Há 27 anos, a Globo exibia o último capítulo de Rainha da Sucata. O folhetim – que marcou a estreia de Silvio de Abreu às 20h – debatia a relação dos novos-ricos, como Maria do Carmo Pereira (Regina Duarte), com a decadente elite paulistana, representada pelos Figueroa: o boníssimo Betinho (Paulo Gracindo), seu herdeiro Edu (Tony Ramos) e Laurinha (Glória Menezes), esposa do primeiro e apaixonadíssima pelo segundo, seu enteado.

Do Carmo prosperou graças ao pai, Onofre (Lima Duarte), português que recolhia sucata nas ruas de São Paulo. Proprietária de prédios comerciais, de uma concessionária de veículos e de uma casa de shows, a emergente tem em mãos a chance de “adquirir” o marido de seus sonhos, Edu, que a desprezou na juventude. Dentre seus opositores, estão o administrador Renato Maia (Daniel Filho) e a vizinha Armênia (Aracy Balabanian).

Mas para uma heroína valorosa, como Maria do Carmo – brilhantemente defendida por Regina Duarte -, fazia-se necessário uma antagonista de peso. Laurinha Albuquerque Figueroa, que desfilava com elegância pelas altas rodas da sociedade paulistana, vivia num mundo irreal, dividido entre “nós” e “eles”: era dependente do dinheiro de figuras “pitorescas” como Do Carmo, mas não admitia o convívio com “esse tipo de gente”.

Para celebrar esta vilã icônica, e as quase três décadas deste novelão, o TV História preparou a “escala de maldade”, e insanidade, da loira; relembre!

A oposição ao casamento de Edu e Maria do Carmo

Logo no início de Rainha da Sucata, Edu entra em depressão ao descobrir que a família estava à beira de um colapso financeiro. O único caminho: colocar em produção um moderníssimo carro desenhado por ele. Interessada no dinheiro de Do Carmo, Laurinha tenta, a princípio, se aproximar da sucateira. Mas, ao descobrir aos planos de casamento – com Edu seduzido pela proposta comercial da amada -, trata de minar a confiança da rival, na intenção de demovê-la desta “equivocada” ideia.

A inimiga dorme ao lado

Embora tenha torrado toda a grana que Do Carmo lhe deu na promoção de uma festa para um conde italiano – no mesmo dia e hora do casamento do enteado -, Laurinha não conseguiu impedir o êxito da cerimônia. Partiu então para a guerra fria: dividindo o mesmo teto, mocinha e vilã travaram diversos embates, quase sempre por conta de dinheiro. Isso até que a empresária descobrisse, ao ouvir um discussão entre a grã-fina e sua cunhada Isabelle (Cleyde Yaconis), o real interesse de Laurinha por Edu.

O desprezo pelos filhos de sangue

Laurinha nunca deu aos filhos biológicos, Adriana (Cláudia Raia) e Rafael (Maurício Mattar), um terço da atenção que dispensava a Edu. Na cadeia, por ter atirado no marido, Maria do Carmo descobre os podres da inimiga através da colega de cela Dalva (Neuza Amaral), que matou o esposo ao descobrir que este tinha um caso com a madame, tendo tido inclusive filhos com ela. Ou seja: Adriana e Rafael não eram meios-irmãos de Edu, o que permitia o envolvimento do paraquedista com Alaíde (Patrícia Pillar), empregada dos Figueroa, fruto da relação de Betinho com a cozinheira Lena (Lolita Rodrigues) – que sustentou os patrões durante um bom tempo.

Zero açúcar… Só que não!

Laurinha matou o marido lentamente: trocou os chocolates dietéticos por bombons açucarados e substituiu as ampolas de insulina por glicose. Maquiavélica, induzia o mordomo Jonas (Raul Cortez) a aplicar o hormônio, fazendo-o acreditar que se tratava do remédio para o mal de Betinho. A ação não era segredo para Isabelle, que, usando de cartas anônimas, chantageou a cunhada bandida. Mas até esta afronta Laurinha foi capaz de usar a seu favor: datilografou cartas na máquina de escrever de Do Carmo, levando a polícia a acreditar que a sucateira aterrorizava a madrasta do marido com “falsas” acusações.

A degradação moral e psíquica

A ilusão em que viveu durante tantos anos – acreditando ainda ter poder, influência e grana – custou a sanidade mental de Laurinha. Na reta final, ela deixou o vocabulário rebuscado, partindo para pesadas ofensas para cima de seus inimigos; inclui-se aqui o filho Rafael, tachado de marginal, e a filha Adriana, que ela julgava ridícula e vulgar. Glória Menezes brilhou ainda mais nesta fase: a cada novo surto, um novo show de interpretação!

“Sua vida acaba agora!”

Meticulosa em todas suas investidas criminosas, Laurinha Figueroa não poderia ter agido de outro modo em seu “gran finale”. Ela planejou minuciosamente o encontro com a rival Do Carmo, no alto do prédio da lambateria Sucata. Após uma violenta discussão, arrancou à força um dos brincos da inimiga, fabricando a “prova do crime”, e se atirou para a morte. Certamente, o gesto mais extremado de uma vilã, em toda a história da teledramaturgia brasileira. Como diria Betinho, “coisas de Laurinha”.


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.