Passou-se uma semana e Nos Tempos do Imperador ainda não me fisgou. A novela é bem diferente de Novo Mundo, e não falo apenas da trama, do momento histórico e da estética. A proposta narrativa é outra. Novo Mundo tinha uma trama aventuresca, de capa e espada, com navio, piratas e as aventuras do herói Joaquim Martinho (Chay Suede).

Nos Tempos do Imperador é um outro tempo de narrativa, muito embasada na figura de Dom Pedro II, até o momento plácido e contemplativo demais, distante de Dom Pedro I, mais humano, repleto de defeitos muito expostos. Li várias críticas nas redes sociais – precoces, porque a novela mal começou – à idealização do imperador, que foi um homem longe de ser perfeito.

Porém, os autores Thereza Falcão e Alessandro Marson garantiram que, na novela, Dom Pedro será uma figura contraditória. “Não vamos fazer uma novela chapa branca“, disse Thereza na coletiva de imprensa. De acordo com a autora, a trama vai escancarar algumas contradições, atos e decisões nem tão heroicas do imperador, como no episódio da Guerra do Paraguai.

O contraponto ao núcleo central do palácio (até aqui desinteressante) é Pilar, essa sim a heroína da novela, que faz as vezes de Joaquim de Novo Mundo. Há uma tentativa de fazer de Jorge/Samuel também um herói. Porém, o negro fugitivo, por enquanto, não passa de uma vítima das circunstâncias – tendo inclusive sido salvo pela sinhazinha branca magnânima.

Outra crítica à novela (também precoce) é a maneira como os negros são representados, como dependentes de brancos salvadores – não só de Pilar, mas também da Condessa de Barral. O núcleo da Pequena África pouco se mostrou até agora. Contudo, acho cedo para críticas pesadas. Vamos aguardar um pouco mais e ver como se desenrolam o perfil de Dom Pedro e as histórias dos negros.

Fico me perguntando se essas críticas seriam tão ferrenhas se a produção fosse uma série gringa no streaming, em vez de uma novela na TV aberta.

Ainda não embarquei

Dom Pedro II de Selton Mello: o ator, de voz sussurrante, fala pausada, olhar de peixe morto e falas burocráticas só o deixam pedante. Falta carisma, falta tutano no personagem. Sua discussão com a mulher no capítulo de sábado não passou de um chilique.

Germana e Licurgo não me tiraram um sorriso amarelo sequer. Não sei dizer, mas parece que o que era feio e grotesco (em situações que rendiam bem), parece vazio quando exponenciado sem motivo. O casal é apenas mais feio e mais grotesco. Mas curti a inspiração em Madame Mim, da Disney, para Germana!

Totalmente embarcado

Pilar e Tonico: Gabriela Medvedovski (aprendi a escrever o sobrenome da atriz sem pesquisar) nos deu a melhor sequência da semana, com José Dumont e Alexandre Nero, quando Tonico vai à fazenda para o noivado com filha de Eudoro e é veementemente rejeitado por ela. A cena do casamento (que não se concretizou) também foi boa. Nero construiu um Tonico com muitas nuances e potencial. Zé Dumont dispensa maiores comentários: é um atorzão!

Gabriela, por sua vez, está segura e sua interpretação tem personalidade, se saindo bem nas cenas com os experientes Dumont e Nero. E melhor: em nada lembra a K3, de Malhação.

Elogiei Mariana Ximenes na estreia. Também gosto de Letícia Sabatella, como a Imperatriz Tereza Cristina – que era para ser uma figura apagada, mas impossível quando é Sabatella no comando. Outros dois destaques, que apareceram pouco, mas que sempre chamam a atenção: Dani Ornellas e Mary Sheila, ótimas atrizes, sempre carismáticas!

Compartilhar.
Avatar photo

Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor