Os primeiros capítulos de Nos Tempos do Imperador (novela iniciada nesta segunda, 9) foram gravados há mais de um ano, para a estreia que deveria ocorrer em abril de 2020. De lá para cá, em meio a tantas reprises, é um alívio ter novela inédita começando na TV.

As primeiras chamadas já eram um prenúncio do que viria. Imagens belíssimas, em fotografia, cenários e figurinos. Das tomadas aéreas de paisagens brasileiras exuberantes, à noturna com fogo no canavial e escravos tentando fugir de feitores e jagunços, Nos Tempos do Imperador é para encher os olhos.

E os ouvidos: a trilha sonora vai de Milton na abertura, Elis, Clara Nunes e Clementina de Jesus, a Ney Matogrosso e Nação Zumbi cantando Secos & Molhados. Tudo isso só na estreia!

Porém, sabemos que novela bonita não é garantia de nada. A trama – que é o que fideliza audiência – começou calma, sem muita urgência.

Dom Pedro surgiu do futuro, velho, exilado em Paris, em uma cena tão rápida que soou fora de contexto. Ao fim do primeiro capítulo, ninguém lembrava de suas palavras. As cenas da novela anterior Novo Mundo – necessárias – criaram o elo entre uma produção e outra.

Contudo, o imperador protagonista e sua imperatriz pareceram plácidos demais para gerar motivações dramáticas. As tais motivações vieram do núcleo mais aventuresco: o escravo presencia a morte de seu senhor, é acusado, foge, e, baleado, é socorrido por aquela que será sua amada. Temos aí um fio de narrativa que poderá render bem. Não por acaso foi o gancho para o capítulo seguinte.

É de Mariana Ximenes, bela e altiva, a força de uma personagem que já diz ao quem vem com o olhar e pouco texto. Bastaram três cenas para termos todo o seu perfil psicológico desenhado. Também enche os olhos, além de criar boas expectativas. Outro acerto é Alexandre Nero, que irá mostrar mais de seu personagem, mas já é uma presença marcante, cenicamente.

O imperador Dom Pedro II, ao não aceitar a proposta indecorosa do ditador Solano Lopez, mostra que não é impulsivo, ou chegado a bravatas e arroubos, como seu interlocutor.

Calmamente solta um “textão” que reverbera o Brasil atual:

O Brasil nunca se renderá a um ditador. Nunca. Os filhos desse país cuidarão dele, para sempre. Podem até tombar algumas vezes, mas vão se levantar, em nome do Brasil, em nome da liberdade. E eles são muitos. Nascem a cada dia, dispostos a lutar pelo Brasil. E eu, general, mesmo depois de morto, viverei em cada um deles“.

A conferir como esse imperador de fala mansa e palavras proféticas se configurará na ficção em sua homenagem, para compararmos com os fatos da História.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor