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O canal Viva exibe, a partir dessa segunda-feira (16), a novela Pão-Pão Beijo-Beijo, de Walther Negrão (em substituição a Amor com Amor se Paga), outra pérola da década de 1980.
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Originalmente apresentada em 1983, no horário das seis, a novela tivera uma única reprise, em 1990.
Relaciono 10 curiosidades sobre a produção. Confira:
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O retorno de Negrão
O autor voltava a escrever uma novela inédita para a Globo após um hiato de 9 anos.
Em 1974, após o fiasco da novela Supermanoela, Walther Negrão foi demitido da Globo. O autor foi escrever para a TV Tupi (as novelas Ovelha Negra, Xeque-Mate, Cinderela e Roda de Fogo, e a série Casa Fantástica, entre 1975 e 1979).
Em 1980, retornou ao quadro de roteiristas da Globo. Supervisionou o trabalho de Carlos Eduardo Novaes na novela Chega Mais; foi um dos roteiristas da série Obrigado Doutor; e finalizou as novelas As Três Marias (substituindo Wilson Rocha) e O Amor é Nosso (substituindo Roberto Freire e Wilson Aguiar Filho).
Em 1983, apresentou Pão-Pão Beijo-Beijo a escreveu mais 14 novelas e 3 minisséries para a Globo.
Falhas na estrutura
De acordo com Ismael Fernandes, em seu livro “Memória da Telenovela Brasileira”, o autor juntando duas sinopses, apresentou uma obra com falhas na estrutura.
Tinha-se planejado ambientar a trama com um núcleo em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, mas problemas de produção impuseram a transferência total da ação para a capital fluminense.
Assim, personagens tipicamente paulistas, como Mama Vitória, comandando uma rede de cantinas, estavam ambientados no Rio, enquanto o condomínio na Barra da Tijuca, que deveria centralizar a ação, acabou sem força na trama.
Mudança de SP para o Rio
Negrão comentou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo):
“A Globo queria uma novela ambientada em São Paulo, então montei uma família italiana do Bixiga (…) Mas quando íamos começar a gravar a novela, não pudemos realizar lá. Como ir para o Rio de Janeiro se Mama Vitória, a personagem de Lélia Abramo, tinha uma rede de cantinas napolitanas? As cantinas italianas não eram tradicionais no Rio (…) Sugeriram que eu transformasse os italianos em portugueses. Cheguei a fazer a pesquisa, mas vi que não tinha brilho. (…) Então refiz os capítulos iniciais mudando a família paulista para uma chácara no Rio”.
Mesmo com esse percalço, o autor mostrou-se hábil ao desenvolver os capítulos e a novela registrou relevante sucesso.
Homem de passado misterioso
O ponto de partida da trama central lembra muito o da novela Antônio Maria (Tupi, 1968-1969), de Geraldo Vietri, na qual Negrão colaborou: homem misterioso que esconde de todos o seu passado e que, em determinado momento, é descoberto pelos que o perseguem – Ciro (Cláudio Marzo), em Pão-Pão Beijo-Beijo, e o português Antônio Maria (Sérgio Cardoso).
Negrão voltou à inspiração em seu trabalho seguinte, Livre para Voar (1984-1985), com o personagem Pardal (Tony Ramos), que viveu a mesma situação.
Italianos x nordestinos
A novela tinha dois núcleos muito fortes: a família italiana, de classe média-alta, e a família nordestina, de migrantes pobres. Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, o autor revelou que temia que essa fusão na trama pudesse ser mal compreendida pelo público:
“Fiquei muito preocupado, achando que a mistura das famílias provocaria um ruído entre os sotaques italiano e nordestino. Então mantive as duas afastadas, até juntá-las através das matriarcas que, no fundo, eram personagens iguais. E deu muito certo porque gerou uma disputa muito positiva, profissional, entre a Laura Cardoso e a Lélia Abramo”.
Destaques do elenco
O núcleo da família italiana de Mama Vitória – inesquecivelmente interpretada por Lélia Abramo – liderou a preferência do público. Tanto que, ao ser vendida para a Itália, o título da novela foi alterado para Mamma Vittoria.
Destaque para a agradável criação de Arnaud Rodrigues, como o nordestino Soró, um tipo atrapalhado e ingênuo, de forte apelo infantil, e suas aventuras com o garoto Geninho (Paulo Vignolo), uma dupla criada para fazer sucesso entre o público infantojuvenil.
Regina Dourado viveu o seu primeiro papel de destaque na televisão: a migrante nordestina Lala Sereno, uma solteirona que, no passado, foi abandonada pelo noivo no altar. A personagem superou o trauma apresentando um cordel sobre sua história na Feira de São Cristóvão, famoso reduto de nordestinos no Rio de Janeiro.
Elizabeth Savala, como Bruna, viveu uma anti-heroína, moça geniosa, mimada e arrogante, longe das mocinhas românticas que estava acostumada a interpretar na televisão.
O computador nas novelas
De acordo com matéria da revista Veja, de março de 1983, Pão-Pão Beijo-Beijo foi a primeira novela da televisão brasileira escrita com o auxílio de um computador – “um Apple”, como informou a reportagem.
O condomínio
Além de usar os estúdios da emissora no Jardim Botânico, a equipe de gravação adotou um condomínio da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, como cenário para ambientação das cenas: o Riviera Del Fiori, localizado na Av. Prefeito Dulcídio Cardoso 2500.
A novela também teve cenas gravadas no bairro de Madureira, na Zona Norte do Rio (onde ficava o núcleo nordestino), e em uma chácara em Jacarepaguá, na Zona Oeste (onde morava Mama Vitória).
Título esquisito
O título de trabalho da novela, que constava em sua primeira sinopse, era O Condomínio. Depois cogitou-se chamá-la de Sanduíche de Coração, o nome da música-tema da abertura, composta e gravada sob encomenda pelo conjunto Rádio Táxi.
Porém, o título definitivo – Pão-Pão Beijo-Beijo, um jogo de palavras com a expressão “pão-pão queijo-queijo” – foi uma imposição de Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então diretor artístico e de operações da Globo), de acordo com depoimento de Walther Negrão a Flávio Ricco e José Armando Vannucci para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”:
“Só porque uma amiga da mulher dele vendia sanduíche na praia e a abertura mostraria isso!”
Sanduíche na abertura
O sanduíche natural, um dos símbolos da geração saúde da década de 1980, era de fato o elemento principal da abertura. E também do logotipo da novela, em que dois corações formam um sanduíche.
Curioso que, na trama de Pão-Pão Beijo-Beijo, não havia nada relacionado a sanduíches naturais, mas havia cantinas, logo, culinária italiana. A abertura exibia ingredientes no preparo de um sanduíche natural, que, ao final, era oferecido a uma bela moça de biquíni na praia – como queria Boni.
AQUI tem tudo sobre Pão-Pão Beijo-Beijo: trama, elenco completo, personagens, trilha sonora e mais curiosidades.