Nova virada em Um Lugar ao Sol foi completamente desnecessária

Renata Gaspar

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A autora Lícia Manzo é conhecida por suas tramas realistas e sem grandes viradas ou acontecimentos catárticos. O que não é demérito. A Vida da Gente e Sete Vidas, suas duas novelas das seis primorosas, são a prova.

No entanto, a autora conseguiu mostrar uma nova faceta com Um Lugar ao Sol. Foram vários momentos de tirar o fôlego e com reviravoltas muito bem construídas. Deixou explícito que também sabe fazer quando quer. Mas o plot criado para Stephany (Renata Gaspar) se mostrou equivocado e desnecessário.

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A personagem protagoniza uma situação grave e muito presente na vida de várias mulheres: a violência doméstica. Vários folhetins já abordaram o tema e Lícia vem tratando com seriedade. Roney (Danilo Granghéia) é um marido violento e abusivo. Stephany nunca conseguiu se livrar do companheiro e acaba sempre cedendo aos teatros emocionais. Demorou muito para ter coragem e denunciá-lo por agressão, mas, retratando a realidade, nada aconteceu com ele. Ainda assim, acaba reatando em vários momentos.

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Ao contrário da irmã, Érica (Fernanda de Freitas), Stephany não tem muita instrução. Já teve atitudes questionáveis, como insinuar que a irmã deu um golpe do baú no ricaço.

No entanto, sempre foi uma ótima amiga com Érica e amorosa com o sobrinho. No capítulo de ontem, após mais uma agressão sofrida, recebeu a ajuda de Renato, que atendeu ao pedido da esposa de Santiago (José de Abreu).

Para fugir do marido, Stephany aceitou ficar no apartamento que era de Ravi (Juan Paiva). Assim que Renato a deixou no local, a personagem deu um beijo no marido de Bárbara (Alinne Moraes). Foi um gesto questionável, mas até compreensível analisando a carência daquela mulher que nunca recebeu um carinho do esposo.

Todavia, está difícil comprar o que tem acontecido com a personagem desde então. Stephany achou um celular da Joy (Lara Tremourox) em uma das gavetas e ainda conseguiu acertar a senha de acesso.

Para culminar, Joy deixou um vídeo para o filho, ainda um bebê, contanto que Ravi é cúmplice de Renato e que o melhor amigo do pai dele se chama Christian e roubou a vida do gêmeo. A mãe deixar um vídeo para uma criança, que nem completou dois anos, chantagear o pai? E achar que o pai não veria esse celular muito antes do filho? Não teve qualquer nexo.

E o pior é o que Stephany se transformou por conta do vídeo. A irmã de Érica foi imediatamente até o escritório de Renato chantageá-lo. Virou uma mulher sem escrúpulos do dia para noite e ainda ameaçando o sujeito que, querendo ou não, a ajudou a escapar da violência que sofria. Ficou bastante perceptível que a autora optou pelo recurso para causar alguma movimentação na trama na reta final. Isso porque as novelas das nove recebem uma cobrança grande do público para serem ágeis o tempo todo.

Mas muitas vezes é melhor não ter uma agilidade a custa de tantas alterações no roteiro. E vale acrescentar que Renato a subornou com uma boa quantia, mas também cedeu ao beijo dado por ela no dia anterior. Ou seja, virou amante para ter sua identidade preservada. Isso foi condizente com o que o protagonista está mostrando. Ele, sim, virou um canalha muito pior que o Renato.

A construção do personagem central está impecável. Mas não havia a necessidade de mexer na personalidade de Stephany para um plot que todos sabem que não dará em nada.

Afinal, todos que descobrem a verdade sobre Christian morrem, mas não pelas mãos dele. É quase certo que ela será assassinada pelo marido, retratando uma rotina que segue implacável no Brasil.

Um Lugar ao Sol segue merecendo elogios, mas Lícia se equivocou na trajetória de Stephany nas últimas semanas. E a situação também reforça o desrespeito da Globo com autora em virtude do encurtamento da trama. A situação provavelmente seria melhor trabalhada, o que evitaria o estranhamento que causou.

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