André Santana

Silvio Santos anda mais inspirado do que nunca. Depois de mandar abreviar as reprises de novelas que salvaram o horário vespertino do SBT para exibir enlatados duvidosos, a emissora agora ataca com mais uma ideia “mirabolante”: boletins noticiosos inspirados no lendário Repórter Esso. O novo Repórter SBT imita o formato radiofônico, que chegou à TV em 1952, pela extinta Tupi.

silvio santos

Assim como o Repórter Esso, o Repórter SBT apresenta notas rápidas com informações do Brasil e do mundo, com imagens narradas por apresentadores do jornalismo do canal. Chama a atenção a vinheta, que recria os mesmos acordes do Repórter Esso, dando um clima um tanto quanto mofado à nova atração.

Não é a primeira vez que o SBT investe em boletins informativos durante a programação. O formato já passou pela grade da emissora desde sua estreia, e alguns deles são lembrados até hoje, como o Notícias da Última Hora (1998) e SBT Notícias Breves (2005). No entanto, nenhum deles buscava resgatar um formato dos anos 1950.

Vive no passado

A aposta no Repórter SBT evidencia, mais uma vez, que a emissora parou no tempo. O SBT parece incapaz de trazer alguma renovação para o seu público, preferindo insistir nas mesmas fórmulas dos tempos da TV a lenha.

Nos últimos anos, Silvio Santos parece ainda mais saudoso que o normal. O dono do SBT já havia apostado até mesmo na exibição de Os Garotinhos (1938), uma produção feita antes mesmo da TV existir, ou I Love Lucy (1951), primeira série da TV americana. Outras séries das antigas que passaram recentemente pelo canal foram Lassie e As Aventuras de Rin-Tin-Tin.

Até mesmo as apostas em programas de entretenimento dublados, como Decisões do Dia e Crimes de Paixão, remetem a estratégias antigas, como quando o canal apostou no estadunidense Geraldo – A Novela da Vida Real. A atração foi dublada para estrear às pressas na grade dominical do SBT e chegou a assustar a Globo na época.

Além disso, o canal segue produzindo programas que parecem não dialogar mais com o público de hoje, como o Casos de Família e o Programa Raul Gil. Ambos, aliás, são sempre ameaçados pela sombra do cancelamento, mas seguem no ar com baixa audiência unicamente por insistência do “patrão”.

Falta de criatividade

Silvio Santos

É assustador que uma emissora de TV de 2022 se renda a formatos totalmente ultrapassados como o Repórter SBT. Com recursos tecnológicos que permitem às emissoras produzir um jornalismo de ponta, reproduzir um programa radiofônico dos anos 1940 expõe a imensa incapacidade do canal de se reinventar.

O saudosismo sempre foi um dos pilares do SBT. A emissora sempre apostou em formatos que vão e voltam, além de ter vivido anos refém dos repetecos de Chaves. Se inspirar no passado não é ruim, mas se render a ele sem nenhum critério não é nada mais do que pura falta de criatividade.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor