma nova novela. Aproveitando boa parte do elenco de Despedida de Casado, assim nascia Nina, que estreou em 27 de junho de 1977.

Regina voltava ao vídeo após três anos e meio e começava a desconstruir a imagem de Namoradinha do Brasil, o que seria consolidado a partir de 1978, com Malu Mulher.

Trabalho apurado

A produção se passava na década de 1920 e mostrava a vida de Nina, uma jovem professora do interior, que tem ideias progressistas e entra em conflito com os conservadores locais. No entanto, a novela não empolgou.

“Um dos mais apurados trabalhos de criação dos que tiveram acesso à televisão. Tão apurado que não motivou o grande público”, definiu o especialista Ismael Fernandes em seu livro Memória da Telenovela Brasileira.

Para tentar levantar os índices de audiência, foi inserida uma nova fase a partir do assassinato de uma aluna do colégio, no capítulo 73. Nina, à la Garçonne foi assim intitulada devido ao corte de cabelo que a personagem de Duarte foi obrigada a fazer. Mas não adiantou.

“Muito prejudicada pela censura, que quase deixava praticável o seguimento da ação”, registrou Fernandes.

No elenco, além dos protagonistas, nomes como Rosamaria Murtinho, Mário Lago, Maria Fernanda, José Augusto Branco, Elza Gomes, Marcos Paulo, Osmar Prado e Ary Fontoura, entre outros – Cláudio Marzo deixou a trama após 20 capítulos.

Estreia de galã

Além disso, foi a estreia de Fábio Jr. no gênero, vivendo o personagem Anjo (Alvinho). Em seguida, ele esteve em Ciranda, Cirandinha, Malu Mulher e Cabocla, quando viveu seu primeiro protagonista.

Nina foi exibida até 12 de janeiro de 1978, sendo finalizada com 142 capítulos. O fracasso da novela, junto com as duas tramas seguintes – O Pulo do Gato e Sinal de Alerta – ajudou a sepultar a faixa das 22 horas para novelas da Globo.

Na década de 1980, o espaço passou a ser ocupado por séries brasileiras. Recentemente, a emissora exibiu algumas novelas na faixa das 23 horas, como O Astro, Gabriela, Saramandaia e Verdades Secretas, entre outras.

Compartilhar.
Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor