Uma prática recorrente nas exibições de telenovelas do SBT é a de estrear uma nova trama antes do término da atual atração. A estratégia é utilizada até hoje pelo canal de Silvio Santos e acabou sendo copiada pela Record e até pela Globo, que a adotou para o Vale a Pena Ver de Novo há anos.

Mulheres de Areia - Gloria Pires e Guilherme Fontes
Guilherme Fontes e Gloria Pires como Marcos e Ruth em Mulheres de Areia (Divulgação / Globo)

Tanto que, recentemente, a primeira semana de Mulheres Apaixonadas foi exibida simultaneamente ao desfecho de O Rei do Gado (1996). E o mesmo acontecerá com Mulheres de Areia (1993) e Chocolate com Pimenta (2003) na faixa Edição Especial.

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Dobradinha

Mulheres de Areia - Denise Milfont, Lu Mendonça, Ricardo Blat e Sebastião Vasconcelos
Denise Milfont, Lu Mendonça, Ricardo Blat e Sebastião Vasconcelos em Mulheres de Areia (Divulgação / Globo)

No próximo dia 26, a Globo começa a exibir a Edição Especial de Mulheres de Areia, clássico de Ivani Ribeiro. A trama vai substituir Chocolate com Pimenta na nova faixa de reprises de novelas da emissora, destinada a repetecos de produções das seis.

No entanto, o último capítulo da novela de Walcyr Carrasco só vai ao ar no dia 30 de junho. Ou seja, durante uma semana, Mulheres de Areia e Chocolate com Pimenta serão exibidas em sequência, logo depois do Jornal Hoje.

Vale lembrar que isso também aconteceu com a trama protagonizada por Ana Francisca (Mariana Ximenes). Quando voltou ao ar, Chocolate com Pimenta teve seus primeiros capítulos exibidos simultaneamente aos capítulos finais de O Cravo e a Rosa (2000), trama que lançou a faixa de novelas do início da tarde.

Ideia inédita

Carrossel - Ludwika Paleta
Ludwika Paleta como Maria Joaquina em Carrossel (Divulgação / Televisa)

O conceito de exibir uma novela nova enquanto outra está chegando ao fim começou em 1991, quando Silvio Santos, em mais uma de suas ideias mirabolantes para impulsionar a audiência da programação do seu canal, decidiu estrear a mexicana Simplesmente Maria antes do término de Rosa Selvagem, que ia ao ar no horário entre a primeira e o fenômeno Carrossel.

Essa ação, que na ocasião era inédita na televisão brasileira, acabou dando certo e, contrariando até os menos otimistas, elevou os índices da nova produção, que, de acordo com o DataIbope, obteve uma média de 23 pontos.

“A ideia foi totalmente dele e, se tivesse me perguntado antes, eu ia ser contra. Mas deu certo”, disse o diretor de marketing do SBT, Rubens Carvalho, em entrevista à Folha de S.Paulo em 18 de setembro de 1991.

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Prejuízo

Programa Silvio Santos
Silvio Santos à frente do seu dominical (Reprodução / SBT)

Apesar da boa audiência, a ousadia do proprietário do SBT custou caro aos cofres da emissora, já que num primeiro momento, a medida prejudicou o faturamento do canal. Mas, de acordo com Rubens, esse quadro tinha tudo para se reverter positivamente.

“Ao reduzir em cinco minutos diários o intervalo comercial para encaixar a novela entre as outras duas, deixaremos de faturar cerca de US$ 2 milhões (Cr$ 972 milhões em valores da época) em um mês. Mas a reação dos anunciantes tem sido excelente, pois os índices de audiência começaram altos e vão continuar”, disse ele.

O então diretor de marketing explicou à reportagem que, normalmente, uma novela que substitui outra leva algumas semanas – ou até meses – para alcançar a audiência de sua antecessora e atrair os anunciantes.

Só que dessa vez, segundo ele, os anúncios estavam “sobrando”.

“Preciso de mais intervalos ou vou ter que devolver dinheiro”, alegou ele, que afirmou que o SBT talvez não repetisse novamente a tática: “Agora a Globo já sabe”, brincou.

Cutucada

O Cravo e a Rosa - Adriana Esteves e Eduardo Moscovis
Eduardo Moscovis e Adriana Esteves como Petruchio e Catarina em O Cravo e a Rosa (Divulgação / Globo)

Só que essa estratégia, que durante anos foi uma marca registrada no SBT, passou a ser usada pelas demais concorrentes. A Globo foi a primeira a copiar a prática, ao emendar o final da reprise de O Cravo e a Rosa e o início de Caras & Bocas (2009) no Vale a Pena Ver de Novo, em 2014. Deu tão certo que o canal segue promovendo a dobradinha até hoje.

Em 2018, foi a vez da Record recorrer a mesma ideia, quando anunciou a reprise de Bela, a Feia (2009), novela que substituiu Luz do Sol (2007) e que dividiu o mesmo horário em seus primeiros dias de exibição nas tardes do canal.

Esse detalhe não passou despercebido por Murilo Fraga, diretor de programação do SBT, que em sua conta no Twitter cutucou os concorrentes, sem citar nomes, dizendo que as demais emissoras estavam se inspirando nas estratégias de programação do SBT.

“SBT fazendo escola! Copiaram a dobradinha de novelas e agora até o nome de Feriadão estão usando? #cadeacriatividade”, disparou.

 

* Colaborou Sebastião Uellington

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor