Novela de 2008 foi a única de autora levada por câncer terminal

Regiane Alves e Edson Celulari em Beleza Pura

Regiane Alves e Edson Celulari em Beleza Pura

O desaparecimento de um helicóptero e de seus cinco tripulantes deflagra a trama de Beleza Pura, novela que terminava há exatamente 15 anos, em 12 de setembro de 2008. A produção ficou marcada por ser a única de Andréa Maltarolli, que perdeu a luta contra o câncer um ano depois.

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Regiane Alves e Edson Celulari em Beleza Pura (Divulgação / Globo)

O Carcará foi desenvolvido por Guilherme Medeiros (Edson Celulari) e derrubado por Norma Gusmão (Carolina Ferraz), sua colega de trabalho, inconformada com o envolvimento dele com todas as mulheres do mundo, menos ela.

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Guilherme se propõe então a executar os projetos de vida dos “falecidos”; dentre eles, a clínica de estética de Sônia Amarante (Christiane Torloni), que, no passado, abandonou a filha Joana (Regiane Ales), hoje dermatologista.

No texto abaixo, vamos relembrar curiosidades sobre a produção:

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Mudanças no elenco

Beleza Pura (Reprodução / Web)

– A novela estreou em 18 de fevereiro de 2008; na mesma noite, a Globo lançou a minissérie Queridos Amigos, de Maria Adelaide Amaral.

– Grávida, Dira Paes desfalcou o elenco. Sua personagem, Helena – que com o sumiço do marido Mateus (Rodrigo Veronese) tem de se travestir de homem para conseguir emprego – ficou com Mônica Martelli, inicialmente escalada para viver Suzy. A socialite, amiga da vilã Norma, foi entregue a Maria Clara Gueiros, estreando em novelas – após figurar em O Clone (2001) e Mulheres Apaixonadas (2003).

– Apostando forte no humor, Beleza Pura também recrutou Bruno Mazzeo, recém-saído da série Sob Nova Direção (2004) e de uma breve participação em Pé na Jaca (2006). Já Ingrid Guimarães declinou do convite para interpretar a empregada Meu Bem (ou Valmiréia), que acabou com Letícia Isnard.

– Nas primeiras listas de elenco, também figuraram Cláudia Abreu, Marcos Palmeira, Paolla Oliveira e Vera Fischer.

– A ausência mais sentida, contudo, foi a de Maria Zilda Bethlem. A atriz, então subaproveitada em Sete Pecados (2007), antecessora de Beleza Pura no horário, foi dispensada para que pudesse viver a cabeleira e ex-chacrete Ivete. Sem maiores explicações, perdeu a personagem para Zezé Polessa.

– Tratado inicialmente como “Inácio”, num flashback de Sônia, o pai de Joana surgiu em cena como Tomás (Werner Schünemann).

 

Vilã de HQ

Carolina Ferraz em Beleza Pura (Reprodução / Globo)

– Carolina Ferraz clareou os cabelos para dar vida à Norma Gusmão, uma sugestão da atriz. A vilã se assemelhava a personagens de HQ: seus planos maléficos sempre davam errado, como quando invadiu a clínica de Guilherme para sabotá-la e acabou caindo numa banheira de chocolate.

– As joias de Norma figuraram, durante quase toda a exibição do folhetim, na lista de itens mais procurados na Central de Atendimento ao Telespectador da emissora.

– Mas o visual que ganhou as ruas foi o de Rakelli (Ísis Valverde), cuja inspiração veio dos mangás, histórias em quadrinhos japonesas, e de outras manicures da ficção, como Babalu (Letícia Spiller), de Quatro por Quatro (1994), e Darlene (Deborah Secco), de Celebridade (2003). As saias curtíssimas, os sapatos de acrílico, o gloss, os esmaltes metalizados e até a bolsa cor-de-rosa em formato de poodle bombaram principalmente com o público adolescente.

– A manicure que sonhava repetir a trajetória da mãe, Ivete, se transformando em “coleguinha” do Caldeirão do Huck, tomou a novela para si! Rakelli “assassinava” o português (“avestruz” virou “avescruz”), se atrapalhou nas aulas de direção, levou “ursos e camelos” para a Amazônia e chorava de um jeitinho irritante e divertidíssimo – obra da autora, Andréa Maltarolli, que sugeriu, no roteiro, que ela “chamasse a ambulância”.

– Ísis Valverde e Marcelo Faria, o pedreiro Robson, namoraram na ficção e na “vida real”.

Chiclete

Zezé Polessa e Ísis Valverde em Beleza Pura (Divulgação / Globo)

– O estilo da ex-chacrete Ivete “Chiclete” foi inspirado nas Frenéticas. Já a tatuagem que Zezé Polessa ganhou no ombro esquerdo – através de um carimbo com tinta removível – tomou por base as tatuagens do diretor geral da trama, Rogério Gomes.

– A caracterização também desenvolveu uma maquiagem para Bianca Comparato, a Luiza. A adolescente tímida e retraída tinha o rosto coberto por acne; uma maquiagem especial garantia as espinhas na “pele de pêssego” da atriz.

– Carol Castro manteve, em termos, os figurinos de sua personagem anterior, a Ruth, de O Profeta (2006). A vilãzinha Sheila usava cintura alta e vestidos justos, como as pin-ups dos anos 50.

– A produção de arte contou com a consultoria de cirurgiões plásticos e dermatologistas. Os aparelhos de estética vistos nas clínicas de Guilherme, Joana e Renato Reis (Humberto Martins, em ótimo desempenho) funcionavam em termos: as luzes originais foram mantidas, mas o efeito terapêutico não.

– A Singular Helicópteros, empresa onde Guilherme e Norma trabalhavam, foi concebida a partir da orientação de engenheiros. A queda do Carcará e o posterior resgate da vítimas contou com apoio da Marinha e da Aeronáutica.

Niterói

Edson Celulari em Beleza Pura (Reprodução / Globo)

– Ambientada em Niterói, Beleza Pura passou por pontos turísticos como o Museu do Ingá, o Solar do Jambeiro, o Museu de Arte Contemporânea e a praia de Icaraí. Uma das sequências mais marcantes da novela, a que Norma joga no mar o CD com o projeto original de Guilherme, foi gravada na ponte Rio-Niterói – a Globo obteve autorização para interromper o trânsito por apenas cinco minutos.

– A favela Tavares Bastos, que serviu de cenário para Vidas Opostas (2006) e A Força do Querer (2017), abrigou as sequências finais do folhetim.

– A cidade cenográfica, com quatro mil m2 e 26 prédios, buscava a atmosfera do bairro da Saúde, no centro do Rio de Janeiro.

– A preparação da equipe incluiu a hospedagem de 50 integrantes num hotel em Niterói, curtindo as terapias oferecidas por um spa. Para viver um cirurgião Renato, Humberto Martins passou a acompanhar programas sobre plásticas dos canais Discovery. Já Rodrigo Lopez, o Betão, um homossexual discreto, buscou inspiração nos personagens de Rupert Everett em O Casamento do Meu Melhor Amigo e de Eric McCormack em Will & Grace.

– Primeira novela das 19h a lançar uma trilha nacional, outra internacional e mais uma instrumental, Beleza Pura contou com uma faixa (‘Madrugada’) de João Guilherme Estrella, produtor musical que enveredou para o tráfico de drogas, cuja trajetória foi retratada no filme Meu Nome Não é Johnny (2008), estrelado por Selton Mello.

– Andréa Maltarolli, Rogério Gomes e Silvio de Abreu – supervisor de texto – participaram da escolha do repertório, junto ao diretor musical Mariozinho Rocha.

– A estreia contou com dois blocos; o primeiro deles com 40 minutos. O Ibope indicou 32 pontos, com 49% de share – percentual de TVs ligadas na atração. Em sua primeira semana, Beleza Pura registrou 30 pontos. A partir de abril, estacionou nos 28, sua média final. O recorde da produção se deu no último capítulo, 33 pontos.

– Em abril, a trama foi reclassificada pelo Ministério da Justiça como “não recomendada para menores de 10 anos” por conter “consumo de álcool, linguagem depreciativa, agressão física e atos criminosos”. O horário de exibição não foi afetado. Mesmo assim, a Globo indicou cortes: um travesti que frequentaria o salão de Ivete foi vetado, assim como uma sequência em que Norma assombrava a menina Dominique (Poliana Aleixo) com uma história de fantasmas.

“Beijo gay” proibido

– Um “beijo gay” também foi proibido. Com o relacionamento de Renato Reis e Mateus – o disfarce adotado por Helena – aprovado em grupos de discussão, a autora resolveu promover o beijo do casal. Na hora H, contudo, as luzes do restaurante em que eles estavam se apagavam.

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– Ana Maria Braga participou de uma ação social promovida pela novela através de Joana, que participa do Mais Você dando dicas de proteção na exposição ao sol, prevenindo o câncer de pele. As mulheres foram incentivadas a divulgar casos de violência doméstica, através do número 180; também uma campanha contra a pirataria, através de Klaus (Rafael Cardoso, em sua primeira novela), que falsificava softwares.

– Falando em participação, também marcaram presença na produção Luciano Huck, Fernanda Lima, Luiza Brunet e as chacretes Rita Cadillac, Marlene Morbeck, Índia Poti, Edilma Campos, Lucia Apache, Regina Polivalente, Sandra Toda Pura, Cleópatra, Cleo Toda Pura e Cris Saint Tropez. Já Ísis Valverde, na pele de Rakelli, foi ao Criança Esperança.

Primeira e última

Andréa Maltarolli (Reprodução / Web)

– Beleza Pura foi a primeira e última novela de Andréa Maltarolli, que faleceu em decorrência de um câncer de mama com metástases, aos 46 anos, em 22 de setembro de 2009.

Andréa entrou na Globo através da Oficina de Autores, em 1994. Maltarolli, que costumava ler capítulos de novelas que o ator Antônio Grassi jogava no lixo, desenvolveu com Emanuel Jacobina o formato de Malhação, onde esteve entre 1995 e 2002. Passou também pela Escolinha do Professor Raimundo e pelo Zorra Total. Ela deixou inacabada a sinopse de Alto Astral, conduzida por Daniel Ortiz em 2014.

– Ainda hoje, muito se fala em Beleza Pura graças ao meme “eu sou rica!”. A cena, em que Norma Gusmão garante a Guilherme que ficará impune por seus crimes, viralizou, a princípio, por conta de uma câmera que “vazou”. Depois, veio a repercussão do “bordão”.

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