Trazer de volta algum clássico através de um remake muitas vezes é bastante arriscado. A memória afetiva é uma ferrenha inimiga de qualquer tentativa de mexer em um produto que marcou gerações. Isso ocorre com filmes, novelas, séries, enfim.
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Às vezes acaba sendo um fiasco mesmo, mas em outras até que funciona. Um caso recente que deu muito certo, por exemplo, foi a Nova Escolinha do Professor Raimundo. E foi justamente com base nessa experiência bem-sucedida que resolveram criar a nova versão de Os Trapalhões.
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Com redação final de Péricles Barros, direção geral de Fred Mayrink, e supervisão de texto de Mauro Wilson, a produção conta com a presença de Renato Aragão e Dedé Santana, e nem poderia ser diferente. Os dois revivem os icônicos Didi e Dedé, personagens que consagraram suas carreiras. E para não criar a ideia de ‘substitutos’, o novo quarteto representa os sobrinhos deles. Didico (Lucas Veloso), Dedeco (Bruno Gissoni), Mussa (Mumuzinho) e Zaca (Gui Santana) são os atrapalhados do momento, relembrando a época desse sucesso.
No clipe apresentando à imprensa, no dia 11 de julho, nos Estúdios Globo, todos fizeram questão de reforçar que o programa é uma grande homenagem e os trapalhões são insubstituíveis. O clipe, com trechos de várias esquetes, provocou alguns risos tímidos dos jornalistas e blogueiros presentes, deixando claro que o conjunto é mais destinado às crianças mesmo.
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Embora classificado como um produto para toda a família, é um formato mais infantil. Até pelas interpretações, todas com vários tons acima. E desta vez não há as piadas mais sarcásticas ou de duplo sentido de antigamente. Mussa, por exemplo, não bebe, ao contrário do cachaceiro Mussum.
Vale ressaltar, inclusive, que é muito justo o término das piadas racistas e homofóbicas que tinham no humorístico das décadas de 60, 70 e 80. Hoje em dia respeito é bom e todo mundo gosta. Mas tirar a característica principal do Mussum, que era a paixão por cachaça, é um exagero e fruto do politicamente correto.
Mesmo sendo um sobrinho do saudoso personagem, o rapaz é maior de idade e a situação renderia bons momentos. Mas, deixando esses pormenores de lado, o programa é muito gostoso. A nostalgia, que vem logo na abertura, tocando o tema clássico de Os Trapalhões, faz-se presente a todo instante, ajudando a embarcar nas novas trapalhadas.
E a atuação do trio Lucas Veloso, Mumuzinho e Gui Santana impressiona. Lucas, que brilhou em Velho Chico, faz uma imitação perfeita do Didi, provocando uma certa surpresa, pois esse personagem é bem difícil de ser copiado. A sua entonação lembra muito a do Renato, fazendo do Didico um ‘herdeiro’ perfeito.
O mesmo vale para o intérprete do Mussa. Mumuzinho pegou absolutamente todos os trejeitos do querido Mussum e sua voz também ficou idêntica. Se o telespectador fechar os olhos pode confundir, sim, com o original.
Já quem conhece a carreira do Gui não se surpreendeu com sua imitação de Zacarias. O humorista vem ‘praticando’ desde a época do Comédia MTV, passando pelo Pânico na Band. E sua performance é impressionante. O Zaca tinha que ser dele, marcando sua estreia na Globo.
Bruno Gissoni, entretanto, acaba destoando. O ator é o único que nunca teve sua comicidade explorada na ficção e ainda ficou com a releitura do Dedé, perfil mais ‘apagado’ do quarteto justamente por representar a escada para os demais. E ele não leva muito jeito. Apesar disso, não compromete o conjunto.
Já a presença de Nego do Borel interpretando Tião Macalé se mostrou desnecessária. O genial personagem raramente tinha alguma fala diferente de “Nojento! Tchan!” e era um tipo que só tinha graça pela figura do saudoso ator, sempre desdentado e parecendo um esfarrapado. Agora ele tem mais texto e se integrou ao grupo. Mas não precisava. Até porque Nego do Borel mais uma vez está interpretando Nego do Borel.
Outro erro que merece menção é Ernani Moraes fazendo o Capitão Pincel. Nada contra o ator, que é ótimo, mas Roberto Guilherme está vivo e poderia muito bem estar presente no projeto. Era o mínimo.
O programa ainda conta com várias participações especiais, como Arlete Salles, Letícia Lima, entre outros. E não há somente esquetes novas. Releituras de clipes clássicos e quadros inesquecíveis estão presentes, mexendo ainda mais com a nostalgia do público. Essa mescla, aliás, é um acerto, assim como a presença constante de Renato Aragão e Dedé Santana representando os mentores dessa nova turma que precisa aprender a como ser um bom trapalhão com eles. E a abertura é a parte de maior emoção, provocando uma comoção involuntária.
A nova versão de Os Trapalhões tem nove episódios e, por tudo o que foi visto, a chance de uma segunda temporada ser encomendada é bem alta. O Viva estreou o humorístico nesta segunda-feira (17/07), às 20h30, e a Globo começará a exibi-lo em setembro, repetindo o esquema já feito com a nova Escolinha. A ideia do projeto, no geral, mostrou-se bem feliz e tem tudo para emplacar.
SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas