Ney Latorraca se aposentou da televisão, mas pode ser visto pelo público atualmente na reprise de O Cravo e a Rosa (foto abaixo), que tem feito sucesso nas tardes da Globo.

Um Sonho a Mais

No entanto, uma novela protagonizada pelo astro nos anos 80 obteve médias entre 50 e 60 pontos de audiência e, mesmo assim, foi considerada um fracasso, sofrendo intervenção.

Foi o que aconteceu com Um Sonho a Mais, que terminava na Globo em 2 de agosto de 1985 e que tinha como principal inovação Latorraca interpretando cinco personagens. A trama também é lembrada por um discreto selinho entre dois homens.

Ney Latorraca em Um Sonho a Mais

Em busca de novos autores, a emissora apostou em Daniel Más, jornalista espanhol naturalizado brasileiro, que teve uma badalada coluna social na imprensa nos anos 1970 e estreava como autor de novelas. O argumento era de Lauro César Muniz.

Sem ganchos

Um Sonho a Mais

Na trama, que estreava há exatamente 37 anos, no dia 4 de fevereiro de 1985, e era inspirada na peça Volpone, de Ben Jonson, o excêntrico milionário Antônio Carlos Volpone (Ney Latorraca) volta ao Brasil após 18 anos para esclarecer o assassinato do sogro, Dr. Telles (Rubens Corrêa), do qual era acusado, e se reaproximar da ex-mulher, Estela (Sylvia Bandeira), casada com outro homem.

Ao chegar, comunica a todos que está doente, vítima de uma doença contagiosa, o que era mentira. Para despistar seus inimigos e circular livremente, usava quatro disfarces: a executiva Anabela Freire, o médico Nilo Peixe, o industrial Augusto Melo Sampaio e o motorista André Silva.

A novela apostava no humor, era recheada de citações à alta sociedade carioca, mas não tinha grandes ganchos para convidar o telespectador para o próximo capítulo. Não deu certo.

Público rejeitou inovações

Um Sonho a Mais

O público rejeitou as inovações e a audiência, para os padrões da época, não foi considerada satisfatória. Resultado: Más foi afastado e Muniz foi convocado para a emissora para tentar salvar a trama a partir do capítulo 38.

“Na verdade, tratou-se de uma decisão empresarial, que nem sequer representou uma troca de autores, pois Lauro César participou da criação da história”, explicou o então diretor-geral da divisão de novelas da Globo, Francisco Mário Sandrim, à revista Veja de 6 de março de 1985.

No entanto, a publicação apurou que o grupo de discussão promovido pela emissora não foi nada favorável à trama.

“Como a amostra de público não apresentou identificação com a história e deu sinais de ignorar os grã-finos mencionados nos diálogos, optou-se por uma reversão imediata”, explicou a reportagem.

Nas mãos de Muniz, a novela diminuiu a incidência dos ricaços e aumentou os cuidados com os suspenses internos e finais de cada capítulo.

“Um trabalho de carpintaria a que Más não estava habituado”, pontuou a Veja.

Intervenção não adiantou

Um Sonho a Mais

A guinada na trama não mudou muito o panorama de Um Sonho a Mais, que teve 15 capítulos e foi exibida até 3 de agosto de 1985. Ficou a lembrança do núcleo de personagens masculinos travestidos de mulheres – além de Anabela, existiam suas “irmãs” Florisbela (Marco Nanini) e Clarabela (Antônio Pedro).

E um rápido selinho entre Anabela e Pedro Ernesto (Carlos Kroeber), considerado, por muitos, o primeiro beijo entre dois homens na televisão brasileira. Os personagens, inclusive, se casaram no final da história.

Apesar do incidente, Daniel Más permaneceu na equipe de autores da Globo, escrevendo a novela Bambolê em 1987 e episódios das séries Armação Ilimitada e Tarcísio e Glória.

Ele morreu no dia 4 de fevereiro de 1989, aos 45 anos, vítima de complicações da AIDS.

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