Entre as décadas de 1970 e 1990, mesmo com poucos canais na TV aberta, o público tinha uma overdose de programas de auditório. Além de nomes consagrados que estão no ar até os dias de hoje, como Silvio Santos, Raul Gil e Fausto Silva, até mesmo as emissoras pequenas contavam com representantes no gênero.

No geral, as atrações se pareciam entre si, sendo um misto de musicais com artistas famosos ou promessas, concursos de calouros – geralmente desafinados – e competições entre o público, com farta distribuição de prêmios. Alguns programas tinham baixos orçamentos e gostos duvidosos, mas faziam a alegria do público.

Silvio Santos dominava o domingo desde os anos 1960, com seu programa começando por volta das 11h e terminando somente à noite. Primeiro na Globo (até 1976), depois na Tupi, TVS e Record (as três exibiam a mesma atração), e, finalmente, no seu sonhado SBT, a partir de 1981. Somente em meados dos anos 2000 que o animador diminuiu o ritmo, ficando com as atuais quatro horas nas noites de domingo.

Ao mesmo tempo, na nova emissora, tinha a companhia de Gugu Liberato, que comandou o Viva a Noite entre 1982 e 1992, entre outros programas. Durante alguns anos, entre 1984 e 1988, Gugu já tinha rivalidade com Faustão, que comandava o Perdidos na Noite – o programa passou pela Gazeta, Record e Band, antes de sua ida para a Globo, em 1989.

Outro nome histórico é o de Abelardo Barbosa (1917-1988). O popular Chacrinha, que começou nos anos 1950, no rádio, comandou programas líderes de audiência em quase os canais – Tupi, Excelsior, Globo e Band, sempre movimentando multidões. Em 1972, deixou a Globo após brigar com Boni, voltando ao canal somente em 1982, onde ficou até a sua morte.

Nos anos 1970, principalmente, o público aguardava ansiosamente as polêmicas pautas de Flávio Cavalcanti (1923-1986). O apresentador, que não media palavras para criticar o que ou quem não gostava e quebrava discos de artistas no palco, era um dos líderes de audiência da Tupi. Com pautas que chocavam o público, chegou a ser suspenso pela Censura, em 1973, depois de mostrar o caso de um homem inválido que “emprestava” a mulher para um vizinho.

Se tornaram clássicos seus duelos com Chacrinha para ver quem apresentava mais pautas relacionadas ao mundo-cão, tudo em busca de audiência. Depois que a Tupi quebrou, Flávio foi para a Band, onde comandava um programa noturno diário, e, em 1983, ingressou no SBT, sua última casa.

Morreu em 1986, poucos dias depois de sofrer um infarto enquanto apresentava a atração – Wagner Montes (1954-2019), assustado, assumiu o comando depois que Flávio passou mal, se despedindo do público dizendo que o apresentador voltaria na semana seguinte, o que não aconteceu.

Outro nome que era muito popular entre as décadas de 1970 e 1990 era o de Edson Cury (1936-1998), mais conhecido como Bolinha. Praticamente durante toda a sua carreira esteve na Band, onde comandava um longo programa nas tardes de sábado, o Clube do Bolinha, que recebia os mais variados artistas e chamava a atenção para performances de transformistas, algo que não era comum na época.

Dois pioneiros da televisão brasileira também marcam presença nessa galeria: J. Silvestre (1922-2000) e Hebe Camargo (1929-2012). Depois de uma passagem pela Tupi nos anos 1970, após alguns anos afastado do veículo, Silvestre brilhou no SBT até 1983, quando brigou com Silvio Santos e foi para a Band. Após mais alguns anos longe da TV, morando nos EUA, foi chamado para tentar salvar a Manchete, ao comandar o Domingo Milionário, em 1997, mas a iniciativa durou pouco tempo.

Hebe, considerada a primeira-dama da televisão brasileira, se tornou estrela da Record anos 1960, esteve na Tupi nos anos 1970, na Band, durante parte dos anos 1970 e 1980 e, a partir de 1986, tornou-se um dos principais nomes do SBT, onde ficou até 2010. Entre 2011 e 2012, esteve na RedeTV! e tinha acertado sua volta ao canal de Silvio Santos dois dias antes de morrer.

Os representantes dos canais pequenos

As emissoras menores também tinham seus representantes. Depois do auge nos anos 1960, a Record passou muitas dificuldades nos anos 1970 e 1980, antes de ser comprada por Edir Macedo em 1989. Mesmo assim, o canal contava com um apresentador que conseguia bons índices no Ibope ao comandar seu show popular. Trata-se de Barros de Alencar (1932-2017), famoso nome do rádio, que recebia cantores e grupos que executavam os sucessos do momento.

A Gazeta, mais focada em São Paulo, contou com dois apresentadores muito conhecidos no rádio e que também tinham seus públicos na televisão. Carlos Aguiar (1941-1988), que durante muitos anos liderou a audiência na Rádio Globo, surgia no palco com o microfone que virou o símbolo de Silvio Santos e recebia as mais variadas atrações. Folclórico, tinha um bordão marcante: “um passo para o sucesso”. Aguiar morreu precocemente, aos 41 anos, vítima de insuficiência respiratória.

Outro nome que passou pela emissora e também esteve na Record e na Band era Dárcio Campos (1945-1995), líder da “geração Chanti”, que, segundo ele, sabia que “a inteligência é a força”. Ele também era cantor e também fazia muito sucesso com seu programa de rádio. Morreu dias antes de completar 50 anos, vítima da Aids.

A lista de apresentadores de auditório não para por aí, contando, até mesmo, com alguns “aventureiros”, profissionais bem-sucedidos em suas funções que resolveram se arriscar em outras áreas.

São os casos, por exemplo, do jornalista Sérgio Chapelin, que trocou o Jornal Nacional pelo Show Sem Limite, do SBT, durante um ano, entre 1983 e 1984, e o narrador esportivo Osmar Santos, que, além de transmitir jogos no rádio e na televisão, comandou atrações como Guerra dos Sexos, na Globo, e Osmar Santos Show, na Manchete.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor